Gigante mundial, raízes no Paraná
O case a seguir faz parte do livro “Paraná – Grandes Marcas”, publicado pelo Instituto AMANHÃ.
Tradicionalmente, o mercado de tecnologia em agricultura tem uma rotina de fusões e aquisições entre as principais empresas. Soluções adotadas em grande escala, em lavouras e obras de todo o mundo, acabam consolidando o setor em cada vez menos players – tendência que se acentuou nas últimas décadas de intensa globalização. Mesmo assim, chama atenção como uma operação do porte da New Holland Agriculture, que faz parte de um “guarda chuva” tão grande – caso da CNH Industrial –, mantém sua estreita relação com o Paraná.
Em paralelo à longa trajetória de disputas e sinergia entre as forças mundiais do setor, os caminhos que levaram uma gigante internacional a cravar raízes no estado paranaense também são extensos. A gênese remete ao gaúcho Ivo Sehn, produtor rural de Carazinho, no Rio Grande do Sul. Nos anos 1960, Sehn impressionou-se com a qualidade das colheitadeiras da marca Clayson, fabricadas pela companhia belga Sperry New Holland. Esta, por sua vez, foi formada por um grupo de investidores europeus que, ainda nos anos 1930, assumiram o controle da New Holland.
A New Holland original, no entanto, foi fundada por Abel Zimmermann no lado de cá do Atlântico. Abel trabalhava em uma pequena oficina de reparação de equipamentos na cidade de New Holland – que emprestaria seu nome à futura gigante –, no estado norte-americano da Pensilvânia. O ano era 1895.
Os desdobramentos que trouxeram a New Holland à sua configuração atual – como parte da CNH Industrial – são complexos, embora compreensíveis em um setor tão dinâmico. E a empresa soube tirar o melhor proveito de tudo isso, ao conviver, trocar informações e experiências com gigantes como a Ford e a Fiat.
Em 1986, a Ford comprou da Sperry a New Holland. A primeira, que já produzia tratores em São Bernardo do Campo, compartilhou seu conhecimento, o que foi retribuído pela operação de colheitadeiras da New Holland no Paraná – relação deu origem à histórica linha de colheitadeiras 8000, com os modelos 8040 e 8055. Em 1991, outra gigante do setor automobilístico internacional, a FiatAllis – que também agregava longa tradição no segmento do agronegócio e de máquinas de construção –, adquiriu da Ford o controle da New Holland. Isso trouxe para Curitiba também a produção de tratores, dando a configuração mais reconhecida aos produtos da marca New Holland.
A compra da Case Corporation pela Fiat, em 1999, daria origem, em 2000, à Case New Holland – com o tempo, mais conhecida pelas iniciais CNH. Em 2013, uma reestruturação do grupo Fiat fez a CNH Industrial passar a comandar o grupo após a fusão entre Fiat Industrial e CNH Global. Essa longa trajetória transformou a CNH Industrial em líder global no setor de bens de capital, com presença mundial e grande leque de produtos e soluções para os segmentos essenciais ao desenvolvimento socioeconômico do Brasil: agricultura, construção, transporte e energia. A empresa oferece a mais completa linha de máquinas e veículos comerciais do mundo, com as marcas Case IH, Steyr, CASE Construction Equipment, New Holland Agriculture, New Holland Construction, IVECO, IVECO Astra, IVECO BUS, HeuliezBus, Magirus, Iveco Defence Vehicles e FPT Industrial.
Ao todo, no mundo, a CNH Industrial tem presença em 180 países, agregando 12 marcas comerciais, 64 fábricas, 49 centros de pesquisa e desenvolvimento, e mais de 63 mil empregados. Sua receita líquida em 2017 alcançou US$ 27,3 bilhões. Apenas no Brasil, o conglomerado integra as operações das máquinas, equipamentos e produtos agrícolas e de construção da Case e da New Holland, além dos caminhões, veículos comerciais, de defesa e ônibus da IVECO, veículos de combate a incêndio da Magirus e os motores, eixos e transmissões da FPT Industrial. Além de Curitiba, as fábricas brasileiras da CNH Industrial se espalham por Contagem, Sorocaba, Piracicaba, além de Sete Lagoas.
