Rabino Sobel, um grande homem
Faleceu nesta sexta-feira em Miami, Flórida, o rabino Henry Sobel (foto), aos 75 anos. Olho em retrospectiva sua biografia e só agora me dou conta de que ele era um jovem de apenas 30 anos quando, com a força indizível de seu carisma, cerrou fileiras com D. Paulo Evaristo Arns e com reverendo James Wright, no culto ecumênico em memória do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto nos porões do DOI-CODI, em 1975. Rebatendo a versão de que a vítima se suicidara – o que teria implicações de rito fúnebre bem específicas sob a ótica do judaísmo –, Sobel mostrou desassombro e, naquele momento, comprometimento inarredável com o despertar democrático do Brasil.
Tive o privilégio de estar com ele algumas vezes nos eventos da comunidade judaica de São Paulo. Não era raro que o encontrasse com a família nos aeroportos, especialmente entre os Estados Unidos e o Brasil. Reconhecido à distância pela exuberante quipá cor de vinho e pelos bastos cabelos, Sobel era simpático e acolhedor; sabia agregar como poucos e irradiava calor humano no olhar faiscante. Não foi por outra razão que terminou virando personagem de paródias televisivas, calcadas em seus traços mais marcantes. Qualquer cerimônia oficiada tinha em sua fala um ponto alto, ou seja, ninguém desligava a atenção até que concluísse, fato tão corriqueiro.
Como todos nós, Henry Sobel também esteve sujeito a maus momentos, àqueles em que o humor sofre por conta de transtornos medicamentosos, e não raro pelo próprio peso da missão que lhe competia. Se houve algum prejuízo de imagem pública, há de se crer que seus créditos excediam em muitas vezes o que se poderia ali chamar de desvios menores de conduta. Nos últimos dez anos grosso modo, as novas gerações de judeus e não-judeus já não tiveram a primazia de conhecer esse homem a quem o diálogo inter-religioso tanto deve. Estávamos no mesmo avião quando ele foi a Roma estar com o papa Bento XVI. Henry Sobel (Z"L) foi um religioso estadista.
Baruch Dayan Haemet.
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