Netflix: tentação à vista

Dizem que um homem só substitui um vício por dois. Logo, em alguns casos, é mais prudente manter a antiga adicção do que, abdicando dela, abraçar outra de vocação malévola que lhe possa encurtar a vida e/ou destituí-la de charme e tempero. Isso dito, tenho feito um esforço nesses primeiros dias de 2020 para aposentar a glutonice e, tanto quanto possível, observar os preceitos de uma dieta sensata e quase frugal - ainda que cheia de sabores, porque disso não se pode abrir mão.

Adiantar quanto tempo vou aguentar talvez não seja o mais importante. Aliás, se fossem mantidas as condições de temperatura e pressão que tenho aqui em Girona, onde os dias são ensolarados e as noites são frias, já teria dado um passo em direção à perenidade. De mais, com tudo o que há de saboroso no mercado público, não deveria ser difícil perder um par de quilos ao mês sem grande esforço. Mesmo porque caminha-se com alegria sobre calçadas bem niveladas e sem ciclistas. 

Mas eis que um inimigo se escondia em casa e eu não sabia. Ou melhor, no computador, o que jamais me passara pela cabeça. Ora, todo dia alguém falava dos seriados Netflix nas redes sociais. Será que eu nunca vira um? Não. Nem tinha interesse? Bem, depois de "Dois Papas" e de "O irlandês", de repente seria divertido assistir a uma durante o retiro de inverno. Pois bem, comecei com uma espanhola em que 3 casais resolvem deixar os celulares ao centro da mesa numa noite de lua de sangue. Hum...

Foi o que bastou, caros leitores, para que todo dia desde então eu me coloque dante da televisão depois do jantar e escolha uma série nova que me valerá pelo menos duas horas de entretenimento. Como sempre acontece com os vícios que tomam de assalto minha alma vulnerável, fico me perguntando: como não descobri isso antes? Como pude viver longe desses diálogos espirituosos e cheio de veneno? Que seriado verei na noite de hoje? Em suma, estou ferrado. 

Ainda bem que não estou comendo pipoca caramelizada. Seria uma combinação explosiva.