Anfavea projeta quedas superiores a 30% no ano

Associação revisou os dados do setor para 2020
De acordo com a Anfavea, o setor de ônibus é o que mais tem sofrido com a pandemia dentro da cadeia automotiva

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou nesta quarta-feira (7) os números do setor no último mês, melhor do ano em produção e vendas. Setembro fechou o melhor trimestre do ano, após os sucessivos recordes negativos do segundo trimestre, altamente impactado pela pandemia do novo coronavírus. Faltando três meses para o encerramento, a entidade refez suas projeções para 2020, indicando um cenário menos pior do que aquele apresentado na metade do ano, no auge da quarentena, quando se previam quedas de 40% ou mais.

Apesar da recuperação dos últimos meses, as novas projeções ainda apontam fortes quedas em todos os indicadores. A produção estimada para o fim do ano é de 1,915 milhão de unidades, queda de 35% sobre 2019 e pior ano desde 2003. A expectativa da Anfavea para o mercado interno de veículos novos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) é de 1,925 milhão de unidades licenciadas no ano, queda de 31% e pior resultado desde 2005. Nas exportações, estima-se o envio total de 284 mil unidades, 34% a menos que no ano anterior, pior volume desde 1999. Para o setor de máquinas agrícolas e rodoviárias, as projeções são um pouco melhores, com crescimento de 5% nas vendas, mas quedas de 4% na produção e de 31% nas exportações.

Os resultados de setembro consolidaram a recuperação do terceiro trimestre. A produção de 220.162 veículos foi 4,4% superior à de agosto, mas 11% menor que a de setembro de 2019. No acumulado dos nove meses, o recuo é de 41,1%. O mercado interno fechou o mês com 207.710 unidades licenciadas, alta de 13,3% sobre o mês anterior, com retração de 11,6% sobre o mesmo mês do ano passado (queda acumulada de 32,3% no ano). Para o último trimestre do ano, a Anfavea espera números similares aos de setembro.

"Se por um lado há sinais positivos, como a redução dos casos de Covid, o alto interesse pelo transporte individual e o tradicional aquecimento do mercado no fim do ano, por outro há riscos como a redução do auxílio emergencial, a queda no nível de renda, a alta do desemprego e o aumento da inflação", exemplifica Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade. O presidente da Anfavea também prevê reajuste de preços, principalmente vindo de fornecedores de médio porte da cadeia automotiva. Diferentemente das grandes montadoras, as companhias menores não possuem contratos de longo prazo de matérias-primas, como o aço, por exemplo.

Ele também se mostrou preocupado com a demora do governo em devolver para as empresas do setor valores referentes ao crédito tributário. "Não desistiremos nunca [deste pleito]. Na prática, a indústria está financiando o Estado e isso impede que façamos novos investimentos", cobrou Moraes. "Espero que na transição do sistema atual tributário para o novo tenhamos condições de receber esse dinheiro, pois é um direito das empresas, não apenas da cadeia automobilística, mas de outros setores também. Se trata de uma dívida pública não registrada e é inadmissível que o governo contingencie um valor significativo como esse", protestou. Até maio, a Anfavea calculava que do total de R$ 25 bilhões em créditos tributários acumulados pelas montadoras, R$ 15 bilhões seriam de responsabilidade do governo federal e outros R$ 10 bilhões dos Estados, principalmente de ICMS recolhido e não devolvido em operações de exportações de veículos.

Fase delicada
De acordo com a Anfavea, o setor de ônibus é o que mais tem sofrido com a pandemia, pois o transporte público foi atingido fortemente. A produção, no entanto, está sendo possível graças ao programa Caminho da Escola, cujas licitações foram feitos nos anos anteriores e a entrega vem sendo feita ao longo de 2020 e deve perdurar até o final deste ano. "O fretamento teve alguma melhora, pois as medidas de restrição impostas pelo coronavírus fizeram com que um veículo tivesse metade da lotação. Empresas que necessitaram levar seus funcionários até o local de trabalho, por exemplo, precisaram contratar mais ônibus", explicou Marco Antonio Saltini, vice-presidente da Anfavea e diretor de Relações Governamentais e Institucionais da MAN Latin America.

Essa situação fez com que a Marcopolo anunciasse o fim das operações da planta em Duque de Caxias (RJ). O fechamento da planta, especializada em modelos urbanos, ocorrerá no final deste mês. A produção será transferida para a planta de São Mateus (ES) e para unidades de Caxias do Sul (RS), sede da companhia. Segundo empresa, a medida é para redução de custos e incremento da eficiência com a concentração das operações brasileiras em um número menor de fábricas. Sozinha, a Marcopolo responde por quase a metade da produção de ônibus no Brasil. "O setor está passando por uma fase muito delicada. O governo suspendeu os financiamentos do Finame, quando deveria tê-los prorrogado. Isso possivelmente causará inadimplência. Se nada for feito, veremos um desastre ainda maior", projetou Saltini.

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Quarta, 24 Abril 2024

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