A lógica da divisão de negócios do Grupo RIC

Eles não têm a mesma cabeça, o mesmo estilo, o mesmo perfil, mas são parecidos na objetividade com que se movem na condução dos negócios que o patriarca, Mário Petrelli, fundou no Sul do país há 32 anos. De certa forma, os irmãos Petrelli personifica...
A lógica da divisão de negócios do Grupo RIC

Eles não têm a mesma cabeça, o mesmo estilo, o mesmo perfil, mas são parecidos na objetividade com que se movem na condução dos negócios que o patriarca, Mário Petrelli, fundou no Sul do país há 32 anos. De certa forma, os irmãos Petrelli personificam a mistura de afinidades e diferenças que é possível vislumbrar entre os dois Estados que comandam: o Paraná, de Leonardo, e Santa Catarina, de Marcello. Nesta semana, ambos anunciaram publicamente o resultado de uma conversação que vinham mantendo desde meados do ano passado e que, em síntese, consiste em reconhecer que os dois mercados são parecidos, mas não iguais. Como eles próprios. E que havia chegado a hora de separar as operações de uma forma mais clara e adequada às particularidades do Paraná e de Santa Catarina.  A própria nota conjunta expedida pelos irmãos dá o timbre da mudança. O comunicado traz a assinatura de Leonardo Petrelli como presidente executivo do Grupo RIC  e de Marcello Corrêa Petrelli, presidente executivo do Grupo ND – a marca corporativa recém criada para designar as operações do conglomerado em Santa Catarina.

“Continuaremos  como um grupo familiar, unido, forte, tanto em Santa Catarina como no Paraná”, prometeram – com uma ressalva. “Reconhecemos que Paraná e Santa Catarina são Estados irmãos, semelhantes, mas, ao mesmo, tempo diferentes. Cada um com suas demandas e linguagem própria. Essa mudança é um reconhecimento dessa realidade.” Como essa governança vai funcionar na prática é algo que o dia a dia vai mostrar, mas o que já está delimitado é o objetivo de que as operações RIC e ND caminhem separadas e com autonomia para focar em seus Estados. Em nome de autonomia e agilidade, o grupo chegou a abrir mão de seu Centro de Serviços Compartilhados, o icônico CSC, um emblema da era de racionalização administrativa nas empresas, especialmente em períodos de crise. Utilizada para concentrar compras de toda organização e centralizar o setor de recursos humanos, a área começou a ser desativada no início deste ano. “O CSC até trazia economia, mas tivemos de abrir mão porque não trouxe a agilidade necessária”, conta Marcello Petrelli, o comandante do grupo ND, conhecido pelo estilo impetuoso.

Afeito à construção de estratégias, Leonardo Petrelli, o líder do Grupo RIC, vê a criação de estruturas próprias como uma imposição dos novos tempos. “Os anunciantes, fornecedores e clientes pediam um atendimento muito mais próximo e personalizado. Além do mais, os funcionários necessitam de capacitação constante, ainda mais em um período em que o modelo de negócio da comunicação sofre profundos impactos com a digitalização.”        

Com o novo posicionamento, o Grupo RIC Paraná manterá a mesma marca e seguirá atuando no mercado paranaense em todas as suas plataformas: RICTV Record (que tem quatro emissoras: Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel), revista TopView, portal RIC Mais, Instituto RIC de Atitude Social e rádios Jovem Pan. Já em Santa Catarina, a nova marca corporativa do grupo pode ser vista em todas as plataformas: a RICTV agora é NDTV – “Noite e Dia com você”; o portal de notícias ND+ e o jornal impresso ND. As seis emissoras – Florianópolis, Itajaí, Blumenau, Joinville, Chapecó e Xanxerê – já estão identificadas com a nova identidade visual do Grupo ND.

O momento para implementar a estratégia encontra ventos favoráveis, a julgar pelos prognósticos de crescimento nas receitas das operações em 2019. Pelos cálculos de Marcello, a ND deve chegar no final deste mês com receita anual de R$ 95 milhões, avanço de 15% em relação ao ano de 2018. E para o ano que vem as projeções são ainda melhores. “Algumas empresas devem crescer até 30% e outras cerca de 15%”, projeta.

Em solo paranaense, Leonardo também colherá resultados alvissareiros. O Grupo RIC deve faturar R$ 102 milhões neste ano – avanço de 18% em relação a 2018. Leonardo comemora o fato de a RIC ter se consolidado como segundo canal em audiência no Paraná, e há casos de cidades em que alguns programas regionais já são líderes. “Nossos níveis de penetração fizeram com que fôssemos notados pelo mercado publicitário. Os empresários também entenderam que há condições de investir em outros grupos de comunicação, e não se concentrar em uma única rede. Esse processo canalizou muitos recursos para a RIC”, diz.

