Uber, foie gras e resorts
Nas muitas cidades de porte que visitei neste ano, o debatesobre o Uber está na ordem do dia. Na porta do hotel em Johannesburg – maisprecisamente diante do terminal de trem de Sandton –, me assustei com a brigacorporal entre taxistas e motoristas provados nervosos, estes alvosda intimidação daqueles. É claro que os usuários também se sentiramacuados. Mas se as máfias do transporte público são de regra na África doSul, nada impedirá o usuário de táxis de se perguntar: mas, afinal, quetal serviço é esse que causa tanta celeuma? Ora, ao cabo de brevepesquisa, com tanta publicidade espontânea, o que acontecerá? O Uberganhará mais adeptos. E o "Fuck Uber" virará "TryUber".
Preocupados, os taxistas que acusam o serviço doaplicativo de ser caronapaga camuflada, desperdiçam preciosa energia remando contra amaré. Conheço um paraibano, há muito radicado em São Paulo,que acabou de vender o táxi. Você acha que eu vou brigar com ofuturo? Doravante, quem for a Patos, lá no Sertão, é só perguntar pelorestaurante de Inácio e lá o encontrará para explicar porque era hora demudar de ramo. O que não quer dizer que não se alcance um meio termointeligente, como já aconteceu em San Francisco. Enquanto isso não chega, abatalha campal continuará acontecendo nas ruas. E, como não, nos tribunais– para delírio da empresa. Ora, renegar é promover.
Certas agendas dão visibilidade enorme ao que se quercombater, alcançando efeito contrário ao intento. Quando o foie gras foi proibidona Califórnia, sob alegação de que os gansos eram submetidos ao brutal gavage – ou alimentaçãoforçada – para que o fígado inchasse e ficasse suculento, os mais radicais nãoquiseram dar ouvidos aos criadores que insistiam que já não se serviam desseexpediente e que as aves bicavam milho no terreiro livremente, até oabate. Mas os talibãs não quiseram saber. O resultado é que a curiosidadeem torno da iguaria disparou. Ora, como poderia acontecer com adolescentesproibidos de namorar, os consumidores também decidiram pagar paraver. Parece que essa rebeldia é inerente à natureza humana.
Outra história que beirou o anedótico foi a tentativa deproibição de resorts turísticosna Grécia, proposta por um inflamado deputado helênico. A alegação delenão era ruim. Esses estabelecimentos distanciam os turistas da economiacriativa. Se todos comem no mesmo local e do mesmo tempero; se ninguémvai às galerias de arte da cidade visitada e tampouco perambula pelas suasruas, todos perderiam, salvo o próprio resort.Mas ora, a muita gente não desagrada a ideia de saber de antemão quanto vaigastar. E nada mais tentador do que passar um só cheque que inclua refeições, traslados, hospedageme lazer. Com a celeuma criada, nunca os resortsestiveram tão cheios desde que passaram a existir. Na verdade, tudo é umaquestão de tom e encaminhamento. Quando há muita gritaria, é sinal de que oargumento é fraco.
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