Moda, modismo ou tendência?
A reportagem de Zero Hora foi ao litoral do Rio Grande do Sul verificar se alguns produtos ou serviços que fizerem sucesso no verão passado continuam em alta. Paletas mexicanas, bastões de selfie, stand up paddle, carrinhos do tipo “carrega-tudo”estiveram sob a mira dos jornalistas, que os definiram como “tendências” ou “modas de verão” (leia aqui). A oportunidade é boa para discutir as diferenças entre termos frequentemente confundidos em marketing e negócios: tendência, moda e modismo.
Tendências podem ser definidas como comportamentos emergentes – e, portanto, ainda em evolução – observáveis em parcela da população. Esses comportamentos são potencialmente duradouros, ou seja, guardam a possibilidade de se manterem em voga por um período de uma década ou mais, e são originados por transformações no macroambiente – ou seja, na cultura, na política, na economia ou na tecnologia, entre outros. Elas podem ser identificadas a priori, antes de eclodirem de maneira mais clara, bem como a posteriori, quando já se acumulam evidências concretas de sua existência.
Tendências são, portanto, pensamentos, atitudes e ideias, e não produtos ou serviços. Estes podem ser um indicativo da existência de uma tendência, mas não são a tendência em si. Exemplo: a oferta de alimentos orgânicos não é uma tendência propriamente, e sim o reflexo de uma tendência comportamental que dá valor à alimentação saudável e natural. Tendências são traduzíveis pelo universo do consumo, e é assim que os negócios e a sociedade se movem.
Modas, por sua vez, representam a prevalência de um determinado padrão estético em alguma indústria: vestuário, objetos do dia a dia, arquitetura, automóveis etc. Modas vigoram por um período específico, uma vez que precisam ser renovadas para estimular a demanda, e podem – embora não seja obrigatório – estar conectadas a uma tendência. Exemplo: peças de vestuário voltadas a jovens e que remetem ao visual das décadas de 1960 ou 70 são uma moda vinculada à tendência retrô – aquela que valoriza uma época que os jovens atuais não viveram (diferentemente da nostalgia, tendência que tem a ver com a saudade de tempos os quais se viveu).
Modismo, finalmente, refere-se ao sucesso comercial de algum produto ou serviço, em qualquer área, por um período de tempo muito curto – geralmente, uma estação. A razão da curta vida útil do modismo é que ele depende de um fato gerador, de um pretexto para ocorrer: um produto cultural (novela, filme), uma época do ano (verão, inverno), uma data (Carnaval, Natal) ou um evento (Olimpíada, Copa do Mundo, Rock in Rio). É o território perfeito para o consumo descartável e da sazonalidade. Todo verão tem uma música que toca à exaustão de dezembro a março, mas que é esquecida tão logo a estação acabe (felizmente).
Em marketing, tendências, modas e modismos cumprem, cada um deles, uma função. Tendências podem criar novos mercados ou tornar mercados atuais obsoletos; modas podem garantir o sucesso e a sobrevivência de uma empresa no curto prazo; e modismos podem oferecer lucros rápidos para aqueles que embarcarem rapidamente em sua curta viagem de existência. Motivo suficiente para que sejam monitorados com atenção e, principalmente, jamais confundidos uns com os outros.
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