Santa Catarina adota modelo chinês para conter coronavírus
O governo catarinense vem adotando uma série de medidas para tentar frear a proliferação do Covid-19. Nos últimos dias, foram anunciadas providências como a suspensão de consultas ambulatoriais, exames eletivos e atendimentos rotineiros na rede pública; operações bancárias apenas por meio de caixas eletrônicos e de internet banking; e, mais polêmica, a suspensão de transportes coletivos por um período de sete dias, bem como a proibição da entrada em Santa Catarina de veículos de transporte, públicos ou privados, de outros estados ou países.
Em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira (20), o governador Carlos Moisés (na foto, à esquerda) ressaltou a importância de estabelecer métodos restritivos desde o início das ocorrências de coronavírus no estado. "A China só conseguiu combater de forma eficiente a pandemia quando as pessoas ficaram em casa. Temos de pegar esse modelo precocemente e aplicar aqui", defendeu. Medidas que podem, inclusive, aumentar, pois até mesmo a implementação de um toque de recolher está sendo considerada, algo que, segundo Moisés, é "auto executável". "É uma questão de consideração. A partir do desenvolvimento do desastre, o governo começa a tomar medidas impositivas, não precisamos de autorização. O enfrentamento deve ser feito assim. Em desastres, a gente age unilateralmente. Cabe à população, à iniciativa privada e aos outros órgãos públicos acatarem essas determinações", afirmou na coletiva acompanhada pelo Portal AMANHÃ. A fiscalização de quem está aderindo ou não às novas regras também vem sendo intensiva. Até esta quinta-feira (19), mais de 4 mil abordagens haviam sido feitas no estado, somando cerca de 40 fechamentos de locais.
A complexidade do setor da indústria, no entanto, acaba freando algumas das iniciativas mais radicais que o governo pretenderia colocar em prática. Para Moisés, não é o momento de incluir todas as empresas na quarentena, pois mesmo as consideradas "não-essenciais" produzem insumos e matérias-primas que servem de subsídios para outras dentro da cadeia produtiva. O transporte de cargas, por exemplo, evita o desabastecimento de supermercados – que, como ele ressalta, não acontecerá, não sendo necessário o estoque de mantimentos. Em vez disso, o governador defende que as empresas se adaptem. "Elas têm condições de diminuir o número de trabalhadores e oferecer deslocamento próprio e sanitário. No transporte de cargas, é possível fazê-lo de forma segura, tomando-se as medidas adequadas tanto na assepsia pessoal quanto do que é transportado. Também estamos discutindo com representantes do setor executivo para estabelecer essa forma normativa claramente, de modo que a indústria faça essa adaptação natural", estimulou.
Apesar da tendência mundial de contenção da proliferação, o presidente Jair Bolsonaro criticou, na manhã desta sexta-feira (20), as restrições adotadas. "A economia está parando, e depois vão querer jogar a responsabilidade em mim", afirmou. Para ele, medidas extremas como fechar aeroportos, rodovias e shoppings para impedir a circulação de pessoas "não competem aos governadores". Moisés ainda não tinha conhecimento da declaração, mas, mesmo ao tomar ciência dela, deu provas de que as medidas são corretas. "Pesquisas já revelaram que, em outros países, o transporte coletivo fez a curva de contaminação se acentuar muito. Entendemos que essa intervenção [de suspender o transporte público por sete dias] é absolutamente cabível. Politicamente, não é simples. Já recebi ligações da indústria e do sistema financeiro. A tendência é que o rigor das medidas acompanhe o crescimento dos números, mas já começamos de maneira rigorosa para que, quando a curva começar a se equilibrar, possamos reavaliá-las", defendeu. Para o governador de Santa Catarina, a solução é tomar decisões técnicas, respeitando o compromisso com os catarinenses. "Tenho certeza que esse plano vem na intensidade adequada que o momento exige", finalizou.
Moisés também anunciou a criação de um fundo com recursos que serão utilizados no combate ao novo coronavírus. O fundo receberá a transferência de R$ 58 milhões dos demais Poderes, sendo R$ 20 milhões da Assembleia Legislativa, R$ 20 milhões do Tribunal de Contas do Estado, R$ 10 milhões do Tribunal de Justiça e R$ 8 milhões do Ministério Público. Empresas também poderão fazer doações por meio de isenções fiscais. O fundo poderá receber ainda recursos de pessoas físicas.
*Com reportagem de Eduarda Pereira
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