Um samurai tecnológico com sotaque brasileiro

O investimento da catarinense Embraco em inovação foi um grande atrativo para o conglomerado japonês Nidec adquirir a marca de compressores da Whirlpool
Agora, cada área de negócio terá um time dedicado a P&D. Além disso, a inovação e a engenharia avançada serão setores que cruzarão toda a estrutura da companhia

A aquisição de uma empresa envolve vários fatores. Especialistas em fusões e aquisições costumam afirmar que um dos maiores ativos é a própria marca, independentemente do ramo de atuação da companhia. Porém, no caso da Embraco, o reconhecido investimento da grife de compressores em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento fez toda a diferença no negócio fechado pela Whirlpool, detentora da marca, com a japonesa Nidec. Também pudera: a companhia catarinense investe anualmente, independentemente do cenário econômico, de 3% a 4% da receita líquida em P&D. "Desde o início da transação, o reconhecimento mundial da marca Embraco no setor de compressores de refrigeração e a competência de nosso time de pesquisa e desenvolvimento foram pontos muito citados", confidencia Guilherme Almeida, diretor de planejamento estratégico da unidade brasileira sediada em Joinville. Com o negócio, a companhia adotou o nome de Nidec Global Appliance e a Embraco se tornou a marca da linha dos compressores.

Fundada em 1973 e com sede no Japão, a Nidec é líder global na fabricação de motores de precisão para uma variedade de aplicações. Com mais de 300 subsidiárias e afiliadas e cerca de 150 mil funcionários em todo o mundo, a companhia também fornece soluções em motores e componentes de todos os tamanhos, desde micro a grandes dimensões, peças presentes em praticamente tudo que gira e se move. Atualmente, a companhia tem mais de 50 laboratórios distribuídos em 10 plantas. A equipe continuará a mesma no QG catarinense, mas a cultura da inovação implementada pela Embraco deve se expandir por todas as plantas da Nidec. O novo controlador, porém, baniu a área específica de novos negócios criada pela Embraco. Mas todo conhecimento gerado foi incorporado ao desenvolvimento de novas soluções comerciais nas diferentes células de P&D da companhia.

"Estamos unindo os pontos fortes para construir um planejamento que vise cada vez mais à inovação e à tecnologia. Estamos realizando um estudo de cultura para identificar as principais características e a partir daí iniciar um trabalho a longo prazo", conta Cláudio Pellegrini, diretor de engenharia avançada da hoje Nidec. Agora, cada área de negócio terá um time dedicado de P&D. Além disso, a inovação e a engenharia avançada serão setores que cruzarão toda a estrutura da companhia. "Neste momento, estamos revisando nossos portfólios, identificando onde poderemos realizar extensões ou gerar inovações", detalha Pellegrini. Os funcionários não se envolverão apenas com a fabricação e comercialização de soluções de refrigeração, mas também de motores para lavadoras e secadoras de roupa e máquinas de lavar louça, por exemplo.

Atualmente, a Embraco utiliza a metodologia do funil de ideias, sempre considerando o objetivo do projeto, sua complexidade e – muito importante – a capacidade de gerar retorno à empresa. Hoje, os novos produtos lançados pela companhia correspondem a até 20% do faturamento, dependendo do tipo de tecnologia. Além de fazer uma pesquisa de mercado, o time de P&D também investiga se a tecnologia que será empregada no produto está disponível. Após essa análise, um grupo técnico revisa periodicamente a execução do projeto, sempre medindo os riscos. Para esse processo, a equipe utiliza os conceitos de Product Life Management, o PLM (gerenciamento completo do ciclo de vida de um produto, desde a sua concepção, passando pelo desenvolvimento e manufatura, até a sua entrada em serviço operacional). Também lança mão do Six Sigma, conjunto de práticas aplicadas para eliminar defeitos, reduzindo a variação dos processos. "Um processo que antes era linear e sequencial tornou-se mais dinâmico, com todas as áreas trabalhando juntas em tecnologia e design de produto. A sinergia e o envolvimento entre as equipes aumentaram significativamente", comemora Pellegrini. A implementação do design para o Six Sigma na metodologia, inclusive, trouxe maior robustez ao desenvolvimento dos novos produtos, com análises e mapeamentos mais assertivos dos riscos e problemas em potencial. Com o novo fluxo, as equipes de marketing, fornecedores, produtos e processos estão reunidas desde o início do projeto, definindo o conceito da novidade, requisitos e alternativas, de modo a garantir a obtenção do equipamento com economia de tempo e de custo.

