Caríssimo Presidente, faça um favor ao vinho nacional

Tenho um amigo que – vez ou outra – gosta de publicar suas cartas abertas. Esse humilde blogueiro, jornalista e Sommelier resolveu usar a mesma estratégia. Faço isso apenas por ser um defensor do mundo vinícola e acreditar que essa incrível bebida tr...
Caríssimo Presidente, faça um favor ao vinho nacional

Tenho um amigo que – vez ou outra – gosta de publicar suas cartas abertas. Esse humilde blogueiro, jornalista e Sommelier resolveu usar a mesma estratégia. Faço isso apenas por ser um defensor do mundo vinícola e acreditar que essa incrível bebida transforma vidas, aproxima pessoas, revigora e faz com que respeitemos todo e qualquer tipo de cultura. Eis a missiva – ou melhor, o bilhete, afinal, o bom comunicador ao menos tenta condensar o recado em poucas frases. 

"Caríssimo Presidente,

Peço que nos próximos dias o Senhor faça um favor ao vinho nacional: baixe um decreto determinando que a bebida se torne alimento e transforme a vida de todos os brasileiros. O nefasto gole de quase 60% de impostos por garrafa tem sufocado o setor vinícola de Norte a Sul há décadas. Com a inserção do vinho na cesta básica de todo e qualquer consumidor, transformaremos essa grande Nação. Afinal, como a Europa descobriu há muitíssimo tempo, a bebida é alimento por aquelas terras. 

Cá entre nós, o Rio Grande do Sul, maior produtor de vinhos finos no Brasil, poderia ter encampado a vanguarda desse pleito há mais de uma década, mas não fomos corajosos o suficiente para defender essa bandeira que poderia ter sido uma mola propulsora para o segmento. Fechado esse parêntese tão comezinho a nosso respeito, o senhor pode nos dar a satisfação de voltarmos a estar no centro das atenções do país – e quem sabe de todo o Planeta. Caso o Senhor esteja presente na abertura oficial da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), datada para o próximo 14 de junho em Bento Gonçalves – a Capital Nacional do Vinho (tal qual costumamos fazer em algumas solenidades por aqui a comemoração iniciará na véspera) –, baixe um decreto no dia anterior ou na data específica determinando que a bebida se torne alimento tal qual já é na Europa há muito tempo. Com isso – e com a consequente aprovação do Congresso Nacional alguns meses depois –, teremos um novo país, pois os brasileiros passarão a viver muito melhor. 

Afinal, como alguns médicos gostam de defender aos quatro cantos, a bebida, sempre tomada com moderação, faz bem à saúde. Na Rússia, inclusive, há campanhas que incentivam o hábito do vinho de modo a combater o alcoolismo, decorrência do costume da ingestão de vodka. Além do mais, vinho faz com que a gente se interesse por ter hábitos saudáveis. E conhecer outras culturas. Por consequência, respeitar as pessoas, independentemente da condução social ou crenças. Vinho também faz a roda da economia girar. Saiba, Presidente, que em tempos que as safras de vinho têm altíssima qualidade, a cadeia vinícola na Itália pode ser responsável por até 14% do PIB! E só em solo gaúcho são quase 600 estabelecimentos que fabricam a bebida. Santa Catarina também está fazendo excelente produção. E o Paraná, mais especificamente na região metropolitana de Curitiba, além do Oeste, tem acumulado progressos. Sem contar o que se faz na região Nordeste, em Minas e, pasme, até aí nos arredores de Brasília. 

Caríssimo, nesses anos todos que acompanho o setor, nunca tinha visto um Presidente afirmar que estivesse preocupado com a indústria do vinho do Sul, como Paulo Guedes relatou em 14 de maio. Ele contou que o Senhor estava angustiado com a indústria desta região que produz vinho – e mais especificamente com as relações envolvendo o Brasil, a Argentina e a União Europeia. Espero que logo tenhamos alvissareiras notícias para os vitivinicultores, ainda que exista quem defenda que salvaguardas para qualquer indústria sejam mortais. No entanto, para um setor que sempre esteve à margem da economia nacional, não se trata de um privilégio, mas uma questão de sobrevivência."

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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