O Brasil está fadado a ser exportador de commodities?
Redução da burocracia e maior incentivo ao setor produtivo por parte do governo. Esse foi o tom do 1º Sul for Export, evento que reuniu as empresas exportadoras destaque da região Sul do país na última sexta-feira (2) na Fiesc, em Florianópolis. O fórum, uma iniciativa do Instituto e Revista AMANHÃ em parceria com as federações do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, apresentou uma série de palestras com especialistas e autoridades com o objetivo de identificar soluções para impulsionar os números no segmento.
O painel “Indústria Brasileira: inovar para competir” reuniu os representantes das federações das indústrias do Sul e trouxe duras críticas. Segundo o presidente da Fiergs, Heitor Müller, o Brasil, apesar de ser a 7ª economia do mundo, está em 75º lugar nas exportações, participando com apenas 1,2% no mercado estrangeiro. “Já passamos por muitas crises, mas, hoje, vivemos uma crise política, econômica, de credibilidade, moral e ética. O final desses desdobramentos causa muita preocupação para o futuro do país e exige uma constante reinvenção por parte das empresas”.
Müller informou que as indústrias investiram cerca de R$ 100 bilhões para seguir exigências de segurança, trabalhistas, de acessibilidade e regras ambientais. “Aqui no Brasil, ao contrário dos demais países, não se incentiva nem valoriza os empresários. É o consumidor quem paga e, por isso, não queremos que aumentem os impostos”, reivindicou.
“Como vamos falar em cadeia global se não nos entendemos nem com os vizinhos?”, questionou o vice-presidente da Fiep, Paulo Pupo, referindo-se aos acordos com os países do Mercosul. “Estamos fadados a ser exportadores de commodities?”, provocou. “Quem deve inovar e muito neste momento é o governo. Os exportadores não aguentam mais pagar essa conta. Temos que nos descolar dessa paralisia política”, afirmou.
Para o vice-presidente da Fiesc, Mario Cesar de Aguiar, o diagnóstico do empresariado é muito compreensível. “É consenso que a burocracia precisa ser reduzida. Além disso, o Brasil investe pouco em infraestrutura e isso interfere diretamente na competitividade. Nesse sentido, o Sul pode unir suas competências para fortalecer a região”.
A presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante, defendeu a constante aposta no desenvolvimento. “O conceito de inovação não deve ser visto apenas com produtos novos. Ele deve se antecipar e descobrir de que maneira aquilo que já existe pode ser aperfeiçoado para atender a novas demandas”, argumentou.
Oportunidades x barreiras
Segundo o Banco Mundial, o sistema brasileiro tem a maior carga tributária entre os Brics e emergentes. Aqui, se paga 37% em impostos, enquanto que, na China, o valor é de 20%. Na América Latina, todos estão abaixo: Uruguai 26,5%, Chile 22%, Colômbia 19% e Peru 17%. “Isso acontece, em partes, pois o Brasil tem 5,5 mil municípios que, dia a dia, criam regras”, declarou o sócio da Carvalho, Machado, Timm e Luz Advogados, Cristiano Carvalho, no painel “Oportunidades e barreiras para as exportações”.
“O relatório do Banco Mundial aponta que as companhias brasileiras gastam 3.600 horas apenas para cumprir a legislação. Na Bolívia, são 1.025 e, no Vietnã, 871. Além disso, 97,7% das empresas exportadoras necessita utilizar despachantes aduaneiros e 88,7%, cujas exportações respondem por mais da metade do faturamento, são afetadas pela burocracia”, explicou Carvalho.
Seguindo o tom de críticas ao cenário desfavorável, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, disse que, em 2013, foram exportados 1 milhão de veículos, número que caiu para 320 mil no ano passado. “As peças para produção de um carro em São Paulo custam 18% em tributos, enquanto que, em outros Estados, custam 12%. Com isso, é impossível ter uma competitividade verdadeira, pois esse custo afeta o mercado interno”.
Segundo Moan, a redução da alíquota do Reintegra – programa de benefício aos exportadores – foi um desestímulo, mas, em compensação o acordo governamental com o México aumentou a exportação para aquele país em 60%. “Não existe um momento para exportar. Este deve ser um desafio permanente. O câmbio não é o único problema, pois ineficiências já começam da porteira da fábrica para fora. Mas não adianta chorar, temos que ir à luta”, resignou-se.
Contraponto
Coube ao secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Carlos Gadelha, representar o governo federal no debate. Sobre as cadeias globais, o especialista defendeu que não se trata apenas de vender mais, mas sim, de como se inserir em um mercado globalizado. “Temos de importar mais, mas exportar muito mais. Não podemos praticar uma política fragmentada, mas com foco na competitividade”, afirmou.
De acordo com Gadelha, o modelo de desenvolvimento que o governo está colocando na agenda aposta na qualidade da produção. “É fundamental para o Brasil competir na cadeia global. Exportar mais não é positivo apenas para gerar mais emprego e investimento, mas para a própria competitividade das empresas. O governo está trabalhando duro na modernização do parque industrial brasileiro que tem, em média, 14 anos, enquanto que, na Alemanha, essa média cai para sete”. O secretário destacou que é preciso sair de uma agenda paralisante a partir de uma estratégia progressiva e finalizou sua participação em tom diplomático. “Nós nunca vamos deixar de estar nos lugares para não ouvir críticas”.
Premiação
Após os debates, foi realizada a premiação dos 90 maiores exportadores do Sul divididos em três categorias: Maiores Exportadores, Campeãs por Setor e Empresas que Mais Exportaram pelo Sul entre 2012 e 2014. O ranking é elaborado pelo Instituto e Revista AMANHÃ com base nos indicadores oficiais do Mdic. Nomes como Bunge, BRF, Seara e Nidera integram a lista.
Mesmo com a queda de 15,9% nas exportações da região Sul em 2014, algumas empresas expandiram sua participação no mercado externo. O ramo de produtos básicos é o carro-chefe e, impulsionadas pelas boas safras, algumas companhias tiveram destaque – como é o caso da Alibem Alimentos, que viu suas exportações aumentarem 53% no ano passado pelos portos gaúchos.
Entre as dez empresas que apresentaram maior crescimento, oito vêm do setor de alimentos, como as paranaenses Copacol, Coopavel e da Cooperativa Agroindustrial Lar, que aumentou seus embarques em 105%, o que garantiu o primeiro lugar ente as campeãs da expansão internacional no período. Já Santa Catarina foi o único estado da região a crescer, apresentando aumento de 3,4% em comparação aos vizinhos.
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