A cultura de alta performance na nova ordem tecnológica: do caos à abundância

O ritmo da transformação acelerada impacta vários setores
Lauro Valente, Head de TI do Grupo Volvo, destaca neste artigo exclusivo que a combinação do poder das ferramentas com a mudança cultural pode ser a resposta para uma realidade que muda velozmente

Vivemos um momento histórico: ondas de transformação que antes se sucediam, agora se sobrepõem tornando as mudanças cada vez maiores e mais rápidas. O que motiva esta convergência? Quais impactos percebemos para os setores?

Pense na indústria automotiva e suas três revoluções simultâneas: eletrificação, digitalização e Inteligência Artificial (IA). Carros elétricos estão nas ruas enquanto, nos bastidores, a IA redefine fábricas, produtos e a experiência do cliente recentemente digitalizada. Esta convergência está criando um mundo impressionantemente veloz. Resultados que antes levavam anos, agora são alcançados em meses; e com equipes cada vez mais enxutas. O ChatGPT é o exemplo perfeito: precisou de apenas cinco dias para conquistar 1 milhão de usuários Enquanto isso, startups se tornam bilionárias em tempo recorde, desafiando a lógica de que "mais gente" significa "mais resultado".

Também vivemos uma coexistência geracional inédita: um jovem aprendiz de 16 anos trabalha lado a lado com um profissional de 70 anos. O ciclo geracional, que antes durava 25 anos, agora se renova em 12 anos. Em paralelo, temos o impacto do fim do bônus demográfico em todas as regiões do mundo, impactando a força de trabalho disponível nos próximos anos. Especialmente no Brasil, estamos mais vulneráveis do que o restante do mundo. Estamos caminhando para um mundo abundante em todas as dimensões. Ainda assim, esse mundo será frágil, incerto e não linear.

Especialistas teimam em não concordar entre si. Por exemplo, Eric Schmidt, ex-CEO do Google, afirma que subestimamos a revolução da IA; e afirma: "Quem atingir a superinteligência primeiro, manterá vantagem permanente". Gigantes como Reid Hoffman (LinkedIn founder) e Ray Kurzweil (diretor de estratégia no Google) veem um futuro otimista, enquanto Mustafa Suleyman (cofundador do Google DeepMind e atual CEO da Microsoft AI) e Yuval Harari (autor do Homo sapiens e Nexus) alertam para riscos existenciais.

Como nos posicionar nesse cenário de visões extremas, mas em um mundo que muda tudo rapidamente e de forma bastante drástica? A resposta pode estar em combinar poder das ferramentas com mudança cultural. O conceito-chave aqui é a abundância digital, que se manifesta de forma prática através de:

1. Respostas abundantes: acesso instantâneo e barato a informação qualificada (o ChatGPT respondendo perguntas, por exemplo);

2. Perguntas provocativas e abundantes: IA desafiando ideias e testando hipóteses para aprimorar o pensamento crítico (mais um exemplo: os chatbots para retenção de clientes);

3. Análises em linguagem natural abundantes: interpretação de grandes volumes de dados com empatia, elevado rigor científico e velocidade (Deep search do ChatGPT, Perplexity, Manus).

4. Interações multiespecialidade abundantes: agentes artificiais colaborando para resolver problemas complexos (colaboração via GibberLink).

5. Execuções sistêmicas abundantes: a IA planejando, executando e ajustando ações em tempo real (como desenvolver softwares com o auxílio da IA).

Casos reais: a revolução já começou
O futuro já é presente. A Expedia usa três agentes de IA para otimizar seu marketing. O desenvolvedor paranaense Danilo Brizola criou uma solução funcional do zero em apenas dez minutos com o auxílio da IA. A Klarna, uma das maiores fintechs do mundo, baseou seu atendimento e retenção de clientes em IA conversacional, economizando tempo e dinheiro.Todos esses casos utilizam-se das máquinas para atividades cognitivas complexas.

A pergunta que fica é: o que resta para nós, humanos? Temos, agora, chances de refletir profundamente sobre esta pergunta. E repensar nosso propósito e o uso do nosso poder de escolha. Como disse o filósofo John Locke, "liberdade é a capacidade de ser dono dos próprios pensamentos e ações".

Para além do propósito, temos de buscar certas habilidades pragmáticas para navegar pelo novo paradigma. Segundo o Future of Jobs Report 2025, publicado pelo WEF, até 2030, precisamos de uma combinação de hard e soft skills:

  • Inteligência Artificial e Big Data;
  • Letramento tecnológico;
  • Pensamento analítico e criativo;
  • Resiliência, agilidade e flexibilidade.

  • O papel da difusão destes conceitos
    Mas é através da difusão, conceito explorado por Jeffrey Ding, que tudo se costura. Segundo ele, a verdadeira riqueza está na capacidade de copiar, adaptar e escalar conceitos e tecnologia com eficiência. Para isso, precisamos de infraestrutura, instituições, educação e boas políticas. Eis quatro conclusões dos impactos da IA para líderes e decisores:

    1. Propósito: precisamos refletir sobre como vamos praticar nossa autonomia;

    2. Hard skills: IA, dados, e fluência tecnológica.

    3. Soft skills: pensamento crítico, empatia e resiliência.

    4. Difusão: copiar, adaptar e escalar como motor de desenvolvimento.

    Ao unir todos esses elementos, criamos organizações capazes de hiperpersonalizar soluções e gerar valor com velocidade, qualidade e acessibilidade, tornando nossa vida ainda mais recheada de possibilidades. É com isso em mente que tantos autores têm se posicionado que "a próxima revolução não é artificial, mas, sim, humana."

    *Head de TI do Grupo Volvo e um dos Top 50 Executivos em Inovação e Tecnologia pelo Inovatech 2024.

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    Quinta, 11 Setembro 2025

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