Como ficam seus investimentos com a manutenção da Selic

Cenário atual traz oportunidades de investimentos tanto na renda fixa quando na variável
Bolsa segue barata, mas é preciso cautela

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano na reunião encerrada na quarta-feira (19). Com isso, encerra-se, pelo menos por hora, o ciclo de redução de juros iniciado em agosto passado. Se antes a expectativa era de que a taxa básica terminasse 2024 em um dígito, o que fazer com seus investimentos nesse novo cenário? O mercado já esperava amplamente a manutenção dos juros e muito por conta disso, os ativos de renda variável sofreram nas últimas semanas. Outro ponto que pesou sobre os preços de ações foram as preocupações com o resultado fiscal do governo federal. "Esses fatores têm impactado as empresas mais expostas ao mercado interno ou mais sensíveis aos juros. Setores como varejo, imobiliário e serviços têm sido particularmente afetados. Entretanto, muito desse cenário já está precificado no mercado de ações", explica Isabel Lemos, gestora de renda variável do Fator.

O pessimismo também teve impactos no mercado de renda fixa, que passou a esperar menos cortes da Selic nesse ano (e até mesmo uma retomada do ciclo de elevação). Com isso, surgiram opções de títulos prefixados ou indexados à inflação pagando prêmios mais elevados do que antes. "Isso nos faz questionar se o mercado agora não está pesando muito a mão para um pessimismo", argumenta Caio Schettino, head de alocações da Criteria. Na avaliação dele, isso pode representar uma boa oportunidade de acrescentar mais risco às carteiras, seja na renda fixa ou na variável. Schettino inclusive avalia que o mercado brasileiro colocou peso demais no fato de a decisão ser ou não unânime entre os membros do colegiado. "Acompanho bancos centrais mundo afora, e é raríssimo você observar votos unânimes. Inclusive, é muito comum ver dirigentes do Banco Central americano falando coisas completamente contrárias no mesmo dia", comenta.

Renda fixa: prefixados e indexados à inflação ganham espaço
No cenário atual, os títulos de renda fixa que têm alguma taxa prefixada – seja os prefixados puros ou aqueles que corrigem a variação da inflação e têm mais uma taxa prefixada – estão ganhando destaque. "Hoje, você encontra títulos de renda fixa de longo prazo pagando IPCA+7% ao ano, de empresas boas. O Tesouro está pagando IPCA+6,4%", enumera Schettino, que afirma não ter visto taxas assim há anos. "Acho que a renda fixa pode ser uma alternativa para aumentar o risco nas carteiras", opina. Segundo ele, os prefixados de vencimento mais curto têm chamado a atenção. "Na renda fixa, voltamos a ver CDBs pagando 14% ao ano. Então a gente voltou a olhar esses prés de curto prazo, é onde a gente acha que está o erro do mercado", sentencia. Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, concorda que há oportunidades em alguns vencimentos prefixados, mas diz que a casa tem aplicado também em renda fixa pós-fixada, atrelada à Selic ou ao CDI, para prazos mais curtos. Já para prazos perto de cinco anos, ele destaca os títulos indexados à inflação. "Temos oportunidades boas de nível de juros reais", garante. Sharon Halpern, sócia e private banker da Blackbird Investimentos, também vê esse tipo de ativo com potencial atualmente. "A gente entrou de forma um pouco mais tática nos ativos ligados à inflação, pois eles estão com taxas muito atrativas", explica.

FIIs são oportunidade para os moderados
"Para um investidor mais moderado, os fundos imobiliários estão dando uma belíssima janela de entrada e têm menos volatilidade por conta do dividendo que eles oferecem", aconselha o head de alocações da Criteria. Segundo Vieira, da Arton, alguns FIIs não tiveram problemas de vacância e nem mudanças em seu portfólio, mas tiveram suas cotas desvalorizadas puramente por causa do cenário macro. "Mas um prédio na Faria Lima não se desvalorizou 10% porque a NTN-B [Tesouro IPCA+] abriu", comenta. Isso, segundo ele, se traduz em uma oportunidade de comprar as cotas a um preço abaixo do que valem e que têm perspectivas de recuperação.

Bolsa segue barata, mas é preciso cautela
Segundo Isabel Lemos, do Fator, nesse contexto de juros mais elevados, "no mercado de renda variável, tem havido uma busca por ativos defensivos, exportadoras, empresas com fluxos de caixa previsíveis e ativos mais líquidos". Para quem aceita tomar um nível de risco mais elevado e mira o longo prazo, entretanto, ela informa que há outras companhias com maior potencial de crescimento. "Qualquer melhoria na percepção de risco Brasil fará com que empresas sensíveis às taxas de juros ou taxas de desconto se valorizem significativamente", argumenta. Caio Schettino, da Criteria, destaca que, em diferentes métricas, a bolsa de valores está barata. "A gente volta a ver múltiplos [que vimos na] pandemia, o índice de relatividade e o índice de força relativa mostram que há mais vendedores do que compradores no Brasil", afirma. Ele também cita a proporção entre opções de compra e de venda [call e put] na B3, que indica que atualmente há mais investidores comprando opções de venda [apostando na queda das ações] do que comprando opções de compra [arriscando na alta].

"Os sinais estão claros, o mercado está sobrevendido [significa que um ativo passou por um movimento de desvalorização intenso ou prolongado e está próximo de reverter, ou seja, iniciar um movimento de alta]", afirma Schettino. "A gente não tem bola de cristal, mas acho que vai ter um rali considerável no Brasil ainda nesse ano. Mas quanto ao timing, não sei dizer quando vai acontecer", completa. Ele ressalta, entretanto, a necessidade de ter posições em dólar para contrabalancear o risco de bolsa nesse momento. "A gente é convicto na valorização do dólar no longuíssimo prazo. Então acho que há uma proteção necessária para o cliente nessas horas também", recomenda. Vieira, por outro lado, comenta que a Arton tem sido "seletiva na escolha" e preferido alocações em ações de empresas maiores e com grande participação no Ibovespa. Segundo ele, são esses papéis que podem se valorizar mais rápido do que os demais se o fluxo de investimento do exterior voltar a fluir em direção ao Brasil. Vale lembrar que a cautela e atenção aos movimentos seguem importantes. "O mercado é altamente dinâmico e pode reagir rapidamente tanto a pioras quanto a melhoras de cenário. No momento, enfrentamos incertezas locais e externas; uma redução dessas incertezas poderia resultar em uma significativa recuperação dos ativos de renda variável, dada a atual assimetria de preços", lembra Isabel.

Com Redação da B3

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Sexta, 18 Outubro 2024

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