Marte é o limite?
Muita gente deve ter se espantado, em 1988, com a assinatura pelo governo brasileiro, do acordo técnico-científico Cbers (China-Brazil Earth Resources Satellite), entre o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) e a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST), para o envio para a atmosfera de satélites produzidos pelo Brasil, utilizando foguetes chineses. Os satélites do INPE geram grande quantidade de imagens do espaço brasileiro, permitindo o monitoramento ambiental (desmatamento e queimadas no Pantanal, Cerrado e Amazônia) e da agropecuária.
O espanto na época com o Cbers deveu-se mais ao desconhecimento do avanço chinês no setor aeroespacial, do que pelo acordo ousado entre os dois países. Agora, com a chegada em Marte da sonda Tianwen-1, dia 15 de maio, muita gente se deu conta que a China já é uma grande potência científica, tecnológica e de inovação, apesar dessa característica do país ser pouco conhecida no Brasil.
Felizmente, o Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro tomou a iniciativa de publicar o Relatório Geral Estratégico, da Academia Chinesa de Ciências (ACC): "Ciência e Tecnologia na China: um trajeto até 2050", lançado em fevereiro de 2021. Fundada em 1949, a ACC é responsável por consultoria para a tomada nacional de decisões que levem à liderança no desenvolvimento de Ciência & Tecnologia (C&T). A instituição promove pesquisa básica e levantamentos nacionais de recursos naturais e meio ambiente, executa projetos governamentais relacionados a C&T e mantém o governo central atualizado a respeito do setor.
Com 168 páginas, o alentado relatório apresenta uma panorâmica da trajetória da modernização industrial da China até 2050, com a pretendida revolução chinesa em Ciência, Tecnologia e Inovação, nas 18 áreas que a ACC definiu, em 2009, como prioritárias: energia; recursos hídricos; recursos minerais; recursos marinhos; óleo e gás; população e saúde; agricultura; meio ambiente; biomassa; desenvolvimento regional; espaço sideral; informação; manufatura avançada; materiais avançados; nanociência; instalações de alta ciência; pesquisa interdisciplinar e de fronteiras científicas; e segurança nacional e pública.
Quem acompanha esse setor na China terá um bom quadro do que está acontecendo e o que será feito nos próximos anos para a modernização do país, visando torná-lo a maior potência científica e tecnológica do mundo em 2050. Além do relatório, é importante agregar a esse quadro sobre a Ciência, Tecnologia e Inovação na China a evolução do país nos principais indicadores de competitividade e de inovação. Nesse aspecto em particular, o Global Innovation Index 2020, revela a China em 1º lugar (e o Brasil em 12º) no grupo de países de média-alta renda e 14º lugar no ranking geral. E Hong Kong em 11º lugar no grupo de alta renda. O cluster Shenzen-Guangzhou-Hong Kong aparece na segunda posição, à frente dos de Seoul (3º) e de Beijing (4º). Produzido pela World Intellectual Property Organization (WIPO), em parceria com outras entidades, inclusive as confederações nacionais da indústria da Índia e do Brasil (CNI), esse estudo sobre 2020 é uma publicação de 448 páginas, com análises e dados muito importantes sobre o que está acontecendo na inovação mundial.
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