O banco do futuro terá de correr mais riscos
Alternando frases e espirituosas e sínteses contundentes, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, pautou sua palestra no evento de premiação das 500 MAIORES DO SUL, na manhã desta quarta-feira (22) em Curitiba, por uma nova visão sobre o papel do BNDES e os bancos em geral. “O banco do futuro terá de correr mais riscos”, defendeu Rabello, ao comentar, em tom de autocrítica, que o BNDES apresenta em sua carteira de crédito um índice de inadimplência de apenas 2% entre os seus clientes. “É um índice muito baixo, mesmo depois de uma longa recessão. Temos de respirar o nível de inadimplência da economia real. Não faz mal que o banco também sofra. A não ser que queiramos fechá-lo”, admitiu o economista, sob aplausos dos empresários que foram ao auditório da Expo Unimed receber o prêmio concedido por AMANHÃ e PwC pelo destaque que alcançaram no anuário GRANDES & LÍDERES. “Só precisamos convencer o pessoal do TCU sobre isso”, sorriu, admitindo que um dos desafios de gerir um banco público de um modo menos conservador e mais plugado no ímpeto empreendedor das companhias é o rigor das autoridades de controle, como o Tribunal de Contas da União.
Paulo Rabello de Castro conclamou os empresários a buscarem financiamentos na instituição. “Eu sei que os senhores estão ressabiados e têm receio de comprometer compromissos futuros, tendo em vista que apesar da retomada na economia ainda há capacidade ociosa de aproximadamente 30% em alguns setores. Mas o conjunto destes adiamentos [na tomada de crédito] torna mais extenso ainda o processo gradual de melhora da economia, que poderia ser acelerado”, argumentou.
Com seu estilo descontraído, Rabello procurou negar versões correntes que dão conta de que estaria em rota de colisão com o Ministério da Fazenda ao criar dificuldades para atender à demanda da equipe de Henrique Meirelles, que cobra a devolução antecipada de recursos que o Tesouro Nacional colocou na instituição nos últimos anos. “Não é má vontade, pois não [me] recuso [a fazer] coisa alguma, pois somos um governo só. Mas nós, como brasileiros, achamos que é uma pena que R$ 50 bilhões que poderiam ser injetados na economia estejam sendo usados para pagar dívida pública.” A propósito desta situação, o presidente do BNDES traçou um paralelo entre o que faz o Brasil e o resto do mundo. “Outros países sacralizam o investimento e contingenciam a despesa de custeio. Nós, não. No Brasil, o sagrado é a despesa de custeio, e o recurso para investimento é contingenciado, isto é, se sobrar alguma coisa depois de pagar o custeio aí sim é que cogitamos de fazer investimento.”
No evento de AMANHÃ e PwC, Paulo Rabello de Castro anunciou uma novidade: a instituição sediada no Rio de Janeiro criará em 2018 sete superintendências regionais como forma de se aproximar das companhias. “A missão do banco em 2018 será sair da Avenida Chile. Por essa razão, queremos criar regionais empoderadas e para que empresários possam receber visita de técnicos. Essa é a boa notícia que gostaríamos de anunciar”, afirmou. No Sul, ainda não existe uma definição se a superintendência ficará em Curitiba, Florianópolis ou Porto Alegre. “Acho que vamos ter de fazer um sorteio para não descontentar nenhuma das capitais”, descontraiu. A ideia do BNDES é ir ao encontro empresário “esteja ele onde estiver”, para reforçar a atuação do sistema, que hoje já conta com instituições atuantes – e ele destacou o papel desempenhado na região Sul pelo BRDE.
Rabello de Castro se mostrou otimista com o futuro do país. Depois de 15 trimestres de recessão, e tendo sido vencida a barreira da alta inflação, resta derrotar os spreads bancários. “É um desafio que temos a combater”, afirmou. “O Brasil tem perfeitas condições de surpreender e fazer com que o PIB avance 4% no ano que vem. E digo, ainda, que muito de vocês aqui verão suas empresas obterem um avanço nominal de 10% em 2018 – e muita gente vai rodar acima disso, inclusive”, estimou.
“Lei do sim”
Ao abordar os desafios para modernizar e tornar mais eficiente a administração pública no Brasil, o economista que saiu do IBGE para assumir a liderança do BNDES a convite do presidente Michel Temer enalteceu o papel desempenhado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Mas acho que devemos ir além da Lei de Responsabilidade Fiscal, que é uma espécie de ´Lei do não´, definindo os que os gestores não podem fazer, como por exemplo ultrapassar o orçamento. O que eu defendo é que tenhamos, especialmente alguns Estados, uma Lege, isto é, uma Lei de Eficiência na Gestão do Ente Público, que seria a lei do sim. A LRF é absolutamente necessária, mas é a lei do não pode aquilo, não pode isso. A lei da eficiência seria a lei do sim, ou seja, vamos fazer isso, vamos fazer desse jeito”, comparou. Na visão do presidente do BNDES, governadores, prefeitos ou mesmo presidentes de estatais deveriam assinar um contrato de gestão se comprometendo a entregar certos padrões de desempenho ao final do mandato. Alguns desses índices, inclusive, teriam acompanhamento trimestral. Ao final da gestão, o administrador verificaria se cumpriu as promessas e, ainda deixaria seu plano de visão de futuro para o governante seguinte.
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