Vantagens dos carros elétricos ainda não chegaram aos financiamentos
As vendas de carros elétricos seguem em crescimento no Brasil. Neste ano em particular, o mercado está mais otimista com a chegada de novas marcas e a oferta de modelos mais em conta. Existe a expectativa de que também o mercado financeiro passe a olhar com mais atenção para esses veículos, a partir da oferta de condições de financiamento atraentes em relação ao motor a combustão – gasolina, etanol e diesel. Hoje, no entanto, as taxas para o financiamento de eletrificados não estão entre os principais atrativos desse tipo de motorização. O banco BV, por exemplo, atualmente oferece condições especiais apenas para motos elétricas.
A Fiat, com modelos elétricos no portfólio (500e, vendido por R$ 214.990, e o e-Scudo, que custa R$ 334.990), oferece aos clientes os mesmos juros cobrados nos modelos a combustão. Já o Itaú, desde 2019, conta com uma tabela de financiamento específica para veículos elétricos e híbridos. Segundo o banco, o objetivo é fomentar esse mercado. As taxas e prazos variam segundo perfil do cliente e o relacionamento com o banco. No caso do modelo a combustão, a taxa de juros é a partir de 1,28% ao mês. Para o elétrico e híbrido, é de 1,21% ao mês. Mas a expectativa é de que as condições de financiamento se tornem mais atraentes para quem quer ter um modelo eletrificado na garagem.
Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), diz já perceber um aumento de interesse das instituições financeiras por esse tipo de motorização. Tanto que, segundo o representante do setor, no último mês ele foi visitar três bancos interessados em saber mais sobre o mercado e as perspectivas. "Hoje ainda há poucas opções para quem procura condições facilitadas, em parte porque há poucos muita marca nova chegando e porque esse ainda é um segmento novo, em crescimento", explica Bastos. No entanto, o presidente da ABVE acredita que o volume atingido agora pelo mercado e a perspectiva de seguir em crescimento, aliados ao fato de serem veículos com emissão zero de poluentes e que usam fontes de energia renovável, podem atrair os bancos não só pelo volume potencial de negócios, mas pela pauta ESG – o conhecido tripé ambiental, social e de governança que tem pautado o setor financeiro e as grandes empresas.
Com o crescimento visto até agora, o mercado começa a chamar a atenção também do agente financeiro. "Tenho certeza de que os bancos vão acompanhar de perto a mudança de comportamento dos consumidores e o valor que podem gerar para o negócio ao facilitar o financiamento desses veículos", assegura Bastos. De uma forma geral, os carros eletrificados apresentam como vantagens o menor gasto com combustível (baixo custo de recarga), manutenção mais em conta, redução de ruído e emissão zero de poluentes (dependendo da fonte usada para a produção de energia elétrica). Os números do mercado mostram também uma menor desvalorização na comparação com modelos a combustão. No entanto, o custo de aquisição do carro eletrificado ainda é alto. Os modelos compactos mais em conta estão na faixa entre R$ 115 mil e R$ 120 mil. Já os intermediários, que transportam de quatro a cinco pessoas e têm espaço para bagagem, não saem por menos de R$ 150 mil.
De janeiro a junho deste ano, 32.239 veículos leves eletrificados foram emplacados no país (incluindo automóveis, comerciais leves e utilitários), um crescimento de 58% em relação ao primeiro semestre de 2022. Ainda segundo a ABVE, é possível esperar que o mercado chegue a 75 mil emplacamentos até dezembro. O otimismo se confirma, por exemplo, com o lançamento recente feito pela BYD. Depois da apresentação de um cupê esportivo 100% elétrico, que custa R$ 296.800, a montadora chinesa vendeu 70 veículos em um único dia. Raphael Galante, da Oikonomia Consultoria Automotiva, no entanto, não acredita que as facilidades no financiamento para carros eletrificados provocarão um grande impacto.
O especialista lembra que apenas cerca de 37% dos carros novos são financiados. O restante é pago à vista ou com o uso do carro usado como parte do pagamento. Além disso, reforça Galante, os carros eletrificados ainda custam caro. "Teoricamente, quem vai comprá-lo não precisa se socorrer no financiamento. O financiamento é um fator mais sensível nas classes de menor poder aquisitivo, não para quem vai comprar um carro de R$ 200 mil e já tem uma linha de crédito diferenciada junto ao seu banco", pontua o consultor. Já Bastos, da ABVE, crê que justamente pelo fato de os preços dos carros eletrificados ainda serem elevados é que os financiamentos mais atraentes podem ajudar a aumentar o acesso. "O gargalo é o investimento inicial para a compra, por isso o financiamento é importante", avalia. O setor de seguros parece já dar sinais de interesse pelo segmento. Recentemente, a Bradesco Seguros lançou a cobertura de seguro automotivo para carros elétricos com valores de até R$ 800 mil.
Com Redação da B3
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