O atraso na vacinação revela uma lição para as empresas brasileiras

Um plano tem de ser entendido como o começo, o meio e o fim de um projeto de sucesso
Em minhas investidas dentro das companhias, sempre bati na tecla de que ter um bom planejamento estratégico é como fazer a fundação de um prédio: a base sustenta tudo

Há mais de cinco décadas frequento ambientes corporativos. Gosto de conversar com funcionários de áreas diferentes, colegas de gestão de pessoas em empresas de diversos setores. Em minhas investidas dentro das companhias, sempre bati na tecla de que ter um bom planejamento estratégico, de projeto ou mesmo de ação é como fazer a fundação de um prédio: a base sustenta tudo.

Porém, não pense que a vida é fácil. Nem sempre os gestores do alto escalão de uma corporação aceitam esses argumentos. Parte ainda prefere insistir no "vamos começar pelo 'final'" ou "quando chegar o momento a gente vê no que dá e adapta conforme a demanda". Pois bem, essa ideia não é nem um pouco esperta ou inteligente. Quando se tem um plano de ação bem modelado, você consegue abrir todo o projeto e visualizá-lo no agora, em médio e longo prazos. É possível simular cenários, prever recursos, treinar pessoas e deslocar equipes, saboreando as conquistas em etapas.

Além do mais, um plano bem delineado é passível de adaptação dentro de uma margem de erros. Recuos ou inserções podem ser feitos, mas nunca mudando a estrutura original, a base de sustentação que precisa estar centrada no alvo onde se deseja chegar. Usando um exemplo real, peguemos o evidente problema que o Brasil está enfrentando na escassez de vacinas. Ouço muitas pessoas apontarem que, devido à demanda mundial, o país não consegue comprar doses e avançar na imunização, que agora parece ser a única alternativa para barrar o vírus, salvar vidas e recuperar a economia. Mas não é bem assim.

A falta de planejamento por parte das autoridades municipais, estaduais e federais está cobrando um preço alto. Um plano de imunização precisava ter sido traçado lá atrás, quando surgiu o vírus, antevendo que, em algum momento, vacinas ou remédios chegariam. Em vez disso, parte das autoridades desacreditou nos imunizantes achando que, quando houvesse algo no mercado, as farmacêuticas iriam correr atrás do país. Engano. Quem começou a correr atrás do prejuízo foi o Brasil.

Neste intervalo de tempo, as poucas doses que chegam precisam ser distribuídas, legitimamente, para grupos prioritários. A falta de planejamento, mais uma vez, causou estresse: dentro desses grupos, era necessário ter novas prioridades. E foi um festival de erros, com aplicação em pessoas que não atuam na linha de frente e que não teriam prioridade frente a idosos de idade avançada ou com comorbidades. A falta de um plano bem delineado ainda causou o desperdício das poucas doses em algumas regiões do país, por não ter sido feito um treinamento de profissionais.

Some-se a isso ainda a ausência de um plano para a realização de uma ampla campanha em apoio à adesão da vacina, o que acabou resultando em desconfiança de parte da população. O estresse foi geral em prefeituras, governos e, claro, na população atingida, tanto em relação à saúde quanto à vida financeira. Tudo isso poderia ter sido minimizado se um plano estratégico fosse efetivamente construído com dedicação e primazia. Trago este exemplo porque ele é nítido no Brasil de hoje, mas serve de alerta para todas as empresas. Planejar não é desperdiçar tempo. Planos fazem parte de bons projetos, do êxito de uma ação, do alcance de metas e objetivos. Um plano tem de ser entendido como o começo, o meio e o fim de um projeto de sucesso nas empresas. Pensemos nisso!

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Quinta, 21 Novembro 2024

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