E Darwin descobriu a pivotagem
As coisas mudam de nome, mas continuam a ser o que sempre foram e serão. No futebol, “marcar alto” chamava-se de “marcar a saída de bola”; valorizar o “jogo apoiado” era “trocar passes”; e “jogar por uma bola”, “retranca” pura e simples. Nos negócios, “performar” é o velho “desempenhar”, “pivotar” era “mudar” e a atual “reinvenção” corresponde à antiga “adaptação”.
Tome-se o caso de uma empresa familiar norte-americana de 200 anos. Sim, 200 anos – ou 203, para ser mais preciso. Nascida em 1815 como fabricante de velas de barcos, a companhia ocupa-se, hoje, de construir tendas para eventos, bem como alugar outros itens típicos para festas, como mesas, cadeiras e talheres.
A trajetória da Loane Bros, de Baltimore, nos Estados Unidos, é uma pequena aula de “pivotagem” e “reinvenção”, se você quiser, ou da boa e velha capacidade de mudança adaptação, caso prefira o vocabulário tradicional. Acompanhe:
“à medida que (...) o vapor superou o uso da vela pelos barcos, a fabricação de velas praticamente se tornou obsoleta no início do século 20. Mas, em seguida, a demanda por toldos para os quentes verões de Baltimore criou um novo nicho de mercado. Em seguida, conforme o ar-condicionado conquistava seu espaço, (...) encolhendo a demanda por toldos, a empresa passou a focar na fabricação e aluguel de tendas para festas. Além de alugar tendas para todo tipo de evento, (...) a empresa passou a oferecer outros itens necessários para festas grandes, como mesas e cadeiras, taças de vinho e até uma pista de dança” (matéria completa aqui).
Se buscarmos a trajetória de multinacionais como Nokia e Peugeot, ou de empresas do Sul como Todeschini e Grendene, encontraremos percursos semelhantes: mudanças radicais de setor de atuação devido a obstáculos intransponíveis ou oportunidades improváveis.
O motivo? Como bem afirmou uma pesquisadora consultada sobre o caso da Loanes, "o legado da família é o empreendedorismo, e não algo particular que pode ou não atender a uma demanda ao longo do tempo".
Nada muito diferente daquilo que se deve almejar para a vida profissional de cada um, atualmente. Na era da “trabalhabilidade” – e não mais da “empregabilidade” –, somos menos uma profissão do que um conjunto de habilidades e recursos acumulados ao longo do tempo. Habilidades e recursos esses que devem nos permitir transitar por um rol relativamente amplo de atividades, e não uma função ou tarefa única e específica, passível de extinção a qualquer momento.
Por isso, quando alguém falar em “pivotagem” e “reinvenção”, estará apenas dando um nome novo a um fenômeno observável desde 1815, data de fundação da Loanes, e teorizado 44 anos depois em livro escrito não por Peter Drucker, Jim Collins ou qualquer outro guru do management.
E sim por um tal de Charles Darwin, em “A origem das espécies”.
Veja mais notícias sobre Gestão.
Comentários: