Quando o negócio é um tabu

Anos atrás, um site especializado em encontros extraconjugais encontrou dificuldade em veicular seus anúncios. O motivo? Emissoras de TV, times de futebol, escolas de samba e até responsáveis pela publicidade em elevadores (!) indignaram-se com o ser...
Quando o negócio é um tabu

Anos atrás, um site especializado em encontros extraconjugais encontrou dificuldade em veicular seus anúncios. O motivo? Emissoras de TV, times de futebol, escolas de samba e até responsáveis pela publicidade em elevadores (!) indignaram-se com o serviço oferecido – ou simplesmente temeram a reação do público, preferindo não arriscar sua reputação em troca de alguns dólares (relembre aqui e aqui). Embora o assunto agora não envolva a propaganda, outro produto enfrenta uma reação típica dos negócios-tabu: a maconha.

No Uruguai, por exemplo, produtores e vendedores da erva tiveram suas contas correntes ameaçadas de cancelamento por alguns bancos, como Santander e Itaú (veja aqui). Na Califórnia, uma companhia especializada em produzir derivados medicinais da planta esforça-se para levantar recursos junto a bancos e investidores, além de tentar convencer políticos e agências nacionais de saúde dos benefícios de seus produtos (leia detalhes aqui).  Esforço ao qual se soma uma universidade do Michigan, que abrirá uma graduação em estudos de plantas medicinais. Com “a normalização do estudo da maconha”, espera-se que a instituição acadêmica ajude a “erradicar os preconceitos que existem em relação à planta” (leia aqui). 

Estranho?

Não exatamente. Negócios não ocorrem em um vácuo. Estão inseridos em um contexto sociocultural que, por razões diversas, empresta atributos positivos a certas práticas e negativos a outras. Toda vez que alguma novidade chega ao mercado, precisa de uma espécie de autorização informal da sociedade para funcionar e prosperar. Não seria diferente com uma substância que apenas recentemente foi tirada das sombras da ilegalidade. Aos pioneiros dessa tentativa são direcionadas as flechadas, o que não quer dizer que todos os que se aventurarem neste terreno acabarão feridos de morte. 

Afinal, se a história ensina algo é que pouca coisa resiste à força do dinheiro. Como lembra o professor Don Slater, ao se referir à sociedade de consumo, a característica fundamental do mercado é “abster-se do juízo moral: tudo tem seu preço quando os indivíduos expressam uma demanda” (“Consumo, Cultura e Modernidade”, Nobel Editora, p. 52). Dessa maneira, os bancos podem até resistir no início, mas quando a cannabis se mostrar um negócio de vulto e começar a perder o estigma que a cerca, farmácias e produtores poderão abrir contas onde quiserem – não sem antes serem cortejados pelos emissários de diversas instituições financeiras, diga-se de passagem.

Além disso, o tempo se encarrega de mostrar quão abrangente pode ser o raio de influência de uma atividade econômica, o que contribui para angariar aliados improváveis. É o caso dos fast foods. Maconha dá fome, dizem os que já a experimentaram. E na hora que o estômago ronca, são as lanchonetes os estabelecimentos mais próximos, rápidos e baratos. A consequência? O movimento nessas lojas pode aumentar justamente com a afluência dos usuários da cannabis, como flagra uma reportagem

 O que não deixa de ser irônico, aliás: diante de todas as substâncias que fazem parte da refeição típica de um fast food, será que a droga é mesmo o baseado? 

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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