Dólar tem forte alta e fecha no maior valor desde 1º de junho
O dólar fechou em forte alta ante o real nesta quinta-feira (18), terminando no maior patamar desde 1º de junho e não apenas revertendo a queda acumulada no mês como passando a subir, puxado pela combinação de exterior arisco e de noticiário local ainda inspirando cautela para o câmbio. O dólar à vista subiu 2,1%, a R$ 5,3715 na venda. É o maior patamar desde 1º de junho (R$ 5,3843) e o sétimo pregão consecutivo de alta. A volatilidade seguiu presente e intensa. Na máxima, a cotação saltou 2,4%, a R$ 5,3893, depois de chegar a cair 0,6%, a R$ 5,2285.
O dólar reverteu a queda de 1,4% em junho até a véspera e passou a subir 0,5%. Na semana, a moeda ganha 6,4%. No ano, o dólar dispara 33,8%, o que mantém com folga o real na lanterna entre as principais divisas globais. A valorização do dólar no Brasil decorreu em boa parte da força da moeda no exterior, onde receios sobre uma segunda onda de Covid-19 em economias centrais conduziram investidores a ativos considerados seguros, como dólar, iene e títulos do Tesouro norte-americano.
Pares emergentes do real também mostraram firmes quedas. O peso mexicano cedia 2,1% no fim da tarde. Mas, de novo, a taxa de câmbio brasileira liderou as perdas globais, em meio a um fluxo de notícias do lado político que ainda dita cautela, um dia depois de o Banco Central sinalizar chance de novo corte da taxa básica de juros da economia, a Selic – que caiu na véspera a nova mínima recorde de 2,25% ao ano.
A queda dos juros é citada como elemento que pressionou o câmbio nos últimos tempos, já que reduziu a taxa paga por títulos de renda fixa e colocou o Brasil em desvantagem em relação a outros emergentes com juros básicos mais elevados. Pesa sobre o real o fato de os retornos da renda fixa estarem em queda livre enquanto a percepção de risco segue elevada –contrariando a lei do mercado de quanto menor o retorno, menor o risco. O risco-país medido pelo CDS de cinco anos subiu nesta sessão, enquanto a inclinação da curva de juros – outra medida de risco – também mostrou alta, com expressivo ganho de prêmio nos contratos longos, estes mais associados ao cenário estrutural para a economia.
No noticiário político, Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta quinta-feira em Atibaia, interior de São Paulo, pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado. O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou uma série de recados indiretos ao governo Jair Bolsonaro nesta quinta-feira, ao dar o nono voto a favor da legalidade do inquérito das fake news. Abraham Weintraub anunciou nesta quinta-feira, em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que está deixando o Ministério da Educação e que irá assumir uma diretoria do Banco Mundial. A demissão de Weintraub vinha sendo negociada há algumas semanas, mas Bolsonaro não queria deixar o ministro, um de seus maiores defensores, sair sem ter um novo cargo.
"Nossa avaliação [sobre mercado] sempre contempla a questão do risco político", avalia Adriano Cantreva, sócio e responsável pela gestão de portfólios da Portofino Investimentos. "Pela falta de conhecimento total dos fatos, sempre existe uma nuvem que vai acabar afetando preços e deixando gestores mais desconfortáveis", acrescenta. Para ele, o patamar atual do real não parece fora do que seria um nível condizente com o atual combo de riscos. "Mas quando se pensa em crescimento [econômico], por exemplo, se houver frustração, o real poderá desvalorizar ainda mais", prevê.
O banco Crédit Agricole recomenda compra de dólar e mira a taxa de R$ 5,650, citando enfraquecimento do apetite por risco, consequências da pandemia, sinalização de mais afrouxamento monetário pelo Banco Central, maior tensão política em Brasília e incerteza sobre agenda de reformas. "O real já havia perdido status de moeda de carry, mas o BC continuar cortando o juro obviamente não ajuda", analisa o estrategista sênior para mercados emergentes Italo Lombardi. "É tanta incerteza no radar, incluindo fiscal, que você pode ver de novo o dólar sofrer um overshooting [reação exagerada] para perto das máximas históricas", crê Lombardi.
O recorde de fechamento nominal para o dólar foi alcançado no último dia 13 de maio (R$ 5,9012). Ante essa cotação, a moeda acumulou queda de 17,73 ao bater a mínima recente de 8 de junho (R$ 4,855), mas desde essa data disparou 10,6%, reduzindo as perdas frente ao pico histórico para 8,9%.
*Com Agência Reuters
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