Uma bagunça que funciona
"Orders, order, order", grita em desespero o Speaker of the House of Commons. E no entanto, vaias e exortações de apoio perpassam o ar com graça, vigor e irreverência. Um desavisado que chegue ao Parlamento britânico e o veja em funcionamento, teria escassos elementos para acreditar que ali funciona uma das mais sólidas e legítimas instituições do Ocidente.
Da mesma forma, quem acha que tudo que diga respeito à Grã-Bretanha pressupõe sisudez e preciosismo, ficará perplexo ao ouvir todos os sotaques do Arquipélago bem representados, não raro vocalizados por britânicos de turbante "sikh", jovens e velhos, uns mais aguerridos do que outros, embora todos saibam ser contundentes sem abdicar da cortesia e do bom humor.
No momento em que Theresa May se enreda em rodadas tortuosas que certamente lhe darão algum fôlego político para negociar uma forma de Brexit – este sim, ainda em aberto, e sujeito a tudo, até à revogação – , dedico o começo da noite fria na Europa Central para acompanhar as circunvoluções desta democracia de excepcional vigor, apesar da quadra crítica que vive.
E por que crítica? Porque continua em aberto o dilema da fronteira das Irlandas. E porque ademais deste dilema, os resultados do desastrado referendo convocado por James Cameron há quase três anos, tira o sono dos que acreditavam no sonho europeu, assegurando livre trânsito de pessoas e mercadorias de ambos os lados do Canal da Mancha.
Seja como for, a Inglaterra continua exsudando charme e atratividade, a despeito desse duro revés. O que quer que o futuro lhe reserve, é reconfortante saber que às margens do Tâmisa, o Parlamento britânico irradiará uma mensagem que dá o que pensar a nós brasileiros: a de que Parlamento não é lugar de fraseologia oca nem de retórica vazia. É um templo da objetividade nua e simples.
Uma verdadeira caixa de ressonância, a serviço de todas as vozes dos cidadãos britânicos.
Veja mais notícias sobre Mundo.
Comentários: