O futuro da saúde tem a Holanda como inspiração
A quarta revolução industrial é uma realidade, assim como inovações como inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), machine learning, chatbots, entre muitas outras que estão possibilitando evoluções em todos os campos. E se há uma área de interface entre a tecnologia e a população, é a saúde. Para fazer um panorama sobre o futuro do setor no Rio Grande do Sul, segundo principal cluster de saúde do Brasil, “Tá na Mesa”, tradicional evento promovido pela Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), convidou os dirigentes dos hospitais Mãe de Deus, São Lucas, Santa Casa de Misericórdia, Moinhos de Vento e Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) para debaterem os novos horizontes da área. A mesa-redonda reuniu empresários, políticos e a imprensa nesta quarta-feira (7), na capital gaúcha.
A inspiração vem da Holanda. No país reconhecido pelas bicicletas que lotam as ruas, é a qualidade de vida e a assistência primária que transformaram a pequena nação do noroeste europeu numa referência em sistema de saúde. Na pontuação, que vai até 1 mil, a Holanda alcançou 924 na edição deste ano do ranking da Health Consumer Powerhouse, organização sueca que funciona como um observatório do consumidor para serviços de saúde. Hoje, 99% dos holandeses têm um médico da família que resolve 96% dos casos de saúde. Hospital só em caso de acidente ou por indicação médica.
Essa é a política do “não-hospital”, diferente do modelo de portas abertas que há no Brasil. “O aumento da expectativa de vida e dos hábitos da população é mais um motivo repensar a saúde, para passarmos da prevenção para a predição”, frisa Mohamed Parrini (na foto, o quinto da esquerda para a direita), superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento. O centro de saúde é considerado o 15º melhor hospital da América Latina e quarto melhor do Brasil, em ranking da revista de negócios América Economia Intelligence. “Não há nenhuma tecnologia no Brasil ou no mundo que não exista no Moinhos de Vento”, sintetiza Parrini. E ainda que as revoluções tecnológicas impactem profundamente essa área, ele defende que o futuro da saúde passa por algo primordial: a qualificação das equipes de atendimento. “Temos de proteger os nossos cérebros, os nossos talentos. Queremos que as pessoas se formem e continuem no estado. Isso para que os nossos pacientes também sigam aqui, sem precisar procurar por tratamentos fora [do Rio Grande do Sul]”, explica.
Uma formação mais humanizada dos profissionais da área também passa pelas preocupações do HCPA, um hospital universitário vinculado academicamente à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “Precisamos formar os jovens já com os princípios de eficiência, mas que saibam escutar os pacientes”, analisa Nadine Clausell (na foto, a terceira da esquerda para a direita), presidente da instituição. Das 569 mil consultas e 3,1 milhões de exames realizados, cerca de 90% dos pacientes são provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Além da maior hierarquização do sistema – atender os pacientes dentro das especialidades e graus de complexidade necessários –, a presidente também defendeu um modelo de remuneração médica que valorize os profissionais que mantém seus pacientes saudáveis, no lugar do um padrão atual que quantifica somente os atendimentos.
Cada vez mais multidisciplinar e interdisciplinar, é assim que Saulo Bornhorst (na foto, o sexto da esquerda para a direita), diretor técnico do Hospital São Lucas, avalia o quadro funcional da unidade de saúde. Ligado à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o hospital-escola está de olho no parque tecnológico da universidade para gerar mais inovação. Para o segundo semestre deste ano, o São Lucas pretende lançar o BioHub, uma área voltada a novos projetos em saúde, atraindo startups e empresas para agregarem ao grupo de 10 negócios que já atuam nisso dentro do parque tecnológico. Para os próximos três anos, R$ 92 milhões devem ser investidos em novas áreas de blocos cirúrgicos, maternidade, emergência, internação, entre outras melhorias.
Outro hospital que é referência na formação de profissionais é a Santa Casa de Misericórdia, um complexo que reúne nove hospitais. Ligado à Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA), a Santa Casa viu nas pesquisas uma forma de gerar renda e pagar o déficit deixado pela falta de repasse de verbas do SUS. Só no ano passado, o déficit foi de R$ 135,7 milhões, uma vez que a cada R$ 100 gastos com pacientes do SUS, apenas 59 são pagos à instituição. “Do jeito que está, o sistema é completamente insustentável”, ressalta Julio Matos, diretor-geral da Santa Casa (na foto, o segundo da esquerda para a direita). Os 26 núcleos de pesquisadores do complexo atuam no desenvolvimento de 143 projetos ligados à diferentes áreas da saúde. "Os ativos do conhecimento geraram para o caixa da Santa Casa cerca de R$ 2,5 milhões em resultados no último ano", conta. Até junho, o hospital destinou R$ 30 milhões em tecnologias, como Laura, uma plataforma de inteligência artificial que faz gerenciamento de riscos, identificando quais pacientes estão em risco ou nas circunstâncias de sepse [uma complicação potencialmente fatal de uma infecção].
Um dos principais itens revelados durante os painéis foi a necessidade de um centro de integração das informações e históricos de cada paciente. “Uma melhor gestão das informações permitiria que elas sejam compartilhadas entre as equipes, incluindo exames, resultados e prontuários, aumentando a assertividade”, acredita Fábio Fraga (na foto, o primeiro da esquerda para a direita), superintendente executivo do Hospital Mãe de Deus. Assim, reduz-se o risco de extravio de documentos, por exemplo, ou perda do histórico do paciente, como as medicações e procedimentos já realizados. O emprego correto da tecnologia já é algo que tem surtido efeito no hospital. Foi assim que o Mãe de Deus reduziu o tempo de espera na emergência para até menos de 15 minutos. Mais de 200 pacientes passam diariamente pelo setor e 80% deles já são encaminhados dentro desse prazo, graças a uma ferramenta que otimiza esse processo e também diminuiu os gargalos na gestão de leitos.
Até 2024 mais de R$ 670 milhões devem ser investidos na saúde do estado por essas entidades. Para Simone Leite (na foto, a quarta da esquerda para a direita), presidente da Federasul, o encontro histórico também é um propulsor para se pensar na saúde como um gerador de riqueza para o Rio Grande do Sul.
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