Roteiro de ação para uma boa temporada sueca
Não tardará muito para que os jornais brasileiros noticiem queuma briosa comunidade de nossos melhores profissionais estará morando na cidadesueca de Linköping, trabalhando diligentemente num projeto de alto impactotecnológico. O que dizer, portanto, a esses brasileiros com respeito ao que osespera? Ora, que sejam muito felizes e que façam o possível para mostrar omelhor de nossas virtudes. Pois ademais do apuro técnico, temos muitaversatilidade e simpatia. Quando cabível - e isso será quase sempre - recomendoque aprendam com o povo hospedeiro. Segundo voz geral, ele tem muito a ensinar.
É claro que é mais fácil dizer do que fazer. Hoje, na horaem que redijo esse texto, estou na bela capital sueca, diante do azul cobaltodo mar Báltico e ainda há ainda bastante luminosidade de verão nas folhas queapenas começam a amarelar. Um desafio bem diferente será o das pessoas quevirão para a pequena cidade a quinta do país - como residentes. Pois é fatoinconteste que passarão a viver num recanto remoto, sob o açoite de um invernorigoroso. E, no entanto, com a modesta autoridade de quem roda mundo há mais dequarenta anos, creio que se trata de uma oportunidade única para que se façamnovos amigos e que se crie uma cultura de aprendizado para a família num paísmoderno e progressista.
Falar sobre as virtudes suecas é, de certa forma, chover nomolhado. País de presença marcante no mundo - seja nas manifestações culturaisdo prêmio Nobel, seja em sólidas realizações de engenharia tecnológica e social-, o colosso escandinavo é uma quase unanimidade mundial. Salvo, bem entendido,entre os vizinhos. Mas isso é de regra. Quem já viu um vizinho falar bemdo outro? Para esses, os suecos acham que tudo o que eles fazem é melhor do quese faz em outras partes do mundo. Dizem mais: por trás da fachada da neutralidade,a Suécia revela algum bairrismo, pois, em todo lugar, lá está sua bandeirainconfundível. Por fim, como a Suécia já dominou política e militarmente aregião, os vitimados passam um pouco ao largo da grande confrariaescandinava para dizer que nem sempre eles foram tão benevolentesquanto se apregoa.
Mas vamos a alguns aspectos mais prosaicos dessa interação.Um deles diz respeito à atitude que as crianças devem ter diante da mençãoà origem viking. A boa norma manda que mantenham sempre a cabeça erguidapois os ancestrais são motivo de orgulho. Outro aspecto comportamental quesinaliza algum tipo de vanguarda é a virtual abolição de gênero em algumasescolas. Já não se usam os pronomes ele ou ela. Criou-se umterceiro que designa uma pessoa - hon. Em alguns locais, se aboliu omictório masculino e se recomenda doravante que os homens urinem sentados. É oigualitarismo levado a pontos inusitados. Mas que ninguém se iluda: apesar deser uma sociedade sequiosa da igualdade entre as pessoas - não esqueçam, otrato pelo primeiro nome é de praxe -, os suecos trabalham duro para subir naescada social.
É claro, suecos são introspectivos. Basta ver osfilmes de Bergman. Menos do que os finlandeses, é certo, mas mais do que osholandeses, por exemplo. Sendo, ademais, uma sociedade de forte neutralidadeafetiva, se diz que quando dois suecos se saúdam, nunca se sabe se estão seencontrando ou se despedindo. Nada, contudo, é tão marcante quanto afrenética busca por consenso que, segundo os europeus ferinos, atrasadramaticamente as decisões. Certa vez, fomos visitar uma loja num subúrbio forados limites de validade dos cartões de metrô. Fui ao guichê para pagar adiferença mesmo porque o trem sairia em minutos. Ora, o bom homem começou umadiscussão com a funcionária sobre como economizaríamos mais: se comprando novostickets ou colocando créditos. Quase perdemos o trem por causa doequivalente a dez reais. Fiquei furioso e, claro, passei por indelicado por terpedido pressa.
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