O terremoto de Lisboa vem aí
Venham, apressem-se, não se desesperem, mas estejam avisados de que o próximo grande terremoto da capital portuguesa pode estar a caminho. Para quem não sabe, no dia de Todos-os-Santos de 1755, logo 1 de novembro, Lisboa foi sacudida por aquele que é considerado um dos três maiores sismos de todos os tempos (na foto, reprodução de um vídeo mostrando o que pode ter ocorrido na ocasião). O epicentro foi o banco de Gorringe, a cerca de 300 quilômetros do continente, no fundo do mar, e as consequências foram devastadoras tanto na capital quanto no Algarve, com ondas de mais de 20 metros de altura lambendo até 250 metros rumo ao interior. Do outro lado de Gibraltar, nas marroquinas Fez e Meknès, os estragos também foram imensos. Os abalos foram tão colossais que varreram desde a Finlândia até Barbados, e sequer Pernambuco ficou imune às reverberações. Isso porque uma língua de água lambeu a hoje praia de Tamandaré, para grande susto dos índios que lá viviam.
No entender dos especialistas, é de se esperar que um terremoto dessa magnitude (cerca de 9.0 na escala de Richter) ocorra a cada 250-300 anos, o que coloca Portugal na alça de mira das companhias de seguro. Estima-se que hoje morreriam 20 mil pessoas na capital, com destruição farta de construções obsoletas. Os feridos iriam a 50 mil e os desabrigados perfariam no imediato 100 mil pessoas. Das capitais europeias, apenas Istambul é mais vulnerável do que Lisboa. O que se espera para Portugal é praticamente o mesmo que castigará Tóquio, no Japão, que também se assenta sobre uma falha geológica fatal, e que já lhe valeu um terremoto colossal há um século, com mais de 100 mil mortes. Sendo a atividade sísmica no arquipélago muito mais intensa do que na península ibérica, há de se supor que os desgastes por lá possam ser menores, muito embora o prejuízo material seja infinitamente maior, dado os valores que estão em jogo no metro quadrado mais caro do mundo.
Viver as tensões de um terremoto é inesquecível. Já vivi-as no Chile, Peru, Turquia e Estados Unidos. Mas nada vivi que se compare ao terremoto de Taipé, em Taiwan. Jamais esquecerei o monotrilho de concreto armado que balançava como um varal de roupa ao vento. Passar mais uma noite lá depois do sucedido foi um suplício. Será que poderia vir um tremor ainda maior? No Japão, as simulações para evacuação são uma constante e todo mundo sabe como proceder e o que fazer. O novo grande terremoto de Lisboa pode acontecer a qualquer momento. Imagino as sete colinas da linda cidade contemplando lá do alto a entrada das águas pela Baixa. O casario da Alfama e da Mouraria se esfarelando e o estupor das pessoas que lotam o Rossio e o Chiado sem se darem conta de que a beleza e a alegria podem combinar com a tristeza. Esperemos que não ocorra nunca. Ou que transcorra mais um século até que a ciência nos ajude a detectá-lo com antecedência.
As cidades são mesmo organismos vivos. E como tal, estão sujeitas a sustos esporádicos. Importante é que já no dia seguinte, "é preciso enterrar os mortos e cuidar dos vivos", como parece ter dito o Marquês de Pombal na ocasião. E assim continuamos.
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