Colosso acorrentado

Ano passado, por ocasião de uma reunião do grupo Aspen – em uma iniciativa do cientista político Luiz Felipe D´Ávila –, conversei longamente com a embaixadora Susan Schwab, ex-USTR (United StatesTrade Representative) do Gabinete de George W. Bush. Na...

Ano passado, por ocasião de uma reunião do grupo Aspen – em uma iniciativa do cientista político Luiz Felipe D´Ávila –, conversei longamente com a embaixadora Susan Schwab, ex-USTR (United StatesTrade Representative) do Gabinete de George W. Bush. Nas alamedas arborizadas da fazenda Toca, perto de São Carlos, Susan reconheceu as dificuldades de lidar com a diplomacia brasileira da época e o quanto ela lamentava as oportunidades perdidas pelo nosso país. Sem se referir às amarras da ideologia, eu sabia perfeitamente que ela tinha em mente o Chanceler Amorim – o avalista da miopia que assolou o Itamaraty por boa parte desse milênio e ariete do voluntarismo espertalhão de Lula. 

Na rodada final, quando estávamos para alinhar conclusões que nos permitissem encaminhar ao Executivo uma agenda positiva – é bom que se diga que do lado brasileiro tínhamos André Lara Resende, Nelson Jobim, Rubens Barbosa e Sérgio Amaral –, eis que ela propôs que o Brasil estudasse a fundo a questão do TPP – ou Trans-Pacific Partnership – porque esta, no momento que visse a luz do dia, tanto poderia significar oportunidades quanto acarretar mais isolamento para o Brasil. Confesso que não atribuí ao fato a importância devida, quase 18 meses atrás. Ora, para quem está encalacrado na baliza estreita do Mercosul, como pensar em alçar voos em direção a uma área da qual estamos até geopoliticamente alijados? 

Nesta semana, contudo, entendi melhor do que Susan falava em sua brilhante e discreta alocução. Órfãos de parcerias comerciais de peso, afastados do alentado adensamento das cadeias produtivas globais e aprisionados pelas peias de sócios de clube tão fragilizados quanto nós mesmos, eis que o anúncio da TPP tem todos os ingredientes para salgar os termos com que decidimos nos relacionar com o mundo. Só para começar, se estima que quase 3% de nossas exportações possam sumir pelo ralo com a homologação do Tratado pelos países-membros. Para um país desindustrializado e introspectivo como o nosso, eis um novo baque que se anuncia.

Se serve de consolo, três países sul-americanos assomam como fortes candidatos ao Clube, ademais do México. Que tenhamos o tirocínio de fazer investimentos diretos neles como forma de salvar a face dos interesses privados de nosso país. Não se pode simplesmente esperar de Brasília um movimento desenvolto num cenário em que estamos visivelmente sem papel. Ademais do comércio, o TPP prevê um congraçamento que vai do reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual à proteção ambiental. Se o próprio colosso chinês reconhece nele um recado de alerta a suas pretensões hegemônicas, o que não dizer de nós? O tempo está a passar na janela e só o Brasil não vê.      

Em tempo: obrigado, Susan Schwab, você tentou. Fato é que saímos do radar do mundo.   

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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