O caminho pelo Paraná
Voltando à metade do século 20, no Brasil: satisfeito com a qualidade das colheitadeiras Clayson, Sehn passou a importar unidades para uso próprio e também para comercialização. O sucesso dos produtos e a satisfação dos clientes fizeram o gaúcho pensar na otimização da sua operação: em vez de comprar as máquinas prontas, enfrentando a burocracia de transporte e importação, passou a internalizar as peças e montar as máquinas no Brasil.
O responsável enviado pela empresa belga ao Brasil foi Roeland Mortier, que em 1973 organizou a primeira linha de montagem das máquinas Clayson em um galpão de secagem de madeira, na BR 116. Com infraestrutura inicial precária, a produção foi viabilizada em dois meses e, em cinco meses, 628 colheitadeiras haviam sido montadas. Em outubro de 1975, a fábrica da New Holland foi a pioneira na recém-inaugurada Cidade Industrial de Curitiba. No ano seguinte, um marco importante foi alcançado, quando saiu da indústria a primeira máquina produzida totalmente com componentes fabricados no Brasil, batizada, por isso, de “nacionalíssima”.
Enquanto a maioria das fábricas de implementos seguia localizada no Rio Grande do Sul, tradicional berço do setor agrícola, a posição do Paraná na expansão da fronteira agrícola nacional rumo ao norte tornou-se um grande trunfo para as operações da companhia. Sua posição era favorável tanto para atender os dois vizinhos do Sul quanto São Paulo, principal centro econômico do país, e a região Centro-Oeste, para onde as lavouras avançavam em velocidade impressionante já na década de 1970 – sobretudo em Mato Grosso do Sul. As novas áreas produtoras, geralmente encabeçadas por migrantes gaúchos, traziam consigo o DNA paranaense das máquinas New Holland produzidas no estado.
Esse DNA vincula a inovação na agricultura à evolução tecnológica e transformou a New Holland em uma grife da agricultura no Brasil, com seus equipamentos azuis e amarelos identificáveis a distância, e há muitos anos. A relação de confiança do Paraná – um dos principais estados produtores do Brasil – com a New Holland também se reflete no fato de a fábrica paranaense da empresa ser considerada uma das mais completas da marca em todo o mundo, uma vez que produz simultaneamente colheitadeiras, tratores, transmissão e plataformas.
Inovação com sustentabilidade
Atenta às novidades e às trocas de experiências e culturas de diferentes empresas, de sua gênese até os dias de hoje, é natural que a New Holland invista em otimização com viés sustentável e inteligente. No início de 2018, a empresa apresentou seu novo trator movido a biometano para o Brasil, o primeiro país da América Latina a receber a novidade da New Holland Agriculture. O protótipo simboliza a transformação energética nas propriedades rurais do país, com a possibilidade de o produtor buscar sua independência de combustível. Esse novo trator conceito foi construído usando como base os protótipos anteriores do T6 movido a metano para alcançar um avanço tecnológico relevante.
“A presença do novo trator conceito no Brasil é significativo por dois motivos: pela importância do agronegócio no país, responsável por sustentar o Produto Interno Bruto e tirá-lo de uma recessão; e por carimbar o compromisso da New Holland com a produção sustentável, independente e tecnificada”, afirma Rafael Miotto, vice-presidente da New Holland Agriculture para a América Latina.
Com design futurista, o veículo possui motor com mesmo desempenho de versão a diesel, mas com até 30% de redução de custos. O novo trator conceito aproveita um ciclo virtuoso que fornece uma produção neutra de CO², produzido pelas próprias fazendas que o utilizam para realizar suas operações de aquecimento e alimentação de equipamentos – conceito de Energy Independent Farm. O biometano como combustível sustentável é particularmente adequado a fazendas, pois elas têm as matérias-primas e o espaço para abrigar um biodigestor e produzir o gás.
A New Holland já vem investindo há muitos anos em soluções de energia limpa, seguindo sua estratégia de Clean Energy Leader. Não por acaso, foi a primeira fabricante a oferecer 100% de compatibilidade com biodiesel, ainda em 2006. Em 2009, a empresa desenvolveu o primeiro conceito de trator movido a hidrogênio do mundo, o NH², oferecendo a viabilidade de sua tecnologia de emissão zero para o futuro. Este foi um elemento-chave do conceito Energy Independent Farm da marca, lançado ao mesmo tempo.
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