Novos produtos lançados pela companhia correspondem a até 20% do faturamento

Na Nidec, basicamente todas as inovações e mudanças nos produtos são fruto do feedback dos clientes, que é realizado de forma integrada entre a equipe de vendas, marketing, assistência técnica e engenharia. Um dos processos formais implementados é o Global Product Leadership, um workshop que envolve essas áreas em todas as regiões de atuação da empresa, com o objetivo de mapear necessidades e oportunidades de mercado. "Muito mais do que desenvolver produtos eficientes, queremos proporcionar mais benefícios aos nossos parceiros, gerando redução de custos e mais eficiência", garante Almeida.

Ainda mais leve
O Plug n' Cool é um dos exemplos de produtos criados a partir dessas pesquisas. Ele foi desenvolvido com o auxílio de clientes de refrigeração para equipamentos de supermercados e lojas de conveniências. O equipamento é uma unidade selada que tem como benefício permitir uma instalação 70% mais rápida do que é possível em modelos convencionais, além de trazer economia de energia para o estabelecimento e mais ganho de espaço interno da loja, já que não utiliza casa de máquinas. Equipados com refrigerante natural R290, o produto também contribui para a eficiência energética. Já para o mercado europeu, a Embraco lançou o Bioma, uma solução feita sob medida para áreas urbanas na refrigeração de câmaras frias, que alcança mais de 50% na redução de ruído se comparado com modelos similares do mercado. Outro projeto de sucesso foi a plataforma NJX, o primeiro compressor de 2HP do mercado com apenas um pistão, o que possibilita a redução de tamanho e peso do produto e contribui ainda para atenuar o ruído em equipamentos comerciais como expositores, máquinas de gelo e câmaras frias. A família de compressores FMF oferece uma opção que é um sistema de controle diferenciado, o Smart Drop-in. O software ajusta a velocidade do equipamento em situações de operações reais para o segmento comercial leve, como o degelo a gás quente ou resistência elétrica, abertura extensiva de porta e rápida recuperação de temperatura, sempre buscando um ponto adequado de consumo de energia.

A companhia também lançou uma unidade condensadora exclusiva que só é vendida no Brasil. Desenvolvida para câmaras frigoríficas, a Falcon garante eficiência em temperaturas extremas e resistência em situações críticas. Um diferencial dos modelos são os 48 tubos de cobre na formação de seu condensador para garantir desempenho e durabilidade nas temperaturas extremas dos ambientes comerciais e industriais. "Se pegarmos um modelo de compressor, como o EM para aplicação doméstica com fluido refrigerante natural, da Embraco, e sua evolução ao longo dos anos, veremos que uma das versões que o substitui hoje é 40% mais leve do que quando foi lançada sua primeira versão, e consome em torno de 75% a menos de energia. Considerando a redução significativa de consumo de um compressor, vemos o tamanho do impacto positivo da eficiência energética promovida pela Nidec, uma vez que temos uma capacidade produtiva anual de 37 milhões de compressores", exemplifica Pellegrini. Como dá para notar pelo volume de inovações, o braço catarinense da Nidec encravado no Sul pode gerar ainda muitas outras demonstrações do acerto dessa miscigenação de culturas inovadoras entre Brasil com o Japão.

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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