A crise no terceiro parceiro comercial do Sul
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta segunda-feira (3) que vai cortar pela metade o número de ministérios e criar um imposto sobre as exportações. O intuito das medidas é reduzir a zero o déficit fiscal do país em 2019. Com essa proposta, o ministro da Fazenda, Nicolas Dujovne, viaja a Washington para começar a renegociar amanhã (4) o acordo que fechou com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho e que – diante da nova crise cambial – precisa rever.
Macri fez o pronunciamento em cadeia nacional de televisão, antes da abertura dos mercados financeiros e depois de uma semana de alta volatilidade, em que o peso perdeu 25% de seu valor em relação ao dólar norte-americano. Ele disse que “os últimos cinco meses foram os mais difíceis” da sua vida desde 1991 (quando foi sequestrado em troca de resgate), mas que o país vive uma “emergência” e a única alternativa é o ajuste. “Vamos pedir uma contribuição maior aos que têm mais capacidade – os que exportam na Argentina”, declarou. Com as novas medidas, os exportadores de produtos primários (entre eles, grãos e minérios) vão pagar ao governo quatro pesos para cada dólar. Os exportadores dos demais produtos pagarão uma taxa menor, de três pesos para cada dólar obtido.
A inflação de dois dígitos, que Macri herdou e prometeu baixar, já deve superar os 30% até dezembro. Agora, com a última corrida cambial, alguns economistas preveem que será ainda maior. Em um ano, o peso argentino perdeu 104% em relação ao dólar norte-americano, que na Argentina funciona como termômetro da economia. Quando a moeda dos Estados Unidos sobe, os preços na Argentina acompanham, gerando um ciclo inflacionário vicioso. E como os salários ficam atrasados, cai o poder de compra e cresce a pobreza – algo que o próprio presidente já admitiu que vai ocorrer. O governo também reconheceu que o país está a caminho da recessão, com uma retração de 1% do PIB em 2018. A decisão, na semana passada, de elevar a taxa de juros para 60%, só piorou o quadro recessivo. É a mais alta do mundo (quase dez vezes maior que a brasileira, de 6,5%). Ainda assim, e apesar do empréstimo de US$ 50 bilhões do FMI (o maior da história do país), o dólar parou de subir somente depois da intervenção do Banco Central, que vendeu reservas – o que , segundo especialistas, é uma situação insustentável a longo prazo e difícil de administrar às vésperas de ano eleitoral.
Com o cenário econômico do país vizinho entrando em colapso, algumas empresas brasileiras começaram a tomar providencias. A fabricante de matérias-primas para o setor calçadista Killing, por exemplo, parou de vender a prazo materiais para indústrias calçadistas que operam na Argentina, na semana passada. A empresa costumava fazer a venda para os fabricantes com prazo de pagamento entre 30 e 40 dias. A companhia gaúcha espera uma queda de até 50% nas vendas para clientes da Argentina, por conta dessa decisão. A Killing tem uma fábrica na região metropolitana de Buenos Aires há oito anos. A unidade atende os fabricantes calçadistas locais e negocia apenas em pesos argentinos. A Killing também exporta produtos do Brasil para o país vizinho, apenas em dólares. A Argentina representa em torno de 4% da receita da companhia.
O país vizinho é o terceiro parceiro comercial da região Sul, segundo estatísticas do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) baseadas no intercâmbio acumulado até julho. A Argentina é responsável por uma fatia de 8,7% do que foi exportado pelo Paraná, por Santa Catarina e pelo Rio Grande do Sul no período. Na frente estão Holanda (8,8%) e China (27,5%).
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