Okinawa, terra da longevidade

Essa semana levei um cliente para jantar no Deigo, no bairro da Liberdade, em São Paulo. O que caracteriza esse restaurante japonês é que ele propõe culinária de Okinawa. Não faz muito tempo, a ilha ficou em evidência porque o ditador norte-coreano a...
Okinawa, terra da longevidade

Essa semana levei um cliente para jantar no Deigo, no bairro da Liberdade, em São Paulo. O que caracteriza esse restaurante japonês é que ele propõe culinária de Okinawa. Não faz muito tempo, a ilha ficou em evidência porque o ditador norte-coreano ameaçou disparar suas temíveis bombas sobre bases americanas acantonadas lá. Mas a noite não estava para geopolítica e preferimos nos concentrar em outros temas. E como a cultura de meu cliente é vasta, eis que ele discorreu sobre uma das características mais marcantes da região. Pois bem, os ilhéus de Okinawa estão entre os povos mais longevos da Terra. Embora o receituário da longevidade dificilmente comporte coisas que já não saibamos, achei interessante o que ele disse e resolvi resumi-lo hoje aqui para vocês. 

Segundo ele, os centenários de Okinawa cultivam o que chamam de ikigai. Isso significa um propósito de vida que os leva a se levantar da cama pela manhã porque se sentem úteis a seus semelhantes. A maioria deles é também vegetariana e a dieta é muito pouco calórica. Carnes são servidas só em ocasiões especiais. Come-se muita soja fermentada e tofu. E o melão goya amargo é rico em antioxidantes. Quase todos os centenários da ilha cultivam sua própria horta. Não somente elas lhes dão legumes frescos como também trazem paz de espírito. Ademais, os movimentos físicos próprios da jardinagem combinam excelente repertório para o bem das articulações. Todos eles gostam de se expor ao sol por 20 minutos diariamente, o que, comprovadamente, é bom para a vitamina D. 

Muito interessante observar, segundo ele, é que como dorme-se em tatames e os interiores das casas são modestamente decorados, os velhos se movimentam com equilíbrio, e isso os protege de quedas que, frequentemente, podem ser fatais nessa idade. Recomenda-se que os anciãos tentem ser companhia leve para os jovens, o que faz com que estes os frequentem e os cultivem, evitando o isolamento do idoso rabugento. Já íamos para a última rodada de saquê quando ele citou a importância do moai. Em que consiste isso? Em fazer, ao longo da vida, uma rede de apoio moral e financeiro, para caso de necessidade. Como poderia acontecer em qualquer lugar, a redução das incertezas na velhice elimina o chamado estresse defensivo, ditado pelo medo. E assim eles cravam a cada ano em maior número a faixa dos três dígitos. 

Gostei da noitada. Além da boa comida, tivemos um dedo de prosa ilustrativo. Se não dá para seguir à risca todos esses mandamentos, uns dois bem que podem garantir a próxima década. Se me permitem acrescentar um palpite, embora ele não esteja explicitado nos protocolos de Okinawa, recomendo que você cultive pessoas que tenham efetivamente o que ensinar e que nos proporcionem momentos de qualidade. Nada é tão gratificante quanto ouvir os que sabem contar uma boa história e se empenham em elevar ao estado da arte uma simples conversa. Foi o que aconteceu comigo depois da noite no Deigo. Chegando em casa, dormi sonhando com Okinawa e vou incluir a ilha na minha próxima ida ao Japão. Quem sabe não encontre um supletivo de longevidade que me permita recuperar o tempo perdido.

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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