As incertezas sobre os juros e a política fiscal
O cenário econômico global começa a entrar em um momento mais promissor para investimentos de risco em geral, dado o início de corte de juros por parte do Fed (Banco Central dos Estados Unidos), com uma redução de 50 pontos e, potencialmente, continuando com cortes de 25 pontos para as próximas duas reuniões deste ano. O Fed justificou sua decisão apontando que, embora a economia continue em expansão, o mercado de trabalho está mais enfraquecido, apesar dos últimos dados. Além disso, acredita que a inflação, mesmo que ainda esteja acima da meta, deve convergir para o objetivo de 2%.
Com o início dos cortes americanos, bancos centrais dos países emergentes voltam a discutir reduções de juros, bem como bancos centrais dos países desenvolvidos, como o europeu, canadense e o inglês. Em termos de riscos, a maior incerteza vem das eleições americanas, que mostram um empate técnico entre os candidatos, mas nenhum deles apresentando soluções para as contas públicas, que vem registrando altos e crescentes déficits. Esse fator pode limitar a queda de juros, "estacionando" por volta dos 3% ao ano.
No mesmo dia que marcou o início da queda de juros nos Estados Unidos, o Banco Central do Brasil iniciou um ciclo de aumento. O mercado já esperava algum ajuste para cima, e o BC elevou a Selic em 0,25%, levando a taxa para 10,75% ao ano, com expectativa de um ciclo total de 150 pontos base, o que levaria a Selic a 12%. A inflação, que vinha convergindo para a meta puxada pela inflação de bens, mudou sua trajetória e traz novos desafios para o BC. Entre os principais fatores de risco para a inflação no Brasil, o Banco Central destacou o crescimento econômico ainda acelerado, o mercado de trabalho pressionado e a desvalorização cambial.
Outro ponto relevante no comunicado foi a necessidade de uma política fiscal crível, capaz de estabilizar a dívida pública e contribuir para a reancoragem das expectativas inflacionárias e a redução dos prêmios de risco dos ativos. A parte fiscal vem sendo um dos principais desafios do governo. Com o aumento dos gastos da União e a necessidade de discutir uma revisão das despesas obrigatórias, bem como novas fontes de receitas, é fundamental para que a dívida esteja sob controle.
Dada a atual dinâmica das contas públicas, as incertezas sobre a sustentabilidade do novo modelo fiscal, aprovado ano passado, têm influenciado diretamente nos prêmios de risco observados nas curvas de juros do país, bem como na taxa de câmbio e no perfil da dívida brasileira. Para reverter essa piora de expectativas, é essencial que as principais lideranças políticas sinalizem de forma clara o comprometimento com a sustentabilidade das contas. Precisamos de ações que controlem, preferencialmente, as despesas obrigatórias, para que tenhamos uma taxa de juros compatível com um crescimento sustentável da nossa economia, estimulando investimentos e a geração de emprego e renda.
*Economista, CEO da Bradesco Asset e ex-secretário do Tesouro Nacional. É painelista do 26º Seminário Econômico Família Prev.
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