Para 2020, Leonardo vê a perspectiva de elevar o faturamento em 15%, com o aumento da receita com mídias digitais, além de investimentos na tecnologia streaming para a televisão. Ciente que a comunicação é global, Leonardo alerta que fincar pé na terra roxa não significa fechar os olhos para outros negócios. “A centralização nos dará mais liberdade para buscar outros desafios, inclusive fora do Paraná”, declara Leonardo.

A construção da ND
Para criar a ND, Marcello Petrelli reuniu o Instituto Locomotiva – especializado em estudos envolvendo classe média – e o Instituto Lupi, que mobilizou mais de 70 grupos focais em todas as grandes cidades catarinenses. No total, foram 20 mil entrevistas em três meses de campo. “E o que essas pessoas nos contaram? O catarinense valoriza a família, o trabalho e a palavra dada. Quer mudanças, um país novo, melhor, diferente. Quer assistir, ler, acessar, jornalismo que tenha responsabilidade com a verdade. Quer mais soluções e menos problemas. Quer saber claramente qual o posicionamento e a opinião de cada veículo de comunicação. Quer uma comunicação que seja espelho dos seus valores e das suas crenças”, contou Marcello em seu discurso na segunda-feira (2), quando apresentou a nova marca do grupo.

“O grupo ND já nasce grande, pois somos o maior produtor de conteúdo regional do país, com 16 horas de programação local por dia e líderes de audiência nesses programas. Temos o programa regional com a maior audiência do Brasil – vejam bem, do Brasil – em Chapecó, com 64% de share. Nos últimos quatro anos já investimos mais de R$ 40 milhões em tecnologia para ampliar nossa cobertura e levar imagem HD para todos os lares”, enumerou o empresário no mesmo evento. “ND pode ser o que cada um quiser. Pode ser Notícias do Dia, Novidades Digitais, Novos Desafios, e porque não Nota Dez? São duas letras apenas, mas com muitos significados que traduzem um estado de espírito”, explicou Marcello. Afinal, nos tempos atuais, quem dá o tom é o consumidor – e resta às marcas serem velozes em suas respostas.

Trajetória
O grupo de comunicação teve início 32 anos atrás a partir da aquisição, pelo empresário Mário Petrelli, de duas rádios e da TV Vanguarda em Cornélio Procópio – como retransmissora da TV Manchete para o Norte do Paraná. O patriarca da família Petrelli convidou seu filho Leonardo – com formação em comunicação nos Estados Unidos e até então atuando na Rede Globo, no Rio de Janeiro - para ser acionista e assumir a direção executiva dos negócios. Essas operações marcaram a criação do Sistema Sul de Comunicação, com o compromisso editorial de se manter junto à população paranaense, seja por meio do jornalismo ou do entretenimento. Em seguida, foi criada a TV Independência de Comunicação, em Curitiba, com o objetivo de integrar a capital com o norte do estado e, posteriormente, iniciaram-se as operações em Toledo, visando a cobrir também a região Oeste do Paraná.

Em seguida, Mário Petrelli identificou mais uma oportunidade de aquisição de uma emissora de TV, dessa vez em Chapecó (SC), e se associou ao empresário Roberto Amaral para começar a operar sob a bandeira SBT. Mais tarde, Mário convidou seu filho Marcello para trabalhar no grupo. Marcello então fez sua carreira em diversos setores da empresa até se tornar presidente executivo do Grupo RIC Santa Catarina. Paralelamente, no Paraná, Leonardo formou a Rede Independência de Comunicação (RIC) em 1987. Com o fim da operação da Rede Manchete, em 1999, as emissoras no Paraná se tornaram filiadas à Rede Record, enquanto em Santa Catarina o sinal continuava sob a bandeira do SBT. Até que em 2007, a partir de um alinhamento do negócio, as emissoras de ambos os estados unificaram o sinal como retransmissoras da Rede Record.

A divisão das operações de Paraná e Santa Catarina não cortará o cordão umbilical que se constituiu ao longo destas mais de três décadas. “Temos um processo contínuo de busca de otimização de recursos que rentabilizem nosso negócio. E, naturalmente, continuaremos nos relacionando, tendo em vista a participação acionária que temos no grupo. Boas práticas de gestão que se mostrarem acertadas em Santa Catarina também serão aplicadas aqui no Paraná”, garante Leonardo.

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Quinta, 28 Março 2024

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