A bioeconomia do Amazonas e a China

O fato de o estado importar da China cerca de cem vezes mais do que exporta para lá, possibilita inovar na relação comercial com o país
Exportar produtos da bioeconomia do estado do Amazonas e atrair investimentos chineses para a industrialização desse setor foi o duplo desafio enfrentado no evento realizado em Manaus na semana passada

Exportar produtos da bioeconomia do estado do Amazonas e atrair investimentos chineses para a industrialização desse setor foi o duplo desafio enfrentado no evento realizado em Manaus, no dia 1º de agosto, promovido pela Federação das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária do Amazonas (Unicafes-AM), a World Peasant Association (WPA) e a China Agriculture Cooperation Association, com o apoio da Federação das Indústrias (Fieam), Sebrae-AM e da Secretaria Estadual de Produção Rural (Sepror), e a participação dos ministérios da Agricultura (Mapa) e do Desenvolvimento Agrário (MDA), Secretaria de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) e o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável (IDAM).

Após a abertura houve a apresentação, por este articulista, de palestras sobre a economia e o comércio exterior e as oportunidades de negócios (exportações e atração de investimentos) com a China, com o objetivo principal de mostrar os caminhos possíveis para cooperativas, empresas e governos acessarem o mercado chinês, desmistificando que "é impossível fornecer os volumes que a China quer comprar" e outras questões recorrentes em eventos desse tipo. Diferentemente do estado do Pará, cujas exportações para a China em 2022 atingiram US$ 21,4 bilhões, e a perspectiva de aumento do comércio com o país em 2030 é a melhor do Brasil, o Amazonas apresenta números modestíssimos de exportações para a China: US$ 10 milhões em 2012 e US$ 57 milhões em 2021.

Enquanto a China passou de 33,4% para 57,3% do total do destino das exportações paraenses entre 2012 e 2021, segundo o estudo "Exportações dos estados brasileiros para a China – cenário atual e perspectivas de diversificação", publicado pelo Conselho Empresarial Brasil-China, para o Amazonas o crescimento foi de 1,1% para 6,6% no mesmo período, e ainda que o estado tenha apresentado o quarto maior crescimento relativo (21,3%) das exportações brasileiras para a China no período 2012-2021, o negócio do Amazonas com a China é importar: o valor foi de US$ 6,2 bilhões em 2021. É chocante, mas é verdade: 94% dos US$ 4,4 bilhões negociados com o exterior pelo Amazonas em 2021 foram importações, das quais 43% da China.

Seguindo a lógica de que onde há um problema em geral há também uma oportunidade, o fato de o estado importar da China cerca de cem vezes mais do que exporta para lá, possibilita inovar na relação comercial com o país. Isso ocorrerá se as empresas e respectivas entidades empresariais e cooperativistas e o governo do Amazonas souberem definir e efetivar a melhor estratégia para isso, investindo nos próximos anos em marketing institucional para tornar o estado conhecido na China, através da participação recíproca em feiras e outros eventos, visitas técnicas e realização de intercâmbios em todas as áreas. Agora há todas as condições objetivas para que ocorra uma melhora significativa na relação do Amazonas com a China, não apenas econômica e comercial, mas também cultural, esportiva, ambiental, educacional, e em ciência, tecnologia e inovação, porque o estado e o Brasil estão em condições muito melhores do que quando apresentei palestra sobre a China em Manaus, pela primeira vez, em maio de 2004, na mesma Fieam.

Nesses quase 20 anos houve um salto impressionante na relação entre os dois países, com destaque para alguns estados e províncias – e o Pará é um bom exemplo do que deve ser feito e quanto é possível avançar: a primeira comitiva estadual à China ocorreu em 2008, e dela participou o então prefeito de Ananindeua e hoje governador reeleito, Helder Barbalho. A capital Belém estabeleceu relação de cidade-irmã no mesmo ano com Shaoxing (província de Zhejiang). A sorte foi lançada: um dos encaminhamentos aprovados no final do evento foi o de participação na 6ª edição da Feira de Importações da China, de 5 a 10 de novembro, levando material promocional em mandarim e amostras, para iniciar o trabalho de vendas ainda esse ano.

A Unicafes tem produtos para vender, quatro projetos para os quais quer atrair investimentos – de energia solar, óleos essenciais, leite em pó e farinha de castanha do Brasil e carne bovina (obtida com "carbono neutro") – e interesse em conhecer empresas de máquinas e equipamentos para agricultura familiar. O município de Rio Preto da Eva, vizinho de Manaus, quer apresentar seu enorme potencial em aquicultura. A Federação de Pesca Esportiva deseja mostrar a diversidade de espécies de peixes e a imensidão de águas do Amazonas. E o governo estadual as muitas opções de oportunidades de investimentos em transporte fluvial e aéreo, telecomunicações, refrigeração, turismo ambiental, pesquisa de biodiversidade, entre outras áreas.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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