Quando os russos voltarão a negociar com a Opep?

País quer medir o tamanho do dano causado ao xisto dos Estados Unidos

Para entendermos o poder de fogo – que não é o bélico – da Rússia nesta briga comercial com os EUA, vamos voltar à crise russa de 1998. O país ficou sem reservas e teve de pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para pagar seus compromissos internos e externos. E quem veio depois da crise? Putin, que governa a Rússia desde a renúncia de Boris Iéltsin, em 1999. E atualmente? Putin continuará governando a Rússia até 2024 e quer ficar mais. Bem, e as reservas do país como estão? Bem diferentes de 1998. Hoje a Rússia tem US$ 570 bilhões, reservas bem maiores que as do Brasil. Ou seja, tem poder de fogo econômico também. Está muito mais forte – mesmo com a sua economia crescendo pouco como a brasileira.

A Rússia saiu do acordo com a OPEP + [atual acordo para restrição da oferta fechado entre a Opep e a Rússia] e os preços do petróleo entraram em colapso esta semana, sendo negociados próximo a US$ 30 o barril. E se mantém. As empresas russas Lukoil e Rosneft já queriam que esse acordo fosse cancelado há um bom tempo. Querem, com os preços mais baixos, ganhar mercado da Arábia Saudita. E mais: a Gazprom, empresa russa de gás, teve sanções americanas ao seu gasoduto North Stream 2 para a Europa. O presidente americano Donald Trump promulgou uma lei para impor sanções contra companhias associadas à construção do gasoduto. Muitas delas desistiram de terminar seus contratos com a Rússia, dificultando o término do gasoduto.

Este é o cenário: mais gás natural da Rússia para a Europa ou mais GNL (gás natural liquefeito) americano para a Europa? O gasoduto Nord Stream 2 permitirá que se duplique o fornecimento de gás natural da Rússia para a Europa Ocidental através do mar Báltico para chegar à Alemanha, ou seja, dificultando novos investimentos em terminais para receber o GNL dos Estados Unidos. O gasoduto russo já está 93% concluído.

Parece que a Rússia não está mais disposta a receber ataques comerciais e sanções econômicas nos seus planos energéticos sem retaliação e decidiu travar uma guerra contra as empresas americanas de petróleo de xisto, que provavelmente terão problemas com os preços baixos atuais do petróleo. Assim, não fez acordo com a OPEP+ e os preços despencaram. Quando os russos voltarão a negociar com a Opep? A batalha de Stalingrado me leva a crer que vai demorar. Os russos são muito resilientes. E com as reservas de quase US$ 600 bilhões serão ainda mais.

*Sócio-fundador da Maziquim, engenheiro químico, especializado em petroquímica pela UFRGS/Petrobras (Cenpeq) e em economia pela UFRGS

Veja mais notícias sobre Mundo.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Domingo, 15 Dezembro 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br/