Entenda as causas da queda das bolsas de valores
Em uma tarde tensa no mercado financeiro global, a bolsa de valores do Brasil, B3, fechou com um recuo 12,1%, aos 86.067 pontos, após ajustes. Esse foi o menor nível desde 27 de dezembro de 2018, quando o índice encerrou o dia aos 85.460 pontos. A queda do dia é a maior desde 10 de setembro de 1998. O dólar comercial fechou o dia vendido a R$ 4,7282, com alta de 2%, depois de o Banco Central entrar no mercado pela segunda vez no dia. Pela manhã, a autoridade monetária vendeu US$ 3 bilhões das reservas internacionais à vista. Agora à tarde, vendeu mais US$ 465 milhões das reservas. No ano, a moeda norte-americana já acumula valorização de 17,9%.
Pela manhã, a B3 (foto) chegou a ter as negociações interrompidas por 30 minutos porque o Ibovespa tinha caído mais de 10%. Esse é o chamado circuit breaker, mecanismo acionado quando o índice cai mais que determinado nível. A última vez em que a bolsa tinha tido as negociações interrompidas foi em maio de 2017, após a divulgação de conversas do então presidente Michel Temer com o empresário Joesley Batista, dono da JBS. A B3 pode acionar novamente o circuit breaker ainda hoje caso o Ibovespa caia mais de 15%.
Os mercados de todo o planeta, que nas últimas semanas têm atravessado momentos de instabilidade por causa do coronavírus, enfrentam um dia de turbulências, após a disputa de preços entre Arábia Saudita e Rússia em torno do petróleo. Membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a Arábia Saudita aumentou a produção de petróleo depois que o governo de Vladimir Putin decidiu não aderir a um acordo para reduzir a extração em todo o mundo.
O aumento de produção num cenário de queda mundial de demanda por causa do coronavírus fez a cotação do barril de petróleo iniciar o dia com queda de mais de 30%. Por volta das 16h, o barril do tipo Brent era vendido a US$ 31,13, com queda de 24,6%. Essa foi a maior queda no preço internacional para um dia desde a Guerra do Golfo, em janeiro de 1991. Para o Brasil, a queda no barril de petróleo afeta as ações da Petrobras, a maior empresa brasileira capitalizada na bolsa. Por volta das 16h, os papéis ordinários (com direito a voto em assembleia de acionistas) da companhia caíam 28%. Os papéis preferenciais (que dão preferência na distribuição de dividendos) caíram 29,7%. Segundo a própria Petrobras, a extração do petróleo na camada pré-sal só é viável quando a cotação do barril está acima de US$ 45.
A queda nas cotações do barril de petróleo traz outras consequências para a economia brasileira. Caso os preços baixos se mantenham, a companhia repassará a queda do preço internacional para a gasolina e o diesel. Se, por um lado, a queda beneficia os consumidores; por outro, prejudica o setor de etanol, que perde competitividade. Os preços mais baixos diminuem a arrecadação de royalties do petróleo e a arrecadação de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual, num momento em que diversos estados atravessam dificuldades financeiras.
As ações da Petrobras centralizavam as atenções, tendo já registrado forte recuo na sexta-feira, após a Rússia se recusar a aderir cortes adicionais de oferta, propostos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para estabilizar os mercados da commodity. Os papéis da Petrobrás estavam em leilão de abertura, apontando quedas de mais de 20% cada. Após a abertura os papéis continuavam movimento e desabavam mais de 23%. O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo federal não vai interferir para controlar o preço do barril de petróleo no Brasil. Em manifestação no seu perfil no Twitter, o presidente reforçou que "não existe possibilidade de o governo aumentar a Cide [Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico] para manter os preços dos combustíveis". "O barril do petróleo caiu, em média, 30% (US$ 35 o barril). A Petrobras continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias", escreveu.
Hoje pela manhã, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer que a crise internacional deve afetar menos o Brasil que outros países porque a economia brasileira é mais fechada que a do resto do mundo. O ministro repetiu que a melhor resposta para a crise é a continuidade da agenda de reformas e reiterou que a reforma administrativa pode ser enviada ao Congresso ainda esta semana.
Bolsas europeias
As ações europeias terminaram em uma mínima de oito meses hoje. O subíndice de petróleo e gás sofreu as maiores perdas, com uma queda de quase 17% depois que os preços do petróleo perderam um terço de seu valor devido às preocupações com a guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia.
O índice FTSEurofirst 300 caiu 7,5%, a 1.324 pontos, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 retrocedeu 7,4%, a 340 pontos, pior dia desde a crise financeira de 2008 e 2009. A queda significou uma virada para um território baixista, implicando uma queda de mais de 20% do índice em relação a seus picos recentes. As empresas europeias perderam agora quase US$ 3 trilhões em valor de mercado desde que a rápida disseminação do coronavírus provocou uma liquidação mundial em fevereiro, conforme o surto parece poder perturbar a atividade econômica em todo o mundo. "O choque no petróleo agrava o que o coronavírus está fazendo com a economia global", avaliou Andrea Cicione, chefe de estratégia da TS Lombard.
Em Londres, o índice Financial Times recuou 7,6%, a 5.965 pontos. Em Frankfurt, o índice DAX caiu 7,9%, a 10.625 pontos. Em Paris, o índice CAC-40 perdeu 8,3%, a 4.707 pontos. Em Milão, o índice Ftse/Mib teve desvalorização de 1,1%, a 18.475 pontos. Em Madri, o índice Ibex-35 registrou baixa de 7,9%, a 7.708 pontos. Em Lisboa, o índice PSI20 desvalorizou-se 8,6%, a 4.266 pontos.
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