Como funciona um economista
Ciências aplicadas precisam ser submetidas a experimentos constantes para merecerem a denominação que levam. Sem a chancela prática dos vaticínios do saber, não há avanço. Vamos a um exemplo. Quando os princípios da ciência pura são publicados e elevam os patamares investigativos para muito além do convencional, laboratórios farmacêuticos partem céleres para o desenvolvimento de drogas. Estas, a seu turno, serão submetidas aos chamados testes clínicos. Em que consistem? Ministra-se uma dosagem do futuro medicamento a um universo de cobaias e monitoram-se os resultados. Em caso de sucesso, virá a segunda fase em que o mesmo teste será conduzido em humanos, se for este o caso. Até que, se tudo correr bem, haverá a homologação junto às agências regulatórias. O que começou, portanto, com pesquisa e inovação, ganhou a forma de um produto de prateleira com direito a patente.
Na economia, por outro lado, o campo de observação é mais caótico e pulverizado. Nem sempre é fácil isolarmos as variáveis para se verificar o peso que cada uma, individualmente, pode vir a ter no organismo social. Tal como acontece na farmacologia, não é raro que tenhamos fatores cruzados que mascaram sintomas e efeitos, ademais da tremenda colateralidade de resultados. Isso explica que, embora seja por muitos considerada uma ciência menor, como propugnou Albert Einstein, muitas são as variáveis econômicas submetidas ao imponderável, ao aleatório e ao volátil. Daí que os economistas acolhem com euforia qualquer caso que possa se prestar a uma experiência monitorada, com data de verificação aprazada em suas mais variadas etapas. Economistas amam estruturas de poder e se deleitam em interpretar pesquisas. Nessa ordem. Sem elas, não sobrevivem e perdem muito de sua serventia.
Foi essa alma científica que fez do banqueiro Paulo Guedes o fator indutor de algumas das mais recentes especulações eleitorais a que se presta o Brasil contemporâneo, um gigante sedento por heróis. Explico melhor. Foi a filha do grande economista, aparentemente tão brilhante quanto o pai, quem lhe apresentou cenários gerais do panorama político que vivemos. Conversa vai, conversa vem, resolveram aplicar uma formuleta àqueles dados e preferências e perguntar ao oráculo que candidato poderia suprir os brasileiros da tão sonhada liderança que buscamos. Aquela que reunisse credibilidade, caráter e competência, os três "cês" que tipificam o futuro campeão de todas as contendas. Como sabemos, o oráculo respondeu "Huck". Imagino então que Paulo Guedes tenha ligado para Luciano e daí começaram a conversar. As consequências imediatas, estas todos nós conhecemos bem.
Com a desistência de Huck dos voos políticos, pelo menos até segunda ordem, foi um curto passo até que Paulo assacasse da cartola outro coelho, este chamado Bolsonaro, que resolveu adotar como pupilo. Ora, um amigo, bastante experiente nas lides de poder, ainda apontou o patético da atitude do carioca quando assumiu que, efetivamente, estava iluminando a escuridão absoluta de Bolsonaro em temas econômicos. Mas rebati. Tutelar um case não significa que Paulo Guedes o prefira ou o apoie. O que ele fez, foi se deslocar até o olho do furacão para ter uma percepção mais clara do fenômeno. É o equivalente ao prazer que tem o jogador de futebol aposentado de brincar com a bola. Afinal, quem de nós não gosta de ser aprendiz de feiticeiro? E de testar nossas próprias fórmulas? Assim funcionam cientistas. E economistas também.
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