Fronteiras: para onde ir?

Pouco antes de sair do Brasil, semana passada, um cliente institucional do Ceará me perguntou sobre o desdobramento de algumas estratégias internacionais que tem em mente. Pois, dado o momento brasileiro que, se é dramático por um lado, por outro sig...
Fronteiras: para onde ir?

Pouco antes de sair do Brasil, semana passada, um cliente institucional do Ceará me perguntou sobre o desdobramento de algumas estratégias internacionais que tem em mente. Pois, dado o momento brasileiro que, se é dramático por um lado, por outro significa oportunidade para investimento direto aqui, para que lado ele deveria se voltar em suas prospecções? Estados Unidos e Canadá? Europa? Ásia? Ou Oriente-Médio? É claro que a pergunta é demasiado genérica para comportar uma resposta só. Precisaríamos de outros elementos – setor, escala, maturidade do negócio, vantagens competitivas mais evidentes – para começarmos um bom debate. Mas certo é que atravessei o Atlântico com esse desafio. Ou seja, por onde começar uma comparação de opções, com base estritamente no perfil econômico e cultural dos investidores. Nesse contexto, que características têm esses parceiros? 

Falemos um pouco da alternativa que nos parece mais à mão que é a da América do Norte. Se é verdade que o Canadá tem um serviço centralizado e estruturado de triagem de oportunidades de transferência de tecnologia e investimento direto, e está sempre atento às que surgem, também é certo que a proximidade dos Estados Unidos o ofusca como estuário de alternativas múltiplas, diante do gigantismo do vizinho de baixo. Quanto a este, também é certo que parece imperar uma homogeneidade de critérios que torna a pescaria de um "road show" uma missão algo inglória. Para tanto, a perda de nosso grau de investimento nos torna temporariamente uma carta fora do baralho. A natureza da vida corporativa por lá consagra um modelo que não dá margem a aventuras que afrontem um manual de governança severo e, não raro, voltado para os resultados de curto prazo. 

Já na Ásia, os países são muitos, mas os atores que ocupam o proscênio das economias também se orientam por ritos que podem ser demorados, o que retarda o ponto de amadurecimento de qualquer namoro. No Japão e Coréia, é quase inexorável passar ao largo da orquestração das grandes corporações, as mais desenvoltas em cenários turbulentos. Na China, a mediação do Estado tem um papel importantíssimo e não é sem inquietação que eles acompanham os desdobramentos de nosso cenário sócio-político-econômico. Assim sendo, simplesmente não temos no momento uma interlocução de Estado que respalde o desembarque de uma pragmática delegação chinesa. A Índia conta com atores de feição mais próxima às corporações do Extremo-Oriente e, ademais, enfrenta desafios internos que lhe inibem o vetor de expansão.

Já no caso do Oriente-Médio, temos uma gama de interlocutores de forte viés financeiro, ancorada numa verdadeira casta de investidores globais, muito bem balizados por conselheiros profissionais, egressos da City. O que isso significa? Basicamente que meu cliente encontraria por lá os mesmos obstáculos com que depararia em Wall Street. Ou seja, não se encontrarão os visionários românticos de outros tempos que confundiriam a imagem idílica do país alvo – o Brasil, no caso – com a verdade crua dos fatos. Infelizmente. Isso significa que, em quaisquer cenários, com o desabamento de passarelas ou sem, se impõe que o Brasil faça um dever de casa rigoroso para que nosso empresariado se sinta em condições de eleger frentes de prospecção, como acontecia até uns anos atrás quando, mesmo com a casa de pernas para o ar, enganávamos bem.

Por fim, resta ver a Europa. Nesse continente, em cujos confins me encontro hoje, próximo à fronteira tríplice da Polônia, Ucrânia, Belarus e, por pouco, da Lituânia, creio que o corretor de negócios a serviço das empresas encontra interlocutores mais atentos à multiplicidade de eventos que concorrem para a formação da tempestade perfeita que vivemos. Portadores de uma imagem mais idealizada de nosso país, não raro com parentes espalhados por nosso enorme território, da Península Ibérica até o mundo eslavo encontraremos sempre quem se abstraia de dificuldades momentâneas e aponte no horizonte onde residem pontos de inflexão que nós mesmos temos dificuldades de enxergar, dada a poluição que nos embota os sentidos. Nesse contexto, será sempre reconfortante ouvir o que têm a dizer alemães, escandinavos, franceses, italianos, portugueses e espanhóis a respeito de nosso potencial. 

Vicejados pelos conflitos do século passado que banharam a Europa em sangue e no bojo de mercados maduros onde as oportunidades se esgotam rapidamente, acredito que nossas afinidades culturais com o continente de par com a visível recuperação das economias que tinham se ressentido mais diretamente dos acontecimentos de 2008, miríade de interlocutores europeus traduzem no momento nosso melhor espaço para atrair interessados a embarcar na nave Brasil. Sem obsessões pelo curto prazo e mais dados a elaborações complexas que deitem luz no longo prazo, a Europa é um bom alvo para quem busca sua bala de prata nos palcos desenvolvidos do mundo. É claro que alguns países latino-americanos não podem ser descartados – mormente Chile, México e Colômbia –, mas seria na Europa que eu concentraria o melhor de meus esforços nesse momento. Eis uma resposta simples, por certo incompleta, mas bem intencionada para um voo panorâmico.   

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Quinta, 28 Março 2024

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