Quem pode me explicar?
De São Paulo
Todo mundo sabe quem é esse trio, não é? São três dos homens mais ricos do Brasil. Juntos eles têm mais dinheiro do que todos os pobres do Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste somados. Embora a estimativa seja minha, não deve estar muito errada. Egressos do Banco Garantia, uma academia de samurais na excelência – trabalho duro, bônus estratosféricos, resultados ou rua –, eles compraram há uns 40 anos as Lojas Americanas, espécie de cabeça de ponte para o varejo, a que se somaria mais tarde a saga das cervejarias, que culminou com o desembarque em "fast food" World Class. Dito de outra forma: o faro matador de banqueiro habilitou-os a fazer dezenas de aquisições mundo afora e alguns dos homens mais ricos do mundo os admiram abertamente. Warren Buffet, com quem tive o prazer de almoçar certa vez no Flatiron, de Omaha, comendo seu bife preferido, sempre diz que nunca viu Jorge Paulo Lemann abrir a boca para dizer parvoíces. Insiste que seguiria um conselho seu cegamente. Mas a história aqui é outra e já vamos a ela.
Desde a segunda-feira da semana passada, assumiu a presidência da Americanas o mega executivo Sérgio Rial, ex-Santander, contratação esta que já estava anunciada desde setembro. O que aconteceu? Mal sentou na cadeira, Rial levou um susto. Bastou dar uma olhada no balanço para detectar "inconsistência financeiras" que se elevam a R$ 20 bi, algo como estratosféricas 40 vezes o valor da mega Sena da virada. Na Boeing, isso já seria uma cifra potente; no Paris Saint-Germain, daria para rodar 5 folhas de pagamento. E tudo isso, sem esquecer que a Americanas tem um "small ticket", ou seja, constrói o seu faturamento em cima de quinquilharias, celulares, batata frita sabor de churrasco e chicletes Adams. Como se chega a um número desse? E como é que ases das finanças, três raposas que detectam um centavo fora do lugar a milhas de distância, podem ter deixado isso se acumular tão temerariamente, a ponto de fazer Rial empalidecer e quase sumir embaixo da mesa? O que teria acontecido, considerando que o antecessor ficou muitos anos lá? Quem tem uma boa explicação?
Já vi aberrações de governança. Coisas sinistras em mega empresas familiares brasileiras, casos que a direção tratava de encobrir para evitar que a família caísse no ridículo e a empresa no descrédito. Mas algo assim na catedral das finanças é difícil de imaginar. E, no entanto, Rial chegou e bradou um "vade retro satanás". Cotada em bolsa, o que estaria acontecendo no âmbito da boa empresa aberta brasileira? E, entre nós, é justificável que o Rial se escafedesse e deixasse todo mundo com a broxa na mão, mal começou? Não era parte do acordo que ele deveria auditar, punir, cobrir e promover? Ou será que ele tinha uma oferta à espera e só foi para a Americanas porque estava apalavrado? Nada disso importa diante da perplexidade generalizada. Para que um valor chegue a essa magnitude dentro do ramo, tem que haver uma espécie de conluio organizado intramuros. Ou não precisa ser intramuros? Vocês dirão. Será que temos mesmo que dar a mão à palmatória às velhas e boas empresas familiares que conseguem passar ao largo de surpresas desse tipo?
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