Corona deixa uma agenda de mudanças para Ásia – e também para o agronegócio

É o que afirma o especialista em China Milton Pomar, que já em janeiro advertia para o risco de viajar ao continente

A evolução da pandemia do coronavírus nos últimos dias, colocando os Estados Unidos à frente da China em número de casos confirmados, e a Itália, Espanha e Alemanha com muito mais casos do que o Irã, segundo monitoramento em tempo real realizado pela Universidade Johns Hopkins, parece indicar que a Ásia está lidando com a pandemia do coronavírus melhor do que o restante do mundo, principalmente porque na China e Coreia do Sul a situação está sob controle.

Infelizmente, talvez essa seja apenas a aparência momentânea da realidade. Isso porque o Japão optou por outra estratégia (identificação e isolamento de grupos de contágio), e a Índia, com menos de 500 casos confirmados dia 24 de março, finalmente resolveu fazer o que a experiência mundial revelou ser a única solução até agora – isolamento social de toda a sua população. Nesse dia, o governo ordenou ao 1,3 bilhão de indianos ficarem em casa por 21 dias. É bem possível que a Índia tenha "fechado a porta depois que o ladrão entrou dentro de casa", com os agravantes no país das deficiências do sistema de saúde, centenas de milhões de pessoas pobres, subnutrição endêmica, altíssima densidade demográfica etc.

Para o Japão, obrigado a adiar a realização das Olimpíadas de Tokyo para 2021, apesar de ter oficialmente apenas 1.387 casos no dia 27 de março, a "hora da verdade" será em meados de abril, quando poderá ocorrer uma explosão de casos, se a sua estratégia para lidar com a pandemia não estiver correta. Isso porque a infecção pelo coronavírus é assintomática na maioria das pessoas, o que significa que muita gente pode estar com a doença sem saber e contaminando muito mais gente. Como a população japonesa é o dobro da italiana, e tem mais de 30% de pessoas idosas, a tragédia no país poderá ser muitíssimo maior do que na Itália.

A realidade econômica, demográfica e social dos demais países do continente asiático não é muito diferente das condições estruturais da Índia. Por isso, as quantidades de casos, no dia 27 de março, da Malásia (2.161), Paquistão (1.252), Tailândia (1.136), Indonésia (1.046) e Filipinas (803), podem ser "baixos" devido à baixa quantidade de testes realizados, e não à pouca disseminação do coronavírus nesses países. Se for assim, também em abril podem ocorrer explosões dos números de casos e consequente colapso de atendimento de pacientes nos hospitais – temor mundial.

A Ásia terá de mudar radicalmente nos próximos anos, a partir desse "divisor de águas" que está sendo a pandemia do coronavírus. Terá de investir trilhões de dólares em saneamento ambiental, desconcentração populacional, pesquisa científica e tecnológica na área de saúde coletiva, e em medidas de higiene, controle sanitário e restrições à circulação de pessoas e animais. Tudo isso impactará estruturalmente o comércio no mundo e o grande projeto chinês de conectividade mundial via "Belt and Road Initiative" (ou Rota da Seda Século 21). Um dos setores mais afetados deverá ser o de alimentos, em especial o de carnes, dado o perigo permanente de epidemias originárias das criações absurdamente concentradas de aves e suínos, na China, nos Estados Unidos e no Brasil, principalmente.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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