Copom reduz Selic para 3% ao ano para conter impacto de pandemia
Em meio à crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus, o Banco Central (BC) diminuiu os juros básicos da economia pela sétima vez seguida. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic para 3% ao ano, com corte de 0,75 ponto percentual. A decisão era esperada pelos analistas financeiros.
A decisão do Federal Reserve, Banco Central norte-americano, que na semana passada manteve zerados os juros da maior economia do planeta, abriu espaço para a redução adicional. A queda da inflação provocada pela pandemia do novo coronavírus também contribuiu para a decisão.
Com a decisão, a Selic está no menor nível desde o início da série histórica do Banco Central, em 1986. De outubro de 2012 a abril de 2013, a taxa foi mantida em 7,25% ao ano e passou a ser reajustada gradualmente até alcançar 14,25% ao ano em julho de 2015. Em outubro de 2016, o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018, só voltando a ser reduzida em julho de 2019.
"O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reforça que há potenciais limitações para o grau de ajuste adicional. O Comitê avalia que a trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo", relata a nota do Banco Central.
"Dois membros do Comitê ponderaram que, mesmo com a possibilidade de elevação da taxa de juros estrutural, poderia ser oportuno prover todo o estímulo necessário de imediato, em conjunto com a sinalização de manutenção da taxa básica de juros pelos próximos meses, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento da meta para a inflação de 2021", detalha o documento. "Entretanto, foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno. Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião", diz a nota.
"Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da Covid-19. No entanto, o Comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e ressalta que novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos", prevê o Copom.
Inflação
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos 12 meses terminados em março, o indicador fechou em 3,3%, o menor resultado acumulado em 12 meses desde outubro do ano passado. A inflação, que tinha subido no fim do ano passado por causa da alta da carne e do dólar, agora deve cair mais que o previsto por causa das interrupções da produção e do consumo provocadas pela Covid-19.
Para 2020, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu meta de inflação de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não poderá superar 5,5% neste ano nem ficar abaixo de 2,5%. A meta para 2021 foi fixada em 3,75%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
No Relatório de Inflação divulgado no fim de março pelo Banco Central, a autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia o ano em 2,6%. A projeção, no entanto, ficou defasada diante da pandemia de covid-19. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, a inflação oficial deverá fechar o ano em 1,97%, mas as estimativas deverão continuar a cair nos próximos levantamentos.
Repercussão
Com os duros impactos provocados pela pandemia do novo coronavírus na economia, a decisão do Copom de reduzir a taxa de juros é justificada, mas deve vir acompanhada de outras medidas, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). "Os juros baixos podem auxiliar na disponibilidade de crédito a custos mais acessíveis. Porém, somente a retomada gradual da atividade poderá evitar um agravamento da crise econômica", aponta Gilberto Petry, presidente da entidade.
Para ele, o Brasil vive os primeiros impactos da grave crise na economia brasileira causada pelo coronavírus mas, infelizmente, seus efeitos serão duradouros. O presidente da Fiergs lembra que antes da epidemia o desemprego já era grande e agora há alto risco de aumentar por causa da menor atividade nos diferentes setores econômicos, que sofrem com a menor demanda e com restrições para retomar a atividade. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego foi de 12,2% no primeiro trimestre deste ano, uma alta de 1,2 ponto percentual na comparação com o último trimestre de 2019. Assim, o número de desempregados subiu para 12,9 milhões, uma alta de 10,5%. As Federações de Indústrias de Santa Catarina e do Paraná não se manifestaram até o fechamento desta reportagem.
Com Agência Brasil
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