O feito de construir uma grande metrópole
O trecho a seguir faz parte do livro “The Mind of the Tops – Paraná”, publicado pelo Instituto AMANHÃ, com apoio técnico da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Descendente de uma família de estucadores e frentistas de construções, Mauricio Thá prosperou especialmente depois de armar uma parceria com o arquiteto René Sandreski, que projetava residências para a elite curitibana. Admiradas até hoje nas avenidas mais largas de Curitiba, essas construções permanecem como marcos do apogeu de ricos madeireiros e ervateiros – os Guimarães, os Junqueira, os Marques e os Munhoz da Rocha.
Dando rédeas a seu espírito empreendedor, Thá participava também de concorrências que lhe permitiam empregar grandes contingentes de mão de obra em obras públicas. Nesse terreno, deixou seu nome gravado também em Paranaguá, onde construiu a rede de água e esgoto e os prédios dos mercados do peixe e da carne, obras concluídas no começo da década de 1910. Essa época foi marcada por mudanças tecnológicas como, por exemplo, a fixação dos primeiros cursos da futura Universidade Federal do Paraná e a entrada no mercado da construção civil de Curitiba de engenheiros vindos de outras praças.
Após quase 20 anos fazendo a América, já tendo formado um bom patrimônio imobiliário em Curitiba, Mauricio sentiu que precisava defender-se da chegada de concorrentes tecnicamente muito bem preparados. Voltou-se então para seu nicho original – obras públicas e privadas em cidades servidas por ferrovias. Bem ou mal, os trens eram ainda um importante referencial do seu trabalho, pois começara como empreiteiro de obras ferroviárias. Foi assim que em 1917, depois de entregar o Cine Theatro Central, na capital, ele se mudou para Rio Negro, na (nova) divisa com Santa Catarina, onde se fixou com toda a família – a mulher e os seis filhos Reynaldo, Oswaldo, Eduardo, Mikare, Orestes e Adelina.
Finda a Guerra do Contestado, a economia catarinense despertava apoiada na estrada de ferro, que já exigia ampliações e reformas. No sul do Paraná, cidades como Rio Negro e União da Vitória concentravam investimentos no beneficiamento da madeira e da erva-mate produzidas em Santa Catarina. As instalações industriais eram simples, mas nas residências dos empresários não se economizavam materiais. E havia as casas dos trabalhadores. E escolas. E quarteis.
Embora nadasse de braçada nesse mercado multifacetado, Mauricio não teve tempo de desfrutar plenamente de seu prestígio e riqueza. Gravemente doente, morreu em fevereiro 1922, antes de completar 44 anos. O ônus (e a glória) da continuidade ficaria para os filhos, desde pequenos treinados para trabalhar no mesmo ramo. Os dois mais velhos, Reynaldo e Oswaldo, ambos nascidos no início do século XX em Ponta Grossa, deram sequência aos contratos existentes no sul do Paraná e, mais tarde, voltaram a atuar em Curitiba, onde se juntaram à mãe, que retornara à terra natal após perder o marido. Apenas em 1931, em plena crise econômica pós-crack da Bolsa de Nova York, três dos herdeiros de Maurício (Reynaldo, Eduardo e Mikare) constituíram a firma Irmãos Thá, dando caráter formal a um grupo empresarial que já tinha mais de três décadas de atividade na construção civil do Paraná.
Tempos bicudos aqueles
Na paradeira econômica dos anos 1930, a firma pegava o que aparecia, desde a construção de casas novas (raras encomendas) até reformas ou segmentos de igrejas construídas por etapas, no ritmo permitido pelas coletas paroquiais. “Meus irmãos trabalharam muito, não só administravam, trabalhavam também na colher” (de pedreiro), contou Adelina Thá, cujo marido fez parte da firma da família. Enquanto Reynaldo, mais afeito ao controle das finanças, exercia a chefia, Eduardo e Mikare trabalhavam com a alvenaria, ficando a carpintaria para Orestes, que se especializou no acabamento de bangalôs de estilo normando.
O marco inaugural dessa linha arquitetônica, ainda hoje uma referência em Curitiba, é o palacete residencial da Avenida Batel, entregue em 1912 pelo próprio Maurício Thá. Por incrível que pareça, essa bela casa serviu de inspiração para a construção da primeira estação ferroviária de Londrina, no norte do Paraná. Desenhada originalmente nos anos 1930, a primeira estação, construída em madeira, já tinha o telhado oblíquo, para facilitar o escoamento da neve (nos Alpes). Em 1945, a Irmãos Thá ganhou a concorrência para reconstruir em alvenaria a mesma estação, reinaugurada em 1950.
Pode-se dizer que a empresa familiar dos Thá virou uma firma grande após a II Guerra Mundial (1939-45), quando encarou projetos de grande porte como galpões para indústrias, prédios residenciais e, até, o estádio de futebol Durival de Brito, do Ferroviário, onde seriam disputadas partidas da Copa do Mundo de 1950. Para atender a essas demandas, a empresa implantou um forno de cal, uma cerâmica, uma pedreira e um depósito de areia. Foi assim que a família entrou com o pé direito no ciclo de crescimento acelerado aberto pelo governo do presidente Juscelino Kubistchek (1956-1961). Exatamente no primeiro ano da era JK, os sócios transformaram a empresa em uma S.A. e deram nova denominação a ela: Thá Indústria, Comércio e Construções.
Tempos brilhantes aqueles
A partir daquele momento, a empresa da família Thá enriqueceu seu portifólio com uma enorme lista de obras. Entre residências, edifícios e prédios públicos, destacaram-se a estação de passageiros do Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba; a sede da Escola de Agronomia e Veterinária da Universidade Federal do Paraná, os cines Lido e Rivoli; e o seminário São Camilo em São José dos Pinhais, entre muitas outras construções.
Dez anos depois da arrancada desenvolvimentista que plantou Brasília no Planalto Central, Curitiba tinha mais de 500 mil habitantes e nenhum planejamento urbano. Refletindo a tendência centralizadora imposta a partir de 1964 pelo governo militar, foi criado em 1965 o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), que viria a ter papel decisivo no crescimento da infraestrutura e da construção civil na região metropolitana paranaense. Uma projeção feita na época por uma consultoria contratada pela Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar) previu que a população da capital, inchada pelo êxodo rural oriundo dos cafezais em crise no norte do estado, chegaria a 2.250.000 habitantes em 1990.
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