O mestre-sala "Capoeira"
Varlei Rocha Alves, 50 anos, o "Capoeira", é o autor da "ponte criativa" (reprodução) que o alçou à posição de mais querida das celebridades instantâneas brasileiras. Sob o aguaceiro que castigou o Rio de Janeiro no começo da semana, o Brasil e o mundo viram quando ele improvisou um caminho seguro sobre a água para que uma senhora pudesse chegar à outra calçada com os pés quase enxutos.
A cena é de grande beleza. Como se fosse um mestre-sala de escola de samba em plena avenida, Varlei estendeu a mão com elegância para que a senhora se apoiasse, minimizando o risco de um escorregão dos caixotes na água fria. Com paciência e foco na tarefa, uma missão a que se dava visivelmente por completo, eis um flanelinha que nos deu ver uma página de nobreza, de apelo universal.
O que mais me chocou, contudo, foi a reação da famigerada banda de "haters" da internet. Mal as imagens foram veiculadas, alguns já assacaram do embornal das amarguras os piores clichês: cenas de "Casa Grande e Senzala"; a volta da escravidão; um traço do Brasil colônia, e patacoadas afins. Disseram tudo de truncado e vicioso, mas falharam candentemente na interpretação do gesto em si.
Tive o privilégio de conviver com muitos "Capoeira". Amigos que fiz na infância, nas margens do rio Capibaribe, lá no Recife, e que me acompanhariam pela vida, sempre se mostraram capazes de gestos assim e de muito mais. Quem conhece nosso povo de verdade, não ficou nada surpreso com o gesto. Já quem o conhece só de livros e academia, pode sim ter tirado conclusões sinistras.
O lado bom da divulgação dessas imagens é que o caráter espontâneo e nada promocional do gesto calou fundo na sociedade. É como se resgatasse a esperança coletiva num país solidário. A ponto tal que Varlei virou uma espécie de unanimidade, o que lhe valerá a tão sonhada casa na Pavuna onde pretende viver com o filho. De agora em diante, parece que o céu é o limite.
Os tais "haters" devem estar com ódio com o fato de que o tiro tenha saído pela culatra e que a indústria do ódio ideológico não tenha prosperado na cola de um momento bonito de celebração da brasilidade. E, o que é pior de tudo para eles, que a vida do brioso Varlei tenha ficado melhor. Para eles, felicidade e grandeza não podem prevalecer sobre a raiva surda e comezinha.
Obrigado, Varlei.
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