...Pra quando o Carnaval chegar

Anton Karl Biedermann, nonagenário líder empresarial gaúcho, já disse que um dos segredos de sua saudável longevidade foi seguir um princípio alimentar aprendido quando criança: sempre sair da refeição com um pouco de fome. Deixar de desfrutar de todos os prazeres da mesa ajuda a disciplinar o corpo com menos comida e a evitar os excessos da gula.

Um grupo de norte-americanos parece adotar princípio semelhante, mas em outra seara, a das finanças. Não fazer valer todo o poder de compra que seus rendimentos permitiriam, enquanto estão na ativa, contribui para uma velhice economicamente mais tranquila, quem sabe trabalhando menos ou se aposentando em definitivo.

Daí que eles não dirijam carros do ano, adquiram roupas de segunda mão e optem por pratos congelados comprados no supermercado, em vez de alimentos frescos. Põem em prática o chamado subconsumo.

Curioso é que, no mesmo momento em que este 'movimento' vem à tona, uma pesquisa flagra que os atuais aposentados norte-americanos têm usufruído menos do patrimônio que amealharam, em função da inflação e do aumento da própria expectativa de vida. Suas retiradas da poupança são equivalentes à metade daquelas esperadas nessa fase, e empregos de meio período ou tempo integral têm voltado à pauta do público 65+.

Lidas em conjunto, ambas as notícias podem sugerir as virtudes da prudência – "veja o que aconteceu aos baby boomers, continue economizando!" – ou justificar o princípio YOLO – "de que adiantou se privarem, se o futuro é tão incerto?".Eis a magia das escolhas intertemporais: só se sabe a posteriori se foram adequadas.

Quando Tarso de Castro morreu, com menos de 50 anos, em função dos excessos etílicos, Otto Lara Resende sintetizou assim sua entrega aos prazeres mundanos e, por consequência, a assunção de riscos precoces: "A vida jogada fora, num gesto de desdém e de rebeldia. Mas onde está a vida dos que a depositaram na poupança?" (p. 166).

Dinheiro ou vida, qualquer um dos dois pode ser usado imediatamente ou guardado para depois. Cabe a cada um escolher.

Bom Carnaval.