O Atlântico entre o Recife e Lisboa

O voo da TAP entre Recife e Lisboa já é cinquentenário. O trajeto que é um dos mais curtos entre a Europa e o Brasil, é feito em aproximadamente sete horas, o que o coloca em vantagem teórica sobre os que saem de Porto Alegre ou São Paulo, por exempl...
O Atlântico entre o Recife e Lisboa

O voo da TAP entre Recife e Lisboa já é cinquentenário. O trajeto que é um dos mais curtos entre a Europa e o Brasil, é feito em aproximadamente sete horas, o que o coloca em vantagem teórica sobre os que saem de Porto Alegre ou São Paulo, por exemplo, condenados a dez horas ou mais de viagem. Mas atentem bem para o fato de que falei em vantagem teórica. Isso porque, na prática, um voo de doze horas pode ser preferível a um que dure metade do tempo. Pelo menos no meu caso. Senão vejamos se alguns de vocês não concordarão comigo com base nos argumentos abaixo.

Quando um voo transatlântico decola de Guarulhos às 17 horas, por exemplo, e tem diante de si 11 horas de percurso em velocidade de cruzeiro até a Península Ibérica, o que faz o passageiro? Com o sol a oeste, ele lerá os jornais, se habilitará ao jantar – por modesto que este seja –, a um copo de vinho (idem) e, lá pela altura da Paraíba ou do Rio Grande do Norte, segundo a rota, ele poderá dormir e se preparar para a travessia do mar. Na escuridão mais completa, ele vai dormir pelo menos cinco horas e, dependendo do destino – Madri, Milão, Paris, Londres ou Frankfurt – até sete horas, se optar por dispensar o café da manhã, vontade que a tripulação respeitará diligentemente. 

Assim fazendo, ele poderá chegar em forma já que, independentemente do fuso horário, já terá dormido uma cota apreciável de sono, boa o bastante para aguentar firme até a noite do dia seguinte, o que permitirá maior adaptação à nova zona horária. Já quando se trata de um voo de 6 horas e 45 minutos como foi o caso do feito pelo Airbus da TAP batizado de "John dos Passos" que pousou em Lisboa no final da manhã de hoje, a história é toda outra. Isso porque, tendo decolado do Recife em torno da meia-noite do domingo, boa parte dos passageiros gastará duas horas com o jantar e alguma leitura. 

Admitamos, então, que ignorando os impeditivos limitantes do relógio, ele vá dormir com o intuito de chegar descansado, Ora, não lhe restarão mais de quatro horas de sono para tanto. E isso apenas em tese. Digo em tese porque 90 minutos antes do pouso, a cabine será tomada pelo cheiro de omelete e ovos fritos, o que funcionará como poderoso despertador.  Assim sendo, se tirarmos a média de sono da maioria dos passageiros da rota, veremos que não excede duas horas, o que francamente é muito pouco. É claro que a rota Nordeste tem seus atrativos. Se o tempo de voo não é um deles para mim, outro será gritante. E do que se trata?

Pois bem, o de evitar sair do Recife até o sudeste, o que significa três horas de voo, esperar outro tanto nos grandes "hubs" de Cumbica ou do Galeão, para sobrevoar mais tarde o mesmo lugar de onde se saiu. É excruciante a sensação de perda de tempo, isso ninguém pode negar. O mesmo acontece no voo de retorno quando sobrevoa-se as capitais do nordeste a 10 mil metros de altitude e a viagem só termina no sudeste para, depois de uma escala e de uma passagem pela alfândega, tomar mais três horas de voo até o local de origem, o que torna a opção direta de ida e volta um bálsamo para os residentes. Assim é o mundo da aviação. Como tudo na vida, é faca de dois gumes.

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Terça, 23 Abril 2024

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