Rumo ao “IIBGE”?

O leitor de jornais mais atento deve saber que o Censo do IBGE, previsto para 2020, tem sido alvo de polêmica. O motivo é a extensão do questionário a ser aplicado em cada domicílio visitado pelos recenseadores. Enquanto a direção do Instituto, a ped...
Rumo ao “IIBGE”?

O leitor de jornais mais atento deve saber que o Censo do IBGE, previsto para 2020, tem sido alvo de polêmica. O motivo é a extensão do questionário a ser aplicado em cada domicílio visitado pelos recenseadores. Enquanto a direção do Instituto, a pedido do Ministério da Economia, defende a redução do instrumento de coleta, a fim de simplificar o processo e torná-lo mais rápido e barato, técnicos e pesquisadores propugnam sua manutenção, uma vez que das informações coletadas no Censo dependem parte das políticas públicas dos próximos dez anos.

Quem tem razão nessa querela importa menos, aqui, do que um aspecto aparentemente secundário da atuação de institutos como o IBGE e tantos outros espalhados pelo mundo: a transição de realizadores de pesquisa para o de compiladores, analistas e disseminadores de informação – uma atividade que entre empresas privadas é chamada de “inteligência de mercado”.

Explico. Realizar pesquisas primárias, sejam elas demográficas ou mercadológicas, presume contato direto com respondentes, sejam eles pessoas ou empresas. Um processo demorado e caro, pois envolve elaborar questionários, obter informantes e contar com sua boa vontade para que atendam ou retornem com as informações solicitadas. Em um mundo em que pessoas e empresas despejam toneladas de dados on-line o tempo todo, é possível que parte do trabalho de correr atrás de respondentes possa ser substituído por modernas ferramentas de análise do chamado “big data”. Considerando que o próprio IBGE realiza diversas pesquisas periodicamente e tem acesso a registros de tantos órgãos oficiais como Receita Federal e ministérios, por exemplo, nem as tecnologias mais modernas são necessárias, por sinal – softwares de estatística de ampla utilização são capazes de compatibilizar bases de dados diferentes. 

Não por acaso já se estudam alternativas ao censo tradicional em outros países, e ex-presidentes do próprio IBGE tenham se manifestado afirmando que “a tendência que se observa internacionalmente é a de reduzir o tamanho dos questionários dos Censos (...) ao mesmo tempo em que se intensifica o uso de pesquisas amostrais, de registros administrativos e de análises de grandes agregados de informações produzidas por diversas fontes em tempo real (...). É nesse sentido que (...) o IBGE precisa evoluir, de uma agência organizada para a coleta detalhada de informações para uma instituição modernizada capaz de produzir, compatibilizar e fazer uso de dados das mais diversas fontes” (na íntegra aqui).

Em outras palavras, querem dizer que, tal qual o que ocorreu e vem ocorrendo em grandes empresas, o departamento de pesquisa tem de virar um centro de inteligência, cuja matéria-prima é a informação, mesmo que não obtida de forma primária. Mais um momento no qual o Poder Público corre atrás da iniciativa privada, com alguns anos de atraso – mas quem sabe a tempo de acrescentar ao nome do IBGE um novo “I”, o de “Inteligência”. 

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Quinta, 21 Novembro 2024

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