A fantástica fábrica de perfumes
O trecho a seguir faz parte do livro “The Mind of the Tops – Paraná”, publicado pelo Instituto AMANHÃ, com apoio técnico da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
O sucesso da colônia Acqua Fresca foi mais fruto do acaso do que o resultado de uma premeditação mercadológica. Sim, era um produto que se adequava perfeitamente ao clima tropical da maior parte do território brasileiro, mas até hoje acredita-se que o sucesso daquele líquido perfumado também deve muito às ânforas de formas arredondadas. Alguém chegou a escrever que, por um milagre da alquimia, aquelas embalagens eram a mais perfeita expressão da alma de O Boticário.
Longe de ser o resultado de uma encomenda exclusiva a um designer previamente contratado, as ânforas do Acqua Fresca foram compradas pessoalmente por Krigsner [Miguel, presidente do Conselho de Administração] numa liquidação promovida por uma das empresas do empresário de TV Silvio Santos, que desistira (temporariamente) do plano de lançar uma linha de cosméticos planejada para concorrer com a Avon, a Cristian Grey e a Natura, as maiores do ramo na época.
Foi preciso jogar fora todas as cartonagens do perfume da marca Chanson e providenciar a impressão de Acqua Fresca nas ânforas e nas caixas que as embalavam, mas nunca uma reciclagem deu tão certo. Para todos os efeitos, parecia que a embalagem e o conteúdo haviam sido feitos um para o outro. Em pouco mais de um ano, as 70 mil ânforas de 230 ml “desapareceram” do depósito da botica. Os compradores não eram só de Curitiba, cidade que já superava um milhão de habitantes. Havia gente de fora interessada na colônia de O Boticário.
Ao perceber que seus produtos já viajavam pelo país nas mãos dos consumidores, Krigsner deu outra tacada: inaugurou uma loja no interior do Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, depois de ganhar uma concorrência promovida pela Infraero, que preconizava a necessidade de uma farmácia entre as cinco lojas disponíveis no local.
Dali partia em torno de uma dúzia de voos diários para outras cidades, mas logo os frascos de O Boticário se tornaram uma opção de presente para amigos e familiares dos passageiros. Não passou despercebido outro fenômeno: tripulantes de aviões levavam os produtos da loja nas malas – para vender em suas cidades ou nas capitais onde ficavam a esperar os próximos voos. Foi assim, graça ao boca-a-boca e ao “leva e traz” das formiguinhas aéreas, que O Boticário começou a se tornar uma marca conhecida nacionalmente.
Logo a colônia Acqua Fresca se fez acompanhar de um séquito de produtos do gênero beleza & higiene. “Eu queria fazer algo diferente do que existia”, diz o boticário, lembrando que o mercado brasileiro de perfumaria e cosméticos era abastecido sobretudo por importadores e grandes fabricantes de produtos populares como Phebo e Unilever. E os pequenos como a Perfumaria Memphis, de Porto Alegre.
Desde os primeiros passos em sua botica, Krigsner investia todos os lucros na expansão do negócio. “No começo eu pagava o aluguel da loja, a folha salarial e as matérias-primas – o que sobrava era muito pouco, mas eu não precisava de dinheiro porque era solteiro e morava com meu pai”. Com a Acqua Fresca, começou a sobrar dinheiro suficiente para pensar num outro salto: a construção de uma fábrica capaz de atender convenientemente a crescente demanda por cremes, cosméticos e perfumes. Antes, em 1981, ele casou com Cecília Helen Grynbaum, mãe de suas duas filhas.
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