Como saber se uma ideia é realmente boa?
Falta aos empreendedores perceberem as necessidades dos consumidores no momento atual, revela Steve Blank em conferência no Sul
Em um mundo em que a única semelhança das atuais startups com as que surgiram há 25 anos é o nome, como encontrar uma maneira de entender e se destacar em meio às mudanças pelas quais o empreendedorismo passa? Ao ouvir Steve Blank, professor adjunto em Stanford considerado o pai do empreendedorismo moderno, as respostas parecem ser simples. Na última sexta-feira (12), ele compartilhou alguma delas ao longo do evento Tecnopuc Talks, promovido pelo Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc).
Conhecido por desenvolver a metodologia Customer Development, Blank lançou as bases para o movimento Lean Startup (Startup Enxuta) e mudou a forma como as startups são construídas. Ao estrelar na capa da Harvard Business Review em maio de 2013, o empreendedor do Vale do Silício redefiniu o modo como as grandes empresas podem inovar com rapidez. "Há 25 anos, investidores e empreendedores enxergavam startups como empresas menores. Isso implicava que tudo que grandes empresas faziam deveria ser feito por startups, com cada área seguindo planos pré-concebidos. Mas descobrimos que isso estava errado, e startups buscam por modelos de negócio enquanto grandes organizações os executam", introduziu.
Aí começa um novo desafio para qualquer empreendedor: como saber se uma ideia é realmente boa? Para Blank, a pergunta é correta, mas é frequentemente direcionada ao interlocutor errado. "Por que perguntamos isso a nós mesmos? Será que os clientes acham que nossa ideia é boa? Quando você desenvolve serviços e produtos que as pessoas querem, você recebe essas reações", instiga. Mas o professor também alerta para o fato de que, ao inovar, é comum que as pessoas ainda não sabem que precisam de determinados serviços. "Se mostrasse um iPhone para as pessoas há algumas décadas, ele não teria utilidade alguma. Alguns produtos estão criando um mundo que nunca existiu antes", explica.
Blank ressalta que esse desafio é um dos grandes causadores de erros no processo de criação, já que, quanto mais o desenvolvedor está imerso num mundo inovador, menos ele consegue perceber as necessidades dos consumidores no momento atual. "Enquanto você está tentando vender algo, talvez as pessoas não queiram comprar, e, sim, resolver um problema. Vejo muitos empreendedores pulando a uma solução simplesmente porque querem construir algo em vez de viver um pouco a realidade do consumidor. Por isso as melhores inovações são aquelas desenvolvidas por quem já foi um consumidor", argumenta.
Empreendedorismo e pandemia
Mas, afinal, o que mudou para empreendedores antes e depois da pandemia? Segundo Blank, os novos tempos trouxeram problemas, mas também benefícios para o processo de inovação. O método lean, segundo ele, é muito mais efetivo por videoconferência, já que não necessita do deslocamento físico para conhecer as pessoas. Por outro lado, os novos processos impedem que se entenda o contexto e a nuance das entrevistas, o que diminui a habilidade de ler uma situação. Outra parte ruim é não poder demonstrar os produtos, já que a tendência é apresentar aos consumidores ou possíveis investidores vídeos pré-gravados, o que acaba com a interação ao vivo com o produto.
Mas, afinal, o que mudou para empreendedores antes e depois da pandemia? Segundo Blank, os novos tempos trouxeram problemas, mas também benefícios para o processo de inovação. O método lean, segundo ele, é muito mais efetivo por videoconferência, já que não necessita do deslocamento físico para conhecer as pessoas. Por outro lado, os novos processos impedem que se entenda o contexto e a nuance das entrevistas, o que diminui a habilidade de ler uma situação. Outra parte ruim é não poder demonstrar os produtos, já que a tendência é apresentar aos consumidores ou possíveis investidores vídeos pré-gravados, o que acaba com a interação ao vivo com o produto.
No entanto, o professor também acredita que o mundo virtual trará diversos benefícios ao mercado brasileiro. "O país tem um mercado interno muito grande, e uma barreira de linguagem por falar português, idioma diferente do resto da América do Sul e dos Estados Unidos. E custa muito a empresas que decidem se tornar globais não terem começado já globais. O mercado virtual facilitou muito isso. A maioria das pessoas não sabe de onde você está ligando, ou não se importam. Isso mudou a natureza de inovação e investimento. As empresas estão mais globais do que nunca", comemora.
Outra tendência que surge à pandemia é uma reavaliação de propósito por parte de funcionários e empresas. Afinal, é um bom momento para refletir sobre o tipo de impacto que se quer deixar no mundo. "Quando você constrói empresas, precisa lembrar que em algum momento da sua vida, ou por toda ela, irá pensar em serviços. A questão é que precisamos descobrir se queremos servir a Deus, à nossa família, à nossa comunidade ou ao nosso país, e se podemos fazer isso dentro de uma companhia ou individualmente", reflete. Mas, para ele, o grande segredo é entender se o seu propósito vai contra o fluxo ou a favor dele, algo que pode salvar ou destruir um negócio. "Precisamos pensar em como o capitalismo funciona. Se for fazer algo movido por uma missão, certifique-se de que não está se atirando de uma janela e que entende o ambiente em que está trabalhando, o que motiva o sistema, como você acha que vai mudá-lo e por qual razão", ensina.
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