Como a redução populacional da China pode pesar na balança comercial brasileira
Chamou mais a atenção, no estudo divulgado pela Goldman Sachs em dezembro de 2022, a condição da China de maior economia do mundo pela paridade cambial para muito em breve (2025? 2028?), do que a redução populacional projetada para 2075, dos atuais 1,4 bilhão de habitantes, para 1 bilhão. Como é apenas um número, os impactos de 400 milhões de habitantes a menos (duas vezes a população brasileira) na China, nos próximos 50 anos, aparentemente são minimizados, e isso apesar do agravante de que já em 2050 a China deverá ter 400 milhões de pessoas idosas, em uma população total, na melhor das hipóteses, de 1,3 bilhão de habitantes.
Novamente as dimensões da população volta a ser "a" questão na China, só que agora com o sinal trocado. Quando a República Popular da China foi fundada, em outubro de 1949, estimava-se haver no país 541 milhões de habitantes. Na aprovação da Política do Filho Único, em 1979, a população era de quase um bilhão de habitantes (total oficialmente alcançado em 1981). Agora, na previsão mais otimista, a China voltará a 1 bilhão em 2100. Evidentemente, não há consenso entre as estimativas divulgadas da divisão de população da ONU, as do estudo publicado pela revista "The Lancet" (já citadas em posts anteriores), e as projeções populacionais com as quais o governo chinês trabalha ("conservadoras" e "pessimistas"). Independentemente de com qual projeção está trabalhando, o certo é que o tema está sendo tratado como "prioridade número 1" do governo Xi Jinping, porque a luz amarela acendeu no ano passado, com a primeira diminuição populacional (800 mil habitantes) em 60 anos.
Para os grandes exportadores brasileiros, que dimensionaram sua capacidade de produção para atender o mercado chinês, 2075 não está tão longe assim. Nem 2050. Até porque a redução das demandas de alimentos e de minérios será progressiva – e crescente. Ainda que muitos pensem logo na transferência dos excedentes para a cada vez mais populosa Índia (em 2075, espera-se que tenha 1,7 bilhão de habitantes), é bom lembrar a enorme diferença de poder aquisitivo das populações dos dois países – a renda per capita chinesa é o triplo da indiana, o que explica o fato da Índia importar pouca comida, se comparada com a China, apesar de produzir apenas metade da quantidade que ela produz.
É bem verdade que pode ser que ocorra na Índia nos próximos 50 anos a redução da pobreza em grande escala que ocorreu na China a partir de 1980, com a incorporação de 800 milhões de pessoas na economia real. Afinal de contas, espera-se que a Índia atinja a condição de segunda maior economia mundial até 2050, e ela não poderá chegar lá com metade de sua população na condição atual de pobreza e miséria. Portanto, até 2075 China continuará a ser o maior mercado consumidor do mundo, apesar do encolhimento populacional maior ou menor que ocorrerá. E continuará sendo também o maior mercado consumidor de pessoas idosas – hoje com 280 milhões, em 2050 com 400 milhões. Um desafio e tanto para as e os profissionais de marketing, hoje às voltas com esse fenômeno do envelhecimento no Brasil, Estados Unidos, Europa e Ásia. Aliás, envelhecimento e encolhimento populacional – inclusive em nosso outrora país "deitado em berço esplêndido".
Contas rápidas ajudam a dimensionar o impacto da redução populacional na China até 2050 na estimativa "otimista" (sim, porque se a previsão de 400 milhões a menos em 2075 se concretizar, pode significar 200 milhões a menos já em 2050): 100 milhões de pessoas a menos equivale à redução do consumo alimentar de meio Brasil; 30 milhões de moradias desocupadas; e quantos milhões de celulares, notebooks, carros e bicicletas a menos? Toda a infraestrutura ainda por ser construída na China precisará ser recalculada a menor, com impacto direto na demanda de recursos financeiros e no consumo de energia, cimento e aço. E todas as previsões de aumento da automação e da robótica terão de ser revistas, porque haverá cada vez mais necessidade de substituição do trabalho humano daqui pra frente, devido à (ainda) inacreditável combinação do aumento do envelhecimento e redução populacional na China, com impacto negativo direto em sua população economicamente ativa.
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