A vida de uma organização exemplar

O trecho a seguir faz parte do livro “The Mind of the Tops – Paraná”, publicado pelo Instituto AMANHÃ, com apoio técnico da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).  Município desde 1947, Campo Mourão foi durante anos...
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O trecho a seguir faz parte do livro “The Mind of the Tops – Paraná”, publicado pelo Instituto AMANHÃ, com apoio técnico da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 

Município desde 1947, Campo Mourão foi durante anos lembrado pela natureza pobre da vegetação remanescente da derrubada de seus pinheiros e outras árvores madeireiras. “Era a terra dos três S: samambaia, sapé e saúva”, lembra o engenheiro agrônomo José Aroldo Gallassini, que chegou a esse ponto do noroeste paranaense em maio de 1968, apenas seis meses depois de formado em Curitiba. Extensionista da Acarpa (atual Emater), sua missão era colher dados para um plano oficial de assistência técnica aos agricultores estabelecidos no entorno do Paralelo 24, bem onde estudiosos da Universidade de São Paulo haviam acabado de identificar manchas de cerrado, o bioma que domina o Centro-Oeste e parte do Nordeste. Até aquele momento, os solos ácidos do cerrado ainda eram considerados impróprios para a agricultura.  

Esgotado o ciclo da madeira, Campo Mourão ensaiava uma exploração agrícola de baixo nível técnico, baseada no uso intensivo da enxada. Nos serviços mais pesados, predominava a tração animal. A mecanização estava restrita a apenas cinco tratores. Quase sem recursos, uma maioria de pequenos agricultores vindos de várias partes do Brasil lutava para produzir arroz, feijão, café, algodão, milho, batata e mandioca. Os rendimentos eram medíocres. Apenas 25% dos produtores tomavam empréstimos de custeio no Banco do Brasil, mas quase ninguém conhecia técnicas de correção de solos, como a aplicação de calcário ou o plantio de leguminosas.  

Se produzir nessas condições era um desafio, mais difícil ainda era vender as colheitas sem risco de levar calote. Para não ficar na mão dos atravessadores do mercado de grãos, cujos caminhões levantavam poeira disputando safras crescentes, a salvação da lavoura de Campo Mourão foi a organização de uma cooperativa capaz de fazer compras e vendas comunitárias antes e depois de cada ciclo agrícola. Ninguém por ali se esquecia do fracasso de alguns intentos cooperativos anteriores, mas agora havia o apoio dos técnicos da Acarpa.

No dia 28 de novembro de 1970, animados pela promessa do prefeito Horácio Amaral de que daria o terreno para a futura sede, 79 agricultores criaram a Cooperativa Agropecuária Mouraoense (Coamo). O primeiro a assinar a ata de fundação foi o engenheiro agrônomo e sitiante (36 hectares) Lourenço Tenório Cavalcanti, colega de Aroldo Gallassini na turma de 1967 da Agronomia de Curitiba. O madeireiro Fioravante Ferri, o 28º da lista, aceitou ser o primeiro presidente, desde que a gerência -geral fosse ocupada pelo engenheiro Gallassini, cuja função pública o impedia de assumir cargos na iniciativa privada. O impasse foi resolvido sem delongas: embora envolvesse um grande risco profissional, o extensionista da Acarpa trocou o emprego público pelo cargo de gerente na cooperativa nascente. Nos primeiros anos, por não possuir terras nem tocar lavouras, Gallassini foi apenas funcionário, mas graças a seu rigor técnico-profissional acabou se tornando uma espécie de lastro moral da Coamo. 

“Organização invejável”
É comum que o sucesso de muitas cooperativas resulte da dedicação de um ou dois dirigentes carismáticos, mas o caso de Campo Mourão não tem paralelo na história do Brasil. Tanto que, quando o presidente Ferri faleceu em 1974, pouco antes do término do seu mandato, as bases não demoraram a escolher o substituto. Presidente a partir de janeiro de 1975, Gallassini reelegeu-se regularmente a cada quatro anos. Apenas uma vez, em 1992, enfrentou um movimento de oposição, que venceu de maneira esmagadora por 9 mil x 2 mil votos. A dissidência era encabeçada por um político mais tarde desligado da cooperativa. 

Por aí se vê que o sucesso do cooperativismo em Campo Mourão não foi apenas uma oportuna parceria entre técnicos e produtores, mas o fruto maduro da confiança mútua entre dezenas de desbravadores do sertão paranaense. Em Campo Mourão é comum ouvir dizer que a história regional se divide em AC (Antes da Coamo) e DC (Depois da Coamo). Por sua vez, o durão Gallassini luta incessantemente para que não se perca a “cultura Coamo”, configurada por meia dúzia de práticas reconhecidas dentro e fora da empresa como responsáveis pelo seu sucesso: 

• Controle da conta-corrente dos associados
• Redução sistemática dos custos dos insumos
• Aumento dos rendimentos agrícolas via tecnologia
• Política de capitalização de 50% das sobras líquidas
• Treinamento do pessoal com ênfase na eficiência e na lisura
• Transparência da diretoria, garantindo a harmonia com as bases

“Ninguém pode negar que a Coamo é uma organização invejável”, escreveu José Aroldo Gallassini no prefácio do livro sobre os 40 anos da cooperativa, editado em 2010 por Eloy Olindo Setti, veterano jornalista da área agrícola. Em 240 páginas coloridas, a obra retrata fielmente a história da atual Coamo Agroindustrial Cooperativa, cuja memória está bem organizada em boletins, jornais e em seu site.  

Uma das peculiariedades da Coamo é a transmissão de programas radiofônicos diários por dezenas de emissoras que levam informações técnicas aos associados.

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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