O Carrefour optou pelo terreno...
Há um princípio, atribuído ao exército canadense, de que gosto muito. “Se mapa e terreno divergem, fique com o terreno”, diz ele. Traduzindo: se planos e realidade não “batem”, opte pela realidade, claro.
Parece ter sido essa a lógica que guiou a rede supermercadista francesa Carrefour em sua nova estratégia de expansão geográfica no Brasil. Em vez de adquirir redes locais e transformá-las em unidades Carrefour, a empresa optou por manter as bandeiras regionais – em alguns casos como subsidiárias, em outros, como parceiras. O motivo? “O Carrefour entendeu que no Brasil o negócio de supermercado é bem local, por isso faz mais sentido crescer com o conhecimento do parceiro”, diz matéria a respeito.
Não é o primeiro caso de adaptação de uma multinacional a realidades regionais, evidentemente. Mas é coberto de significado, uma vez que a replicação de modelos gerenciais é um dos pilares da globalização dos negócios e da consolidação de setores.
Consolidação esta que, prometida desde meados da década de 1990, aconteceu apenas parcialmente no Brasil, ao menos no varejo supermercadista e de eletrônicos. A força de redes locais tornou dura a batalha para ocupação de mercados – e os estados do Sul foram pródigos em conservar muitas de suas empresas históricas, diga-se de passagem. Quando não houve manutenção de proprietários, o consumidor fincou pé em seus hábitos, obrigando novos entrantes a se adaptarem, como bem percebeu o fundo Advent com a Quero-Quero, no Rio Grande do Sul.
Não chega a ser surpreendente. Dadas as especificidades de um país do tamanho do Brasil, especialmente quando se trata de negócios feitos olho no olho, como o varejo, manter executivos e marcas locais, ou mesmo lançar produtos e serviços específicos para a praça, são medidas bastante ponderadas.
Ponderadas e humildes, é possível dizer. O gesto do Carrefour contrasta com o do Walmart, que saiu do Brasil por não abrir mão de sua intenção de fazer das operações daqui meras cópias das americanas, em que vigora a tática de preço baixo todo dia, pouco apropriadas para o perfil do consumidor brasileiro, segundo especialistas.
Ou seja: enquanto o Carrefour ficou com o terreno, o Walmart não abriu mão do mapa – em um sinal de que a fronteira entre estratégia e teimosia pode ser bem mais tênue do que se imagina.
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