Fernanda Gentil, a musa de Moscou
Quando aparece na tela com a igreja de São Basílio ao fundo, de imediato o Brasil sorri. Primeiro porque é sempre energizante flagrar aquele olhar vivaz, os cabelos bem escovados, a silhueta impecável e, mais do que tudo, o sorriso luminoso dessa apresentadora multitalentosa que é Fernanda Gentil. Transbordando bom humor, e dotada de uma presença de espírito que traduz o que de melhor pode ter o jeito carioca de ser, não há na televisão brasileira quem lhe chegue perto naquele tom bem dosado de informalidade e, até por isso, tão despojado de firulas. Adorável, ela parece não saber o que é sisudez ou sofrimento.
Neste país cindido e ressentido que é o Brasil, tão penhorado à labilidade de uma televisão em que novas faces estão sempre eclodindo no rastro do noticiário político, policial, econômico e esportivo (e acontece de estarem muitas vezes num só pacote), Fernandinha – como é chamada pelos colegas –, destaca-se numa seara um tanto ingrata para mulheres. Isso porque os cânones do futebol e a tirania da audiência masculina nem sempre foram benevolentes com uma jornalista imiscuída no clube do Bolinha, aquele que congrega o mais sagrado dos temas de rapazes: a competição crua e fratricida nas pistas, saibro, gramados e piscinas.
Pensando bem, talvez o que mais me agrade nela seja a capacidade que tem de fazer ironia de si mesma, especialmente de rir dos arroubos em que incorre quando migra do papel de apresentadora imparcial para o de torcedora engajada. Vê-se que por trás da informalidade, na verdade, há um lastro de imensa cumplicidade com as câmaras, um treinamento rigoroso para manter muitos pratos no ar mas também, decididamente, uma espontaneidade que não se aprende em escola alguma, por exímios que fossem os mestres. Lendo mais sobre ela, contudo, vi que nem tudo foi fácil, e que a xará não passou incólume pelos percalços da vida.
Um dos episódios amargos, talvez o mais midiatizado, disse respeito à sua sexualidade. Quando se descobriu atraída por uma mulher, assim descreveu a situação: "De início, eu me vi encantada pelo interior dela: o caráter, a integridade, os valores. Só depois me dei conta: putz, isso tudo veio numa carcaça de mulher". E aduziu: "Nem Jesus Cristo nem Neymar são unanimidades, quanto mais eu. Podem me chamar de sapatão, falar que estou feia que não ligo. Internet é terra de ninguém. Agora não critiquem meu caráter nem o cuidado que tenho com meus filhos, que são a prioridade máxima de minha vida". Legal, não é?
Sobre a namorada, se é que podemos chamar assim (tenho uma dificuldade de cognição intransponível de atribuir uma namorada a uma mulher e um namorado a um homem, mas ainda chegarei lá antes de morrer), Fernanda Gentil disse que a acha tão bonita que merecia sair vestida de burca. Depois riu da própria "boutade" – hora em que fica mais resplandescente –, e reconheceu que um homem que fizesse uma brincadeira ingênua dessas, seria fuzilado pelas plantonistas da ortodoxia. Quer saber? Viva como quiser, Fernandinha, as portas para você estarão sempre abertas.
Você é mesmo gente de primeira e tem toda a classe do mundo para ser como é, e viver com quem quiser. Além de tudo, sabe desfraldar como pouca gente a bandeira da competência e da alegria. Para muitos de nós, quando pensarmos em Moscou doravante, será sua imagem que virá à retina. Spasiba!
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