Indicadores sugerem recuperação desigual da economia

Ata do Copom indica incerteza sobre ritmo de crescimento no fim de ano
Durante a reunião, o Copom avaliou que reduzir ainda mais a taxa básica de juros poderia gerar instabilidade nos preços de ativos

icaA economia brasileira apresenta recuperação desigual entre os setores, assim como ocorre em outros países, e ainda há incertezas sobre o ritmo de crescimento, principalmente a partir do fim de ano, quando deve terminar o efeito dos auxílios emergenciais pagos pelo governo. A avaliação é do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e consta da ata da última reunião.

"Os programas governamentais de recomposição de renda têm permitido uma retomada relativamente forte do consumo de bens duráveis e do investimento. Contudo, várias atividades do setor de serviços, sobretudo aquelas mais diretamente afetadas pelo distanciamento social, permanecem bastante deprimidas. Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica", destaca o Copom, ponderando que essa imprevisibilidade e os riscos associados à evolução da pandemia podem implicar a retomada ainda mais gradual da economia.

De acordo com o Comitê, no cenário internacional, a forte retomada em alguns setores produtivos parece sofrer alguma desaceleração, em parte devido à segunda onda de Covid-19 em algumas das principais economias. Apesar das incertezas desse cenário e da possível redução dos estímulos governamentais, "a moderação na volatilidade dos ativos financeiros segue resultando em um ambiente relativamente favorável para economias emergentes". Na última semana, o Copom manteve a taxa básica de juros da economia (Selic) em 2% ao ano, o menor nível desde o início da série histórica do BC, em 1986. A manutenção da Selic em baixa estimula a economia, pois juros menores barateiam o crédito e incentivam a produção e o consumo em um cenário de baixa atividade econômica.

Inflação
A Selic é o principal instrumento usado pelo BC para alcançar a meta de inflação. Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou em 0,64%, contra 0,24% em agosto. O IPCA acumulou taxas de inflação de 1,34% no ano e de 3,14% em 12 meses.

Na ata, o Copom ressalta que as últimas leituras de inflação ficaram acima do esperado, elevando a projeção para os meses restantes do ano. "Contribuem para essa revisão a continuidade da alta nos preços dos alimentos e de bens industriais, consequência da depreciação persistente do real, da elevação de preço das commodities [produtos primários com cotação em mercados internacionais, como grãos, por exemplo] e dos programas de transferência de renda. Por um lado, a normalização parcial dos preços ainda deprimidos deve continuar, em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade. Por outro lado, espera-se a reversão na elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados por redução provisória na oferta em conjunção com um aumento ocasional na demanda. Dessa forma, apesar de a pressão inflacionária ter sido mais forte que a esperada, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção", revela o documento.

Manutenção da Selic
Durante a reunião, o Copom avaliou que reduzir ainda mais a taxa básica de juros poderia gerar instabilidade nos preços de ativos. "Considerando o longo histórico da economia brasileira operando com a taxa básica de juros em nível muito elevado, os juros baixos sem precedentes podem comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos, com potencial impacto sobre a intermediação financeira", diz a ata. Assim, deve ser mantida a sinalização de que "o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno". Para o comitê, o atual estímulo com a Selic a 2% e "as diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se em níveis compatíveis com o cumprimento da meta para a inflação no horizonte relevante para a política monetária".

Por outro lado, o Copom reconheceu que "alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido". De acordo com a ata, a reavaliação seguiria "o receituário do regime de metas para a inflação, sendo baseada na avaliação da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos". O Copom ainda avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O comitê ressalta que os questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Com Agência Brasil

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Quinta, 21 Novembro 2024

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