Indústria prevê recuperação lenta após o fim da pandemia

Setor de alimentos mantém nível de produção, mas outros estão parados
Não é possível saber quando a indústria poderá voltar à normalidade, porque o país é muito grande e cada estado tem um comportamento diferente em relação ao combate ao novo coronavirus. A exceção é o Sul, que mostrou um comportamento diferenciado do resto do Brasil

A indústria acredita que os efeitos da pandemia serão maiores enquanto durar o distanciamento social. Pesquisas recentes da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) revelam que os empresários ainda estão pessimistas para os próximos seis meses. "E isso é devido, principalmente, à falta de perspectiva do fim do lockdown (confinamento ou bloqueio total). Enquanto os empresários não têm um horizonte de volta à normalidade, isso acaba afetando diretamente as expectativas", revela o gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart. Ele destaca que a grande dificuldade é fazer com que as medidas de socorro anunciadas pelo governo federal cheguem na ponta aos empresários, sobretudo os de pequeno porte, que são os tomadores de crédito final.

Na avaliação de Goulart, alguns setores estão conseguindo fazer uma reconversão industrial, enquanto outros estão sentindo mais fortemente os reflexos da pandemia. No lado da oferta, um dos setores mais prejudicados é o automotivo, que não tem conseguido importar insumos para fazer sua produção. No lado dos alimentos, as indústrias têm mantido o nível de produção. Quando essa fase passar, Goulart indicou que todos os setores vão sentir o problema de demanda, ou seja, a sociedade interrompendo o seu consumo. "Isso vai afetar a economia de maneira linear", com reflexo também no varejo, no médio prazo.

Para o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, a indústria terá de buscar negócios e colocar sua produção, "com todas as restrições que ainda vão ser impostas pelo período de transição". Ele acredita que devido às imposições sanitárias e ao afastamento exigido entre as pessoas, poderá haver redução de funcionários ou, talvez, trabalho em dois turnos. No momento, vão continuar tendo destaque os setores de abastecimento primário, como alimentos, remédios, limpeza. "Esses vão continuar com uma intensidade até maior". Já os produtos considerados supérfluos devem ter a produção e a procura adiadas. "Nós vamos ter um ambiente de comprador diferente".

Abijaodi não estima quando a indústria nacional poderá voltar à normalidade, porque o país é muito grande e cada estado tem um comportamento diferente em relação ao combate ao novo coronavirus. Destacou, no entanto, que a exceção é a região Sul, que mostrou um comportamento diferenciado do resto do Brasil.

Importação
O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), Ennio Crispino, explica que desde março o nível de atividade da indústria caiu de forma sensível, em especial no que se refere à indústria automobilística. "Talvez o setor metalmecânico tenha sido o mais atingido". O setor envolve não só as montadoras, mas as cadeias de fornecedores, e isso trouxe uma paralisação na expectativa de novos investimentos, no tocante a máquinas e equipamentos importados. Crispino informa que esses investimentos não foram cancelados, mas adiados e só serão retomados quando a atividade voltar a um nível próximo do normal, coisa que ele aposta que dificilmente ocorrerá antes de meados do segundo semestre. Avaliou que a questão do câmbio é desfavorável à moeda brasileira em relação ao dólar e ao euro. "O empresário brasileiro terá que se acostumar com outra realidade do câmbio", apontou.

Segundo ele, o que poderá ser benéfico para o Brasil é que tudo aqui está muito mais barato pensando em dólar, como mão de obra e o chamado custo Brasil. O que está mais caro é trazer de fora matéria-prima, insumos, máquinas e equipamentos. "Esse é um preço que se terá que pagar quando as coisas se estabilizarem. O grande e maior benefício que nós enxergamos é que voltará a ser muito mais barato fabricar no Brasil". Crispino salienta ainda que, a curto prazo, as notícias são ruins, mas a médio e longo prazos, a partir do segundo semestre deste ano e no decorrer de 2021, deverá haver grande procura pelo investimento em máquinas e equipamentos nacionais e importados. "A indústria está defasada tecnologicamente. Para voltar a fabricar no Brasil precisa se equipar". Isso será benéfico, particularmente, para a exportação de bens manufaturados. "Porque será mais barato do que em outras partes do mundo. É nisso que a gente acredita. Portanto, há uma expectativa boa para os meses à frente", conclui.

Com Agência Brasil 

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Sexta, 13 Dezembro 2024

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