Acordo Mercosul e UE exigirá compensações para produtores nacionais de vinhos

Valdiney Ferreira (foto), professor do curso Mercado e Negócios do Vinho na Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro, afirma que o acordo entre Mercosul e União Europeia será vantajoso para o consumidor brasileiro de vinhos. Na opinião dele, uma vez...
Acordo Mercosul e UE exigirá compensações para produtores nacionais de vinhos

Valdiney Ferreira (foto), professor do curso Mercado e Negócios do Vinho na Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro, afirma que o acordo entre Mercosul e União Europeia será vantajoso para o consumidor brasileiro de vinhos. Na opinião dele, uma vez que a negociação tornará os produtos europeus mais acessíveis, também será preciso algum tipo de compensação para os produtores nacionais. No livro Vinho e mercado: fazendo negócios no Brasil, Ferreira reúne análises de líderes empresariais e especialistas desse mercado. A obra será lançada pela Editora FGV no dia 5 de agosto na capital fluminense, a partir das 17h30. O lançamento será feito depois do Seminário Vinho & Mercado 2019, parte da programação do Rio WineandFood Festival, no Centro Cultural FGV, na Praia de Botafogo, 186. No livro, um dos objetivos é responder a uma questão central: a produção brasileira pode suprir a demanda interna e até competir no cenário mundial ou seremos reconhecidos apenas como um grande importador de vinhos ainda por muito tempo? A seguir, Ferreira antecipa algumas das respostas ao Cepas & Cifras.  

A produção nacional tem condições de prevalecer no mercado interno e ser competitiva internacionalmente?
Do ponto de vista da qualidade, tem totais condições. O problema é que os vinhos brasileiros sofrem taxações superiores não apenas na comparação com os europeus, mas também em relação aos produtos similares do Mercosul. No ano passado, cerca de 45% dos vinhos importados pelo Brasil foram chilenos.

Como o acordo do Mercosul com a União Europeia vai afetar o mercado brasileiro?
Para o consumidor terá um impacto positivo, pois pode tornar os vinhos europeus muito mais acessíveis. Afinal, o imposto de importação de 27% será reduzido a zero. Pelo lado dos produtores brasileiros, será preciso algum tipo de compensação, pois o "Custo Brasil" ainda é muito alto. As tarifas pagas pelos produtos europeus chegarão a zero, em até 12 anos, então será preciso usar bem esse tempo para melhorar a competitividade da indústria do vinho do Brasil.

Há políticas públicas que atendam a essa necessidade?
Temos de esperar ainda para avaliar com mais propriedade o que será na prática o fundo de R$150 milhões que foi anunciado pelo Ministério da Agricultura. Em termos de comparação na União Europeia, os produtores têm um programa com recursos anuais de 1,1 bilhão de euros (cerca de R$ 5 bilhões). Houve e há iniciativas na área fiscal. O governo do Rio Grande do Sul, por exemplo, zerou o ICMS para operações dentro do Estado. Seria importante que outros estados que são grandes consumidores fizessem o mesmo. É possível e têm sido discutidas facilitações de IPI pelo Governo Federal. No entanto, mais do que medidas pontuais, é fundamental que tenhamos uma política definitiva para o setor. Portugal, por exemplo, é um país que tem dado incentivos importantes para a indústria de vinhos, o que muitas vezes não quer dizer dinheiro e, sim, facilitar a tomada de capital para financiamento da renovação de vinhedos ou pesquisa e tecnologia.

O senhor foi muito enfático ao responder que os vinhos nacionais são competitivos em termos de qualidade. Houve uma evolução nas últimas décadas?
Não diria evolução e, sim, revolução. Na década de 1990, com a abertura do mercado brasileiro, as multinacionais que operavam aqui decidiram sair do país. Com isso, perdemos empregos e investimentos. Ao mesmo tempo, ficou a mão de obra, extremamente qualificada, que passou a criar os próprios negócios. De lá para cá, houve um salto em termos de tecnologia, técnica, conhecimento e diversificação. Hoje se produz, de acordo com as características do local, em todo o Rio Grande do Sul; em Santa Catarina; e em Minas e São Paulo os vinhos de inverno; na Bahia e em Pernambuco, no Vale do São Francisco. Nossos vinhos conquistaram reconhecimento internacional.

Esse mercado, então, tem perspectivas de expansão?
Com certeza. Vale, inclusive, fazer uma ressalva. Os espumantes nacionais avançaram tanto que já conseguem ser competitivos até do ponto de vista do custo-benefício, dentro e fora do Brasil. Esse processo pode se aprofundar e se estender para os vinhos tranquilos (como são chamados os vinhos sem espuma), que têm reconhecimento, mas perdem pelo custo. Hoje o mercado de vinhos no Brasil movimenta em torno de R$ 14 bilhões com potencial para aumentar muito. 

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Sexta, 22 Novembro 2